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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

O grande problema do (des)emprego em Portugal?

 

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Haver sempre quem precise de umas horas extras, quem desenrasque, quem esteja disponível, ou disposto a abdicar das férias, quem acumule turnos, quem não tenha grandes hipóteses de recusar, sob pena de ser acusado de projudicar os colegas, de entrar para a lista negra e, em último caso, ser despedido.

 

A maioria das empresas/ entidades patronais tem falta de trabalhadores.

O passo mais lógico seria contratar mais funcionários, para assegurar o trabalho, e um número aceitável de horas de trabalho para os que já lá trabalham, através de novos reforços.

E há muitos candidatos para essas empresas/ entidades, à espera de ser chamados. Mas passam-se semanas, que se transformam em meses, sem que isso aconteça.

 

Porquê?

Porque sabem que podem continuar a fazer o mesmo trabalho, com os funcionários que têm, nem que para isso tenham que ser sacrificados.

 

 

É o comodismo a falar mais alto. Para quê contratar mais duas ou três pessoas para fazer aquilo que um ou dois funcionários conseguem fazer?

 

Para quê empregar mais alguém, se fulano consegue fazer malabarismos para assegurar num dia, e outro consegue fazer mais umas horas para desenrascar naquela semana, e aquele outro não tem outro remédio senão ir, porque já não está nas boas graças dos patrões e, se não fizer, ainda piora a sua situação?

Empregar mais alguém implica gastos. Dinheiro que, assim, evitam gastar.

 

 

Há falta de seguranças? Há!

Há falta de médicos e enfermeiros? Há!

Há falta de professores? Há!

Há falta de funcionários públicos? Sim!

Faltam muitos trabalhadores, para muitos cargos diferentes, no nosso país.

 

Mas ninguém será contratado, porque não há verbas, nem vontade de contratar a longo prazo mas, sobretudo, porque as empresas estão habituadas a não ter que se preocupar com essas questões, por haver sempre quem lhes facilite e alimente esse comodismo.

Manuais escolares - uma renda adicional

 

Ainda há pouco terminou um ano escolar e já estão à venda os manuais escolares para o próximo ano lectivo.

Os preços são elevados e deixam qualquer família de olhos em bico, e revoltadas com o valor que terão que pagar, principalmente se tiverem mais que um filho a estudar.

É que, se os alunos do 1º ciclo tem os manuais escolares oferecidos, o mesmo não se pode dizer dos 2º e 3º ciclos.

E, mesmo assim, vêm logo não sei quantas críticas e pessoas que estão totalmente contra a oferta ou gratuitidade dos livros. Porquê?

Porque as editoras vão à falência, porque as livrarias vão fechar se não puderem contar com o dinheiro dos livros, porque não sei quantas pessoas vão ficar desempregadas!

Sim, porque todos sabemos que a venda de manuais escolares é um grande negócio que interessa a muito boa gente não perder! Sobretudo, quando todos os anos saem manuais novos, que impedem a reutilização dos anteriores pelos novos alunos.

 

O ensino deveria ser, como está previsto, gratuito para todos, e isso deveria incluir os manuais escolares, ou alternativas.

Também estive a ver os livros que vou ter que comprar para a minha filha, e passam dos 300 euros! Não se admite! Se juntarmos a isto o material escolar, e tudo aquilo que os professores vão pedindo ao longo do ano, quem vai à falência, ainda antes das editoras e livrarias, são os pais.

Mas, para o governo e para aqueles que têm interesses, isso é um mal menor.

Mão-de-obra barata

 

A crise instala-se. A taxa de desemprego aumenta significativamente. Milhares de pessoas perdem os seus empregos e são obrigados a ir para casa, sem grandes expectativas de encontrar outros empregos que lhes garantam o sustento. As famílias desesperam. Há contas para pagar todos os meses, filhos para alimentar e, sem dinheiro (principalmente se ambos os membros do casal estiverem desempregados), a situação começa a ficar insustentável.

E se, há uns tempos atrás, muitas pessoas recusavam determinados trabalhos porque não seriam bem remunerados, se muitos patrões optavam por colocar ao seu serviço mão-de-obra mais barata que aceitava trabalhar por menos dinheiro, se muitos desempregados não aceitavam empregos propostos porque o ordenado era inferior ao subsídio de desemprego, agora as coisas mudaram!

Quem ainda tem trabalho, é ser privilegiado! Mesmo que lhe reduzam o tempo de descanso, mesmo que trabalhe horas extra a custo zero, mesmo que o salário sofra reduções, mesmo que deixe de receber subsídios, ainda assim é um privilegiado! Afinal, tem trabalho, coisa rara nos dias de hoje. É assim que pensam os governantes, os empresários, os milionários...É assim que querem que nós pensemos.

Por isso mesmo, quem ainda tem trabalho, vai-se conformando com actos de discriminação e, muitas vezes, com ilegalidades. Para manter os seus empregos, os trabalhadores evitam cada vez mais reclamar os seus direitos como se, em época de crise, estes tivessem ficado temporariamente congelados.

A crise está a servir de pretexto para o despedimento de mulheres grávidas e mães recentes. Poucas são as que reclamam. Se as leis mudaram? Não. As leis são exactamente as mesmas. O problema é que a situação financeira do país alterou.

Por outro lado, tantas medidas, leis, cortes e mais desemprego estão a fazer com que as pessoas, em desespero, aceitem o que lhes aparecer pela frente. Eu chamo a isso sobrevivência, e não privilégio. Se é preferível as pessoas trabalharem por menos dinheiro, ao invés de irem para o desemprego? Talvez. Mas o tempo da escravidão já lá vai há muito tempo. 

E, ao contrário do que afirma o Sr. Belmiro de Azevedo, que é a favor de uma economia baseada em trabalho de custo reduzido e vê nisso uma vantagem para Portugal, é sabido que os trabalhadores produzem mais quando estão satisfeitos, quando se vêem recompensados, quando sabem que quanto mais produzirem, mais ajudam o seu país.

Uma economia baseada em mão-de-obra cada vez mais barata, baseada num tal esforço que se torna difícil ou mesmo impossível de suportar e que, regra geral, só contribui para encher os bolsos de meia dúzia de exploradores que se aproveitam da situação, não é uma boa política.

Daqui a pouco somos pouco mais que os israelitas, no tempo do Faraó, obrigados a trabalhar sob chicote. A diferença é que não vislumbramos nenhum Moisés para nos libertar! 

Retratos da crise

 

"Escondem-se em becos, nas sombras das esquinas dos prédios, nos bancos de jardim. Tapados por mantas ou apenas por papelões, atravessam a noite e depois, quando o dia clareia, desaguam novamente nas ruas, quase sempre sem destino certo, quase sempre à volta das mesmas ruas, pelos mesmos bairros, com as mesmas roupas. Ser sem-abrigo não é uma fatalidade. Ninguém nasce sem-abrigo. Todos eles já foram felizes em tempos. Já foram pessoas integradas na sociedade, com família, emprego, sonhos e desafios. Já foram crianças e cresceram. Um dia, porém, as coisas começaram a desmoronar..."

 

Até há uns tempos atrás, a sua maioria eram homens e, salvo algumas excepções, provinham das chamadas classes sociais mais pobres.

Hoje, essa tendência está a alterar. Há cada vez mais mulheres e jovens, muitas vezes com qualificações, a entrar neste mundo. E até mesmo aqueles que nunca imaginaram poder algum dia fazer parte do grupo de pessoas em risco de pobreza, vêem-se agora numa nova realidade. 

As classes média e, até mesmo, alta, estão a sofrer as consequências da crise, do aumento do desemprego, dos cortes nos apoios sociais, e a tornar-se nos novos pobres que, quem sabe, poderão vir a constituir os próximos "sem abrigo" do nosso país.

Delinquentes, analfabetos, drogados, ou gente que não quer trabalhar, são um estereótipo ultrapassado. 

E é neste cenário que está a caracterizar, actualmente, o nosso país, que começamos a ver as crianças a faltar à escola. Não para ir brincar, nem namorar, nem divertir. Tão pouco por preguiça ou rebeldia. Faltam, sim, para andar a pedir. 

São crianças cujas famílias perderam os únicos apoios que lhes restavam e, sem dinheiro para transportes ou, até mesmo, para comer, vêm-se obrigadas a mendigar. Testemunhas disso são os próprios professores que, perante as tristes evidências, se vêem sem argumentos para convencer estas crianças a voltarem às escolas. 

E, se estas famílias estão nessas condições, sem dinheiro, não faz sentido as escolas aplicarem multas para os pais cujas crianças faltem às aulas.

É este o retrato da nossa geração, e que, a continuar, não augura um bom futuro para as gerações futuras...