E, fez estragos! Tal como a lava, que vai queimando, e transformando em cinza, tudo à sua volta.
Primeiro começaram a sair pedras, gás e cinza. Em seguida, surgiu a lava.
Sabemos que a erupção de um vulcão é imprevisível, e pode causar diversos danos. Esta não foi excepção!
Tinha finalmente chegado o fim-de-semana, íamos voltar a estar juntos e matar saudades. Estávamos ambos a precisar desses momentos.
Mas nem sempre tudo corre como nós desejamos ou como imaginamos.
Este fim-de-semana foi passado entre a organização da papelada para o IRS, compras do mês, roupa e cozinha. É sabido que gosto de ser eu a tratar das coisas lá em casa e, por isso mesmo, não me importo se ele ficar mais algum tempo a dormir, ou se se entreter a ver televisão ou outra coisa qualquer, enquanto eu me despacho.
Naquela tarde, estava eu então a arrumar a cozinha, enquanto a minha filha e ele estavam na sala. Ela queria que ele a visse a pintar, ele queria esticar a perna porque se tinha lesionado na corrida da manhã. Ela implica com ele, ele não está com paciência e vai deitar-se na cama. Ela vai atrás dele e torna a acontecer o mesmo. Às tantas, ela vai para o quarto dela a chorar, porque ele não queria brincar com ela, só queria estar deitado.
E aí deu-se a minha erupção! Disse coisas que não devia, mas naquela altura estava realmente irritada. É que se eu não estivesse na cozinha, eu brincava com ela, mas como não podia, ao menos que estivesse ele ali um bocadinho com ela. Estava cansado e com dores? Também eu!
Também eu estava farta de trabalhar, estava cansada, estava sem paciência.
E ele, que queria tanto aproveitar para estar com ela, dali a pouco ia embora e não brincavam nada.
A verdade é que ele não tem obrigação nenhuma de brincar com ela ou aturá-la porque não é o pai. Mas também é verdade que ele lhe dá mais atenção e brinca mais com ela do que o próprio pai. Daí, talvez, ela lhe exigir mais. Portanto, fui injusta.
Mas saltou-me a tampa porque os dias anteriores não tinham sido fáceis para nenhum de nós, estava farta de trabalhar e não poder descansar como queria, enquanto ele ficou deitado até mais tarde, foi participar numa corrida porque quis, e passou bastante tempo sentadinho no sofá ou entretido a ouvir rádio. E não o critico por isso. Volto a dizer, prefiro assim. Mas pelo menos não me diga que está cansado!
Trabalha de noite? Eu trabalho de dia. Dorme pouco? Eu também durmo. A diferença não é assim tão grande.
É o feitio dele, eu sei. Já o conheço. E provavelmente estava mesmo cansado. Só que ele pode fazer aquilo que eu não posso. Talvez a minha irritação fosse frustração. Também eu queria poder esticar-me só um pouquinho, descansar um bocadinho...
Também eu queria poder não ter responsabilidades nenhumas nem que fosse por breves momentos. Mas não posso, nem quero. Tenho responsabilidades e sei que só quando as cumpro me sinto bem comigo mesma. É um pouco antagónico, mas eu sou assim!