... e mostrar uma completa falta de consideração e de respeito por quem a quis fazer com a melhor das intenções.
Chego à conclusão que as boas intenções não chegam, e que a bondade não compensa, porque ninguém dá valor a isso.
Desde o início do mês que tivemos a ideia de fazer uma surpresa a um amigo da Inês. Há bastante tempo que não estavam juntos e, como os convites que fizemos aos pais para cá virem ter connosco, ou foram recusados com desculpas esfarrapadas ou, simplesmente, ignorados, sem direito a qualquer resposta, achámos que o rapaz iria gostar da surpresa.
Era o único fim de semana de folga do meu marido, a Inês não tinha que estudar para testes, e o rapaz tinha feito anos esta semana, pelo que, para além da prenda, levámos um bolo e espumante das crianças.
A ideia era aparecermos lá de surpresa, pelo que averiguámos, disfarçadamente, se iria estar por casa.
Tinha tudo para dar certo, para proporcionar um momento feliz e uma tarde divertida.
Mas foi um completo fiasco.
Chegámos, ligámos para o amigo dela, e não atendeu. Ligámos duas, três, quatro vezes. Nada. Ligámos para o pai dele. Várias vezes. Não atendeu.
A Inês enviou então mensagem para o rapaz para ele atender o telemóvel. Respondeu-lhe que não podia, que não conseguia falar por estar doente.
Dissemos para o pai ligar, então. O pai manda uma mensagem a dizer que já liga, para esperarmos um pouco, que está a fazer uma coisa.
A "coisa", disse-nos depois, era esperar que o telemóvel carregasse, porque não gosta de falar com o telemóvel em carga.
E nós, no carro, à espera.
A Inês enviou nova mensagem para o amigo a dizer que estávamos à porta, para lhe fazer uma surpresa. Nunca mais lhe respondeu.
Entretanto, o pai lá nos liga, e explicamos o que se passa.
Pergunta, com aquele tom de quem não queria muito, ou mesmo nada "mas querem subir?".
Respondi-lhe que não queríamos estar a ir lá a casa sem mais nem menos, a incomodar, e que tínhamos pensado ir até ao shopping lá perto, por ser abrigado, mas que ele visse como lhes dava mais jeito. Disse que ia falar com o filho, e já dizia alguma coisa, porque o filho estava deitado, doente. Desde que chegámos, já tinha passado quase meia hora.
Dali a pouco liga de novo, a dizer que era melhor ficar para o próximo fim de semana!
Aí, passei-me mesmo.
A sério?! Pego no bolo que comprámos, e guardo-o até ao próximo fim de semana?
Parece que estão a gozar connosco.
Fomos ali de propósito, gastámos dinheiro em gasolina e nas coisas, e estavam-nos a mandar para trás, e voltar no fim
de semana seguinte. Isso tem algum cabimento?
Disse-lhe que não fazia sentido nenhum e que, se ele pudesse pelo menos ir à porta, que lhe entregávamos a prenda e com o resto haveríamos de fazer alguma coisa.
Recebeu-nos do lado de fora do prédio. Em nenhum momento nos sugeriu que, pelo menos, subissemos, ou sequer entrassemos no prédio, para não estarmos a falar ali na rua ao frio.
Desculpou-se que também não tínhamos dito nada. Se era surpresa, não era para dizer nada.
E que era melhor ficar para o próximo sábado. Respondi-lhe que no próximo sábado não podíamos, porque o André ia trabalhar. Mas nem sequer disseram "vamos lá nós". Não. Nós é que tínhamos que ir lá novamente.
Somos sempre nós que temos que ir. É preciso muita lata!
A Inês entregou a prenda do amigo e virou costas ao pai.
E ele, mais uma vez com a maior lata, perguntou "ela está chateada?".
"O que é que acha? Ponha-se lá no lugar dela e no nosso lugar."
O meu marido ainda disse: ele queixava-se que a Inês não lhe falava muito, agora não se admire se ela nem sequer lhe falar.
Sinceramente, não percebemos se são os pais que não nos querem lá, e não deixaram o filho dizer nada.
O rapaz depois por mensagem disse que queria ver a Inês, mas estava mesmo mal, que nem se conseguia levantar.
Mas, por muito doente que estivesse, querendo estar com a Inês, como dizia que queria, e não a vendo há tanto tempo, não quereria vê-la nem que fosse 5 minutos? Não gostaria que ela estivesse com ele mesmo estando doente? E porque é que estava a enviar mensagens e deixou de lhe responder?
Mas a atitude do pai é que ainda me está aqui atravessada, que falta de consideração e de respeito. Qualquer outra pessoa no lugar deles teria dito para entrarmos, nem que fosse só por uns instantes, para não termos ido em vão.
Comigo, nunca mais.
Se tiverem interesse, que se mexam e venham até cá.
Nós é que não pomos lá mais os pés, para ser tratados assim e fazer figura de parvos.
Somos nós que estamos a exagerar, e isto foi uma atitude normal, ou temos razões de sobra para estarmos chateados?