Há uns tempos, disse que não sabia se tinha mais receio de ser contagiada pelo vírus, ou pelo histerismo que me rodeava.
Mantenho a mesma ideia.
Se não me assusta o vírus? Claro que sim!
Mas assustam-me mais comportamentos extremos, tanto daqueles que se preocupam demais e pensam que o mundo está prestes a acabar, como daqueles que acham que o vírus só veio cá passar a Páscoa, e até é fixe conviver com ele.
Assusta-me quem, em nome das medidas preventivas, usa e abusa do álcool até ficar com as mãos em carne viva. Tal como me assusta quem nem sequer pensa em lavar as mãos.
Assusta-me quem se quer fechar e isolar de tudo e todos, ainda que não esteja em risco, tal como quem ignora os avisos para evitar espaços públicos e grandes aglomerados de pessoas.
Assusta-me quem deixe tudo para mais tarde e ignore as eventuais consequências de uma infecção pelo vírus, tal como quem associa, automaticamente, o vírus a morte certa.
Assusta-me quem peca por falta de prevenção, como pelo excesso, como aqueles que andam por aí a açabarcar e esvaziar os hipermercados, não vão ter que ficar vários meses em casa.
Assusta-me que, de um momento para o outro, se feche e pare tudo, tal como me assusta que se deixe andar tudo normalmente, como se nenhum vírus andasse por aqui.
Vejo muita gente preocupada em ser contagiada, mas poucas a tentar evitar o contágio.
Vejo as entidades competentes e responsáveis quererem evitar a propagação do vírus, com medidas que em nada contribuem para esse fim, agindo de acordo com aquele velho ditado "Depois da casa roubada, trancas a porta!".
Vejo exigir, a uns, quarentena profilática e, a outros, permitir o livre trânsito, sem qualquer rastreio.
No outro dia, perguntaram-me? Não tens receio pela tua filha?
Claro que sim. Mas não vou deixar esse receio a limite, enquanto ela puder viver com o mínimo de normalidade.
E, tal como referi, não considerava o fecho das escolas uma boa medida, neste momento, como acabou por se comprovar ontem quando vimos alunos, sem aulas, a aproveitar o dia de sol, nas praias portuguesas.
No meu dia a dia:
Não utilizo transportes públicos, pelo que, por aí, não há perigo.
Mas tenho, por vezes, que me deslocar a serviços públicos, a trabalho, seja correios, conservatórias, finanças, onde se desloca um grande número de pessoas, das mais diversas proveniências, e concentradas num pequeno espaço.
Por outro lado, também vem muita gente aqui onde trabalho, por vezes, regressada de outros países. Ou que trabalham, também elas, em espaços públicos, ou locais de risco de contágio, como hospitais.
E vivo numa vila que recebe, dirariamente, turistas de várias nacionalidades
Ainda assim, mantenho-me serena, dada a situação, e dentro dos possíveis.
Não vou deixar de trabalhar, enquanto isso me for permitido. Não vou deixar de andar na rua, enquanto não houver ordem em contrário.
Acredito que, o que tiver que ser, será.
Não facilito, mas também sei que, muitas vezes, protegemo-nos tanto, de todas as formas e mais alguma e, depois, sem saber como, acaba mesmo por nos calhar aquilo que tentámos evitar.
Porque nem sempre conseguimos proteger todas as frentes e, enquanto estamos focados numas, outras podem ser fintadas.
Por isso, como em tudo na vida, haja precaução e prevenção, sim! Mas haja bom senso, também!
E, apesar de tudo o que nos é atirado para cima, seja das redes sociais, seja da comunicação social, alguma calma.
Até porque o stress pode afectar o sistema imunitário, e elevar ainda mais o risco de infecção.