Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Desafio de Escrita do Triptofano #12

Os arqui-inimigos

thumbnail_Desafio de Escrita do Triptofano.jpg 

 

Ao se deparar com o novo membro da família, o gato Papoilo faz um escândalo!

Gato Papoilo: - Estrunfina! Está um monstro na nossa sala! Está a olhar para mim com um olhar assassino!

Estrunfina: - Não é um monstro, Papoilo! É um peixe. Não me digas que estás com medo dele? Um gatão desse tamanho, com medo de um peixinho?!

Gato Papoilo: Prometes que ele vai ficar sempre ali dentro?

Estrunfina: Claro! É um peixe. Tem que estar dentro do aquário. 

Gato Papoilo: Que vida triste... Anos e anos aí dentro. Não sei o que vocês veem nestes peixes. Não falam. Nem sequer dá para brincar com eles.

Estrunfina: Mas podes brincar com ele!

Gato Papoilo: A sério?! Boa! Posso atirar o aquário ao chão para fazer de bola, e correr atrás dele!

Estrunfina: Papoilo! Estás doido? Se atirares o aquário ao chão, ele parte-se, a água entorna e o peixe morre.

Gato Papoilo: Ora bolas. Isso não. Não quero molhar-me. E ainda espetava algum vidro na minha pata.

Estrunfina: Vais ver que ainda vão ser grandes amigos.

Gato Papoilo: Olha, se somos amigos, posso dar-lhe um abraço, certo? 

Estrunfina: Hum... e como é que vais fazer isso? Acabaste de dizer que não te querias molhar!

Gato Papoilo: Podias tirá-lo só uns segundos, e depois voltavas a pô-lo lá.

Estrunfina: Não pode ser, Papoilo. Já te disse que se o tirar da água, ele morre. E não queremos isso, pois não?

Gato Papoilo (falando entre dentes): Fala por ti, que eu cá não faço questão que ele viva. 

 

Ao fim de alguns minutos, Estrunfina vê Papoilo fazendo gestos estranhos em frente ao aquário.

Estrunfina: O que estás a fazer?

Gato Papoilo: Estou a tentar adivinhar o futuro. 

Estrunfina: Ai sim?! Não me digas que o aquário virou bola de cristal?!

Gato Papoilo: Não acreditas?! Ora escuta: vejo aqui um futuro muito auspicioso para o Boleta.

Estrunfina: A sério?! E mais?

Gato Papoilo: Hum... parece que ele vai viver uma grande aventura, fazer uma viagem inesquecível e estreitar laços com os seus familiares mais chegados.

Estrunfina: E sobre mim, consegues ver alguma coisa?

Gato Papoilo (fazendo mais uns gestos, e uns sons): A bola mostra que vem aí um período mais conturbado, mas depois da tempestade, tudo voltará ao normal.

Estrunfina: Isso é que é pior. Então e tu?

Gato Papoilo: Eu? Ora bem... Parece que vou ter um presente especial nesta Páscoa!

 

E dizendo isto, Papoilo, que já tinha percebido qual a melhor forma de eliminar o seu inimigo, atirou o aquário ao chão, achando que valia a pena arriscar uma molha em troca do petisco, pegou no peixe com a boca e fugiu para debaixo da cama de Estrunfina, saboreando o Boleta, enquanto Estrunfina ralhava com ele e varria os cacos, recriminando-o por tal atitude para com o peixe.

 

Horas mais tarde, Papoilo tentando seduzir Estrunfina com turrinhas, e mostrando-se muito arrependido, para que esta o perdoe...

Gato Papoilo: É que ele estava tão bonito, tão gordinho, era impossível resistir!

Estrunfina: Ah, Papoilo! Tu não tens emenda!

Gato Papoilo: Se quiseres, eu posso compensar-te. Amanhã mesmo trago-te um rato. Ou um pássaro!

Estrunfina (fazendo cara de nojo): Credo, Papoilo. Não é preciso. Vá, esquece lá isso.

Gato Papoilo: Então, e estás a pensar trazer mais algum membro para a família brevemente?

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Ana D.

Maria Araújo

Bruno

 

 

 

Desafio de Escrita do Triptofano #11

Fugir à normalidade

thumbnail_Desafio de Escrita do Triptofano.jpg 

 

A caminho de uma gala solidária

 

Anacleta: Pablito, não queres fazer um desviozinho?

Pablo: Não posso, menina. Tenho instruções para a levar, sem demoras, à gala de beneficência.

Anacleta: Chato! Não te cansas de fazer sempre o mesmo? De ser assim tão certinho?  

Pablo: É o meu trabalho, menina. Se não o fizer bem feito, sou despedido. E se for despedido, não tenho como sustentar a minha família.

Anacleta: Podias sempre arranjar outro trabalho, mais divertido! Isto é uma seca. Sempre a mesma rotina, sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas malditas regras. Cada dia igual ao anterior. Não há nada pelo qual anseies. Que te faça querer viver. Olha para estes soldados! Todos iguais. Todos alinhadinhos. Que falta de personalidade!

Pablo: Não diga isso, menina. É apenas sentido de dever, e respeito para consigo e para com a sua família.

Anacleta: Tretas! Vá lá, Pablito. Vamos fugir um pouco à normalidade. Só hoje.

Pablo: A menina é teimosa! Não lhe expliquei já...

 

E parou de falar, ao ver que Anacleta já tinha tirado as roupas de cerimónia, e estava agora com uma t-shirt, calças e ténis.

 

Pablo: Mas o que é isso, menina?!

Anacleta (dando umas tesouradas na farda de Pablo): Isto?! Isto é a nossa desculpa perfeita! Agora que não estamos apresentáveis, podemos faltar à gala, e ir onde quisermos.

Pablo: A menina sabe os problemas que me está a arranjar? A mim, e a si! Ou acha que os seus paizinhos vão ficar contentes consigo?

Anacleta: Quero lá saber. Também já tiveram a minha idade! E, se calhar, também já quebraram as regras. Descontrai, Pablito. Vais ver que vais gostar!

 

Depois de umas horas a satisfazer os caprichos de Anacleta, Pablo dá-lhe a entender que está na hora de regressarem, e enfrentarem as consequências daquele acto de rebeldia.

E lá voltam, Pablo receoso, e Anacleta cansada e pensativa, a caminho de casa.

 

Às tantas, diz Anacleta: Sabes, Pablito, não percebo porque é que as pessoas são todas tão diferentes onde estivemos.

Pablo: Então, menina? Ainda há pouco se queixava de tudo ser sempre igual. 

Anacleta: Eu sei, Pablito. Mas é que se tudo for diferente, não nos encaixamos em nada. Sentimos que não pertencemos a nada.

Pablo: Mas não era isso que a menina queria? Ser alguém diferente?

Anacleta: Sabes que mais? Acho que afinal, até gosto da minha normalidade. É bom estar de volta.

Pablo (pensando para com os seus botões): Pelo menos ganhou juízo.  Sempre serviu para alguma coisa.

 

Anacleta (ao fim de uns instantes, como que lendo o pensamento de Pablo): Mas sabes que, mais dia, menos dia, vamos fazer outra escapadinha! Sabes porquê?

Pablo: Não faço ideia, menina.

Anacleta: Porque é a única forma de nos relembrar daquilo que temos, daquilo que somos, e do quão gratos devemos estar. De nos relembrar de que nem tudo é sempre bom, mas também nem tudo é sempre mau. De querer voltar para onde, antes, queríamos sair. Estás a perceber?

Pablo: Sim, menina. A única forma de lidarmos e aceitarmos a normalidade, é fugindo dela, de vez em quando.

Anacleta: Olha! Até que és um sábio companheiro de aventuras, Pablito! Quem diria...

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Maria Araújo

Ana D.

 

 

Desafio de Escrita do Triptofano #10

O adivinhador de sonhos

thumbnail_20220331_080805.jpg

 

No reino de Natura, havia um menino a quem chamavam o "adivinhador de sonhos", porque ele costumava, através das suas bolhas de sabão, imaginar os sonhos daqueles que o rodeavam, ainda que, raramente, acertasse em algum.

Mas ele não desistia e, por onde passasse, levava sempre consigo o que precisava, e distribuía bolhas coloridas pelo ar.

 

Um dia, ao passar por umas flores, ouviu a conversa entre estas, em que uma dizia às outras "Ah, como eu queria...", e logo o menino interrompeu, afirmando:

- Espera, não digas! Vou tentar adivinhar! 

 

E, ao formar a primeira bolha, disse:

- ... como tu querias ser uma Sakurasou (que simboliza “desejo” e “amor duradouro”), e ser apreciada num dos mais belos jardins japoneses!

 

Algumas flores riram-se de tal ideia, e disseram-lhe que tinha que apurar mais o seu poder.

O menino tentou de novo.

- ... como tu querias ser uma flor exótica, como a Alamanda, e estar agora na imensa floresta amazónica!

 

Perante a expressão que as plantas fizeram, percebeu que tinha errado de novo.

E, de novo, fez mais uma bolha.

- ... como tu querias ser um Saguaro e habitar no Deserto de Sonora.

 

- Oh rapaz, estás muito longe de acertar. Deixa-te disso.

- É desta, responde ele! - fazendo surgir uma bolha ainda maior no ar

... como tu querias ser uma King Protea, exuberante, de cores vivas, e deslumbrares os visitantes do jardim botânico Kirstenbosch da Cidade do Cabo!

 

E logo fazendo mais uma bolha, antes que lhe dissessem que continuava a errar:

- ou ser uma daquelas belíssimas tulipas num dos campos da Holanda!

 

Expectante, olhando para a flor, na esperança de, finalmente, ter acertado, compreendeu que a tarefa era mais difícil do que tinha imaginado.

A flor, com pena do menino, que tanto se esforçou, explicou-lhe então:

- Sabes, esse é o grande problema de vocês, humanos.

- Pensam sempre em coisas grandiosas, vistosas, famosas.

- Querem sempre viajar para ali, para acolá, achando que aqui nunca encontrarão nada que vos agrade.

- Eu sou o que sou, e como sou. Não quero ser outra. Gosto de mim assim. E gosto de estar aqui. 

- Quem me conhece, e está comigo, também me aceita como sou.

- O que eu estava a dizer, quando me interrompeste, era como eu queria que vocês, humanos, dessem mais valor àquilo que está mesmo à vossa frente, por mais insignificante que vos possa parecer.

- À simplicidade.

- Que percebessem que também podem ser felizes, sonhar e viajar, conhecendo o lugar onde estão, antes de ir para outros.

 

O menino, muito admirado com o discurso da flor, acabou por admitir que ela tinha uma certa razão.

- Já sei! - disse o menino

- Vou fazer mais umas bolhas. E nelas, vou "enviar" tudo o que de bom temos aqui no reino. 

- Assim, as pessoas que as virem no ar, ficam a conhecê-lo. Quem sabe não nos transformamos num destino turístico como os que há por esse mundo fora!

 

Pensa a flor, para com as suas folhas:

- Santo deus! Não percebeu nada!

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Maria Araújo

Bruno

Triptofano

Maria

Bii Yue

Ana D.

 

 

 

 

 

 

 

Desafio de Escrita do Triptofano #9

E tudo a chama queimou...

thumbnail_Desafio de Escrita do Triptofano.jpg 

 

Corda:

Porque insistes em queimar-me?

 

Vela:

Porque é a única forma de perceberes que eu estou aqui. De me sentires. De olhares para mim.

 

Corda:

Eu sei que estás aí. Eu sinto-te. E vejo-te. 

Talvez não da forma que queres. Com a frequência que queres.

 

Vela:

Hum...

Pois não me parece.

Sinto que a única forma de virares a tua atenção para mim, é quando a minha chama te atinge.

 

Corda:

E o que esperas de mim, com essa chamada de atenção? 

 

Vela:

Que percebas que estou aqui. Que faço parte da tua vida.

E que te aproximes mais de mim.

Porque quanto mais foges, e mais te afastas, mais a minha chama aumenta, e se estica para te alcançar.

Ainda que, com essa atitude, eu me torne mais pequena, e perca um pouco de mim. 

 

Corda: 

Lamento, mas não consigo compreender a tua perspectiva.

O que acontece é que, aos poucos, muito lentamente, vais-me queimando.

Com o tempo, vou perdendo a cor. Vou escurecendo.

Dia após dia, vou enfraquecendo com a tua chama e, a qualquer momento, posso quebrar.

E quando eu quebrar, quando me partir, não terás mais como me queimar. 

Terás que procurar outra corda.

Ou, então, arder em vão, sozinha, até que a chama se extinga... 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

 

Também participam:

Ana D.

Maria Araújo

Ana de Deus

Bruno

Triptofano

Maria

Biiyue

 

 

 

 

 

 

 

Desafio de Escrita do Triptofano #8

A mala de uma mulher: cabe sempre tudo, e nunca se encontra nada!

thumbnail_Desafio de Escrita Triptofano.jpg 

 

Deofrásia vai com a família ao cinema.

Para poupar, coloca dentro da mala uma garrafa de água, umas bolachas e um pacote de leite, caso  tenham fome.

 

À chegada ao estacionamento, depois de tirar o ticket

Bitóles (para a mulher): Toma, mulher. É melhor ficares tu com o bilhete, que eu não tenho bolsos. Olha, e já agora, guarda-me aí a carteira e o telemóvel.

Ninufas (para a mãe): Oh mãe, posso pôr os meus fones na tua mala, para eu não perder?

 

E Deofrásia lá vai pondo tudo dentro da mala, que agora já nem fecha.

Quando acabam de ver o filme, Deofrásia já colocou na mala os bilhetes do cinema, e uns folhetos que lhe deram com a programação da semana seguinte.

 

Entretanto, o telemóvel toca

Deofrásia (tentando encontrá-lo): Raios, não vejo o telemóvel no meio disto tudo. 

E tanto tempo levou que, quando o encontrou, já não foi a tempo de atender a chamada.

 

À saída do shopping

Bitóles: Oh mulher, passa-me aí a carteira, para eu pagar o estacionamento.

Deofrásia (não vendo a carteira onde a tinha posto): Ai, Bitóles, queres ver que a carteira caiu lá no cinema? 

Bitóles: Tu não digas isso, mulher. Tu procura bem.

Deofrásia: É o que estou a fazer. Ah, está aqui. Ufa.

Bitóles: Só falta mesmo o ticket.

Deofrásia (tirando um molho de cartões da bolsa): O ticket, pois... Ora bem... churrasqueira, cabeleireiro, electrista, calendário... Ticket!

 

A caminho de casa, com o sol a bater de frente

Deofrásia (procurando na mala): Ia jurar que tinha aqui os meus óculos de sol.

Bitóles: Então, se os puseste, estão aí!

Deofrásia: Pois, só não sei onde!

Ninufas: Oh mãe, já que estás com a mão na massa, passa-me os fones.

Deofrásia (vasculhando): Mau... carregador... cabo... fones! Olha, e como é que a caixa de óculos veio parar aqui?!

 

Ao aproximar da portagem

Bitóles: Oh mulher, tens aí moedas para a portagem?

Deofrásia: Hum... deixa ver. Aqui nesta carteira não. Mas espera, tenho aqui um porta moedas. Pode ser que tenhas sorte. Afinal não, são só uns botões que guardei aqui. E aqui nesta bolsinha, será que pus algumas? Nada feito. São só umas moedas de escudo, que andava a coleccionar!

Bitóles: Santo Deus. Do que esta mulher se lembra!

 

À chegada a casa

Deofrásia: Olha, vou só ali a casa do meu pai.

Bitóles: E tens a chave?

Deofrásia: Claro. Tenho sempre aqui na mala!

 

À porta de casa do pai, já noite, com pouca luz, procurando a chave

Deofrásia: Mas que raio?! Onde está a chave? Carteira... lenços de papel... outra carteira... agenda... estojo... chaves do trabalho... Querem ver que perdi a chave?

 

Sem conseguir encontrá-la, Deofrásia corre até casa, e já desesperada, depeja todo o conteúdo da mala em cima da mesa.

Deofrásia: Ora vamos lá ver. Um saco... bolsa das pen's... travessão de cabelo... bloco de notas... Olha, a caneta que andava à procura no outro dia! E cá está ela, a maldita chave! 

Ninufas: Credo, mãe! Que confusão que aí vai! Porque é que guardas tanta coisa dentro da mala?

Deofrásia: Filha, a mala de uma mulher é como um armazém - cabe sempre tudo!

Ninufas: Pois, pois... Cá para mim está mais para poço sem fundo! Nunca se encontra nada!

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Ana D.

Maria Araújo

Bii Yue

Triptofano

Maria

Bruno