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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Mentiras que se contam

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Ah e tal, o pensamento positivo atrai coisas positivas.

Ah e tal, fé e confiança são meio caminho andado para coisas boas acontecerem.

Ah e tal, isto e aquilo dão sorte.

Pois...

Mentiras que se contam!

 

Naquele dia, nada resultou.

Nem positivismo. Nem fé. Nem confiança.

Nem rezas. Nem rituais. Nem torcidas.

Nem amuletos da sorte. Nem mantras.

 

Naquele dia, o Universo estava, simplesmente, do contra.

Aliás, os sinais já tinham começado na véspera.

E continuaram ao longo daquele dia, até ao momento da verdade.

Que, obviamente, correu mal.

 

Naquele dia, a sorte não esteve do seu lado.

Ah e tal, foi como tinha de ser.

Da próxima vez será melhor.

Estava destinado.

Pois...

Mais mentiras que se contam!

 

A culpa foi do imprevisto do dia anterior.

Ou do tempo, que decidiu chover.

Ou do trânsito, que complicou.

Ou do dia que escolheu.

Ou da hora em que saiu à rua.

 

Foi de si.

Foi dos outros.

Foi de tudo. 

Mas, no fim, porque não, mais uma mentira: a culpa foi da banana!

 

Seguir em frente

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É das coisas que mais nos dizem: que devemos seguir em frente.

A verdade é que a vida segue. E nós seguimos.

O que assusta, é a facilidade e a naturalidade com que, por vezes, o fazemos.

Sim, é o que é suposto. E sim, é o que quereriam que fizéssemos.

Seguir em frente e continuar a viver, já que ainda temos esse privilégio, é um sinal de que estamos bem.

Que não ficámos parados no tempo, nas situações e nas circunstâncias. 

É sinal que ultrapassámos a dor e a tristeza, e aceitámos os acontecimentos.

Como li algures: "a fase do luto termina quando a dor e a tristeza dão lugar às boas memórias".

 

Vai fazer quatro anos que a minha mãe morreu. 

Fez cinco meses que o meu pai se foi.

E, no dia a dia, quase nem me lembro disso.

Parece que já foi há muito mais tempo.

Como é que nos acostumamos tão facilmente à ausência das pessoas que faziam, diariamente, parte da nossa vida?

 

Mas, depois, ouvi esta frase e fez todo o sentido: 

"A dor nunca te atinge de frente. É circular. Atinge-nos quando menos esperamos."

E é isso!

Do nada, sem que estejamos à espera, as mais pequenas coisas despoletam memórias. Despertam sentimentos.

Recordam-nos que não é uma questão de nos termos habituado à ausência, como se há muito não fizessem parte da nossa vida.

Não é uma questão de as estarmos a esquecer.

É apenas algo natural. É a nossa mente a dizer-nos que não podemos estar em estado permanente de dor e tristeza e, por isso, nos faz seguir em frente, distraindo-nos todos os dias.

É a dor a andar ali em círculos, à nossa volta, sem nos darmos conta.

 

E, depois, sem nos apercebermos, ela atinge-nos.

Só para nos mostrar que não se foi de vez. 

Mas que não pode estar ali permanentemente.

Porque também temos coisas boas para viver.

E não devemos sentir qualquer culpa por isso.

 

Falso moralismo

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Irritam-me, profundamente, aquelas pessoas que criticam, nos outros, aquilo que elas próprias fazem.

Como quem procura, desesperadamente, nos outros, algo que possam usar contra eles mas, no fundo, o que encontram, é apenas o seu próprio exemplo reflectido.

Como um espelho.

Como um boomerang que atiram aos outros, mas que volta sempre para si mesmas.

 

Irritam-me aquelas pessoas que, em vez de assumirem os seus erros, tentam fazer-se passar por vítimas, colocando a culpa de tudo nos outros, exonerando-se totalmente da mesma.

Como se não tivessem, muitas vezes, sido as causadoras das situações.

Ou não tivessem contribuído para tal.

Como se fossem absolutamente inocentes.

 

Irritam-me aquelas pessoas que, no que a si mesmas, e àquilo que fazem, diz respeito, tentam desvalorizar a relevância que, ao mesmo tempo, e na mesma proporção, e idênticas circunstâncias e situações, fazem questão de sobrevalorizar nos outros. 

Como quem usa, no seu dia a dia, e na sua vida, a regra "dois pesos e duas medidas", conforme se trata de si, ou dos outros. E, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, insistem, em circunstâncias e situações distintas, em querer comparar o incomparável.

 

No fundo, irrita-me o falso moralismo das pessoas que, se pensassem um bocadinho antes de abrir a boca, perceberiam que o melhor a fazer era estarem caladinhas.

Porque, já diz o ditado: "Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho."

 

Adolescência

a série de que todos falam

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Acho que posso afirmar, sem andar longe da verdade, que esta é a série do momento!

Aquela de que todos falam, que todos comentam, sobre a qual todos têm algo a dizer.

E, opinião quase unânime, uma excelente série.

Que todos deveriam ver: pais, filhos, alunos, professores.

E que até chegou ao parlamento britânico, reacendendo o debate acerca da influência, nos jovens, das redes sociais.

 

Quanto a mim, digo-vos que comecei a ver a série e, a meio do segundo episódio, desisti!

Não estava a cativar nada, não me estava a passar mensagem nenhuma. Em bom português "uma grande seca". 

Qualquer coisa era bem vinda, e me distraía daquilo que estava a fazer um esforço para ver.

 

Não sei se por, no fundo, nada daquilo ser uma novidade para mim.

Oiço muitas pessoas dizerem que é um choque de realidade, um soco no estômago.

Mas, a verdade, é que vemos situações do género a toda a hora. Cada vez mais adolescentes perdidos, influenciados de forma negativa pelas redes sociais, vítimas de bullying, da crueldade dos seus pares.

E sim, como se costuma dizer, até "no melhor pano cai a nódoa".

Os pais fazem o melhor que podem (os que fazem) com aquilo que têm. Também a sua vida não lhes permite, mna maioria das vezes, um maior acompanhamento dos filhos. E, ainda que assim fosse, não podem controlá-los a todo o instante. Saber o que lhes vai na cabeça. Prever as suas acções.

Claro que, quando há cumplicidade, diálogo, compreensão, abertura e disponibilidade, tudo pode ser diferente. Mas não é uma garantia absoluta. 

E, também, nas melhores famílias, pode acontecer aquilo que nunca, ninguém, pensaria.

Por outro lado, os pais podem exercer, eles próprios, mesmo sem o saberem, uma influência negativa nos filhos. Seja pela exigência em relação a eles, e eles, pelo receio de desapontar, ou envergonhar.

Todas as fases são complicadas, e a adolescência não é excepção. Aliás, incidentes, crimes, começam a ser cada vez mais frequentes até na infância.

Portanto, como dizia, nada isto é surpresa ou novidade.

 

Mas, como sou teimosa, e porque queria ver aquela que, para mim, é uma das cenas mais bem conseguidas da série - a conversa de Jamie com a psicóloga - recomecei a ver, de onde tinha parado.

A série começa a melhorar para o final do segundo episódio, o que ajudou a terminar de vê-la (até porque são só 4 episódios).

 

E só vos digo: uma vénia para a interpretação de Owen Cooper e Erin Doherty!

Sobretudo, para Owen que, com apenas treze anos, fez um trabalho fenomenal no seu primeiro papel, na sua primeira cena gravada.

 

Quanto à história em si, Jamie é um rapaz de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, esfaqueando-a até à morte.

Não percebi o porquê de todo aquele aparato policial para deter o rapaz, como se se tratasse de um bandido extremamente perigoso, de um qualquer cartel de droga, ou algo semelhante. 

Sim, é um assassino. Mas também é apenas um jovem. Que estava em casa, com a sua família. Assustado.

 

Por outro lado, é fácil perceber a "culpa" que, um acontecimento como este, gera em todos ao redor.

Nomeadamente, no Inspector Bascombe que, de repente, perante tudo o que presencia na escola, decide aproximar-se do seu enteado, tentando estar mais presente, percebê-lo melhor.

É um começo, sim. É positivo.

Mas não é isso que o vai levar, de uma hora para a outra, a tornar-se o melhor amigo, o confidente. Não é de um momento para o outro que vai conseguir perceber toda a complexidade dos jovens, dos seus problemas, das suas interações, dos seus receios, das suas dinâmicas, e do que os leva a cometerem determinados actos.

 

Posto isto, pode-se dizer que "Adolescência" é mais um alerta, mais uma chamada de atenção, mais uma oportunidade de reflectirmos sobre aquilo em que o mundo se está a transformar.

Nos jovens que estamos a criar, a educar, nesse mesmo mundo louco. Em toda a rede de suporte e apoio (ou falta dela) que os (e nos) empurra para determinados caminhos.

Mas, como digo, não é a única.

 

A culpa?

Essa pode ser de todos, em geral. E não é de ninguém, em particular.

No fundo, morre solteira.

É a dura realidade dos nossos dias, reflectida, mais uma vez, no ecrã e na ficção.

 

 

 

 

 

Quando deixar os filhos sair à noite com os amigos?

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Acredito que todos os pais ficam assustados quando começam a ver os filhos a ganhar asas, e a querer voar.

É certo que, consoante a idade, a etapa em que se encontram, e a confiança que depositam neles, lhes vai sendo dada mais alguma liberdade.

Mas...

Qual a medida certa dessa liberdade?

 

De repente, os nossos filhos querem sair com os amigos.

Primeiro, durante o dia.

Eventualmente, dormir em casa deles.

Depois, o pânico, quando nos pedem para sair à noite, sem adultos a tomar conta, mas apenas para ir levar ou buscar.

E, então, pensamos:

"Quando deixar os filhos sair à noite com os amigos?"

 

Pois...

Não é que não tenhamos confiança neles.

Ou nos amigos.

Não é que não saibamos que eles gostam de se divertir, e que não mereçam sair.

Não é que os queiramos prender ou enjaular em casa.

 

O que temos, é receio desse mundo louco em que vivemos, em que todos os dias nos chegam as piores notícias.

O receio de que algo de mal lhes aconteça.

E, depois, a culpa por termos permitido que tal acontecesse.

É legítimo. Mal seria se os pais não o sentissem.

 

O que não pode acontecer, por muito que nos custe, é deixar que os nossos receios (fundamentados ou imaginários) e inseguranças limitem a vida dos nossos filhos.

Que os impeçam de viver e experienciar aquilo que, na idade deles, ou mais novos, também vivemos, e experimentámos.

 

É certo que os tempos são outros, os perigos são maiores, e não queremos facilitar.

É certo que há saídas mais "controladas e seguras" que outras.

Mas, algum dia, teremos que os deixar sair.

 

Quando?

Cabe aos pais perceber, e dar esse voto de confiança, guardando para si todos os receios, estabelecendo regras básicas, e acreditando que tudo irá correr bem.

 

Claro que, da teoria à prática, e do pensamento racional, ao emocional, vai uma longa distância!