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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Esta noite o céu brilhará um pouco mais

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"Perder um pilar abana um pouco a estrutura. Mas mantém-se de pé.

Quando se perde os dois, a estrutura desmorona por completo."

 

O meu pai conseguiu, por duas vezes, surpreender-me.

Recuperar, quando eu acreditava que se estava a deixar ir.

Não sei se lutava por ele, se por nós.

Se se mantinha vivo porque ainda queria viver. Ou se por saber que estávamos a fazer de tudo para que vivesse.

 

Mas a vida é efémera.

Já sabemos disso.

E, quando o que separa a vida, da morte, é o sofrimento, e a dor; quando se passa a viver numa realidade à parte; quando apenas se existe; então, desistir é o melhor a fazer.

 

O meu pai já viveu tudo o que tinha a viver.

Já só queria que a morte o levasse. 

Quem sabe, para junto da mulher.

 

Em duas semanas, tudo mudou.

De repente, o meu pai deu lugar a um "vegetal", alguém que já não conseguia falar o que quer que fosse, alimentado por uma sonda, drogado e preso a uma cama de hospital.

Aí, percebemos... 

E, embora já estivessemos mentalizados, nunca pensámos que a notícia chegaria tão cedo.

 

Não me cheguei a despedir.

Mas recordo o último momento que passei com ele. Escassos minutos em que comeu aquilo que mais gostava: uma fatia de bolo!

Um último esforço, por mim.

Antes de ser levado para o hospital.

Ainda consciente. E ciente.

 

O meu irmão, não teve a mesma sorte.

Foi visitá-lo ontem, e viu um outro pai.

Um pai que estava a horas da morte. Ainda que não o soubesse.

 

O meu pai acreditava em Deus.

Então, quero acreditar que Deus lhe fez a vontade, e o levou, na hora certa.

Evitando passar por tudo aquilo que ele não queria, e dar trabalho e preocupações a quem ele não queria.

 

O meu pai era um ser humano extraordinário (mas eu sou suspeita)!

Um pai sempre presente.

Com quem aprendi muito do que hoje sei. E me fez o que hoje sou.

Com quem vivi imensas aventuras.

Generoso. Desprendido do que não tinha valor.

 

Influenciou-me de várias formas, e uma delas foi a escrita.

Então, não poderia homenageá-lo de outra forma.

E porque ele adorava fazer as suas reflexões, a observar o mar, esta será, talvez, a imagem que mais espelha a sua despedida deste mundo, antes de ascender a um qualquer outro plano, que lhe esteja reservado.

 

Até sempre, pai!

 

 

 

Quem é o grande culpado pelos males do mundo?

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Testemunhas de Jeová - última parte da conversa

(que já ia longa e eu ainda tinha um alguidar de roupa à espera para estender!)

 

 

Sempre que se fala em Deus, há uma questão que vem sempre a lume: 

"Se Deus existe, e é tão bondoso e generoso, porque é que deixa morrer tantos inocentes, sem nada fazer para os salvar?".

E, acto contínuo, respondem-me sempre "mas não é Deus que faz as guerras, que mata as pessoas..."

Pois não! Mas também não faz nada para o impedir!

 

 

Disse-me, um dia, alguém, que havia uma luta constante entre Deus e o Diabo, e que a intenção era manter o equilíbrio. Se ninguém morresse, ou se todos morressem, tudo se desequilibraria.

Claro que, por vezes, a balança pende mais para um lado do que para o outro.

Imaginem alguém a tentar salvar várias pessoas ao mesmo tempo. Para acudir a uma, não consegue fazê-lo com outra.

Este raciocínio tem a sua lógica, e só perde consistência quando se apregoa aos quatro ventos que Deus é todo poderoso e omnipresente...

Adiante...

 

 

Nessa tarde, as senhoras perguntaram-me quem é que eu achava que era o grande responsável pelos males do mundo, e eu não hesitei em responder: o Homem!

Porque somos nós que cá estamos, somos nós, gananciosos, na ânsia de dinheiro e poder, que passamos por cima de tudo e de todos, que começamos as guerras, que matamos, que destruímos os nossos recursos, a natureza que nos rodeia, que provocamos, directa ou indirectamente, catástrofes como incêndios e outras resultantes de alterações climáticas, por obra da poluição para a qual todos os dias contribuímos, somos nós que, muitas vezes, provocamos acidentes, e por aí fora.

No fundo, somos nós, humanos, que cá vivemos, que não sabemos gerir aquilo que temos ao nosso dispôr, que não sabemos partilhar aquilo que conseguimos obter, que só nos preocupamos connosco e agimos naquela de "salve-se quem puder, de preferência, eu!".

Depois, existem, claro, aqueles fenómenos que ninguém sabe explicar, as ditas "causas naturais" pelas quais, eventualmente, ninguém será responsável.

 

 

Ora, assim sendo, tudo isto iliba Deus de qualquer responsabilidade nos males de que somos vítimas. E, não sendo responsável, também não tem por que resolver as coisas por nós.

Mas, lá volta a eterna questão:

"Se Deus existe, se é todo poderoso e omnipresente, se é justo, se é conhecido por castigar os maus, e proteger os bons, porque é que, na prática, não vemos isso?".

Porque é que continuam a partir os melhores, e a ficar por cá os piores? Porque é que o bem é premiado com a morte, e o mal, com a vida?

 

 

 

Nem de propósito, lembrei-me deste poema de Luís de Camões, que a minha filha tem no manual de português:

 

Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.

 

Reflete ou não, a realidade dos nossos dias?!

 

 

 

A quem (ou ao que) nos agarramos nos momentos de dificuldades?

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Testemunhas de Jeová - parte I

 

No sábado passado, estava eu calmamente a sair de casa para ir estender roupa, quando sou abordada por três mulheres, que queriam conversar comigo sobre Deus e a Bíblia. Por certo, já saberão de quem se trata!

Por norma, despacho-as logo, até porque nada daquilo que me digam me fará mudar de opinião, mas desta vez, deixei-as falar.

 

Uma delas era mais nova, talvez até mais nova que eu e, apesar da sua crença, percebia-se que era uma pessoa com quem se poderia ter conversas interessantes. Ainda nos rimos com umas piadas, falámos de animais, era uma pessoa descontraída. As outras, mais velhas, não deviam estar satisfeitas com o rumo da conversa!

 

E, talvez por isso, a querer puxar a brasa à sua sardinha, uma delas perguntou-me:

"Então, quando a D. Marta tem algum problema, ou está a passar por dificuldades, em quem é que se apoia, como faz para ultrapassar?"

Respondi-lhe que, nesses momentos, luto como posso para ultrapassar, apoiando-me na família, que é quem está ao meu lado!

 

 

Aliás, os momentos mais complicados, problemáticos, difíceis, pelos quais passamos são, por norma, aqueles em que temos maior tendência a nos agarrar a algo, a aceitar apoio, independentemente de onde venha,  a procurar respostas, a depositar fé naquilo que nos der esperança de que tudo vai melhorar.

Mas são, também, os momentos em que estamos mais vulneráveis, susceptíveis e, como tal, aqueles em que tendemos a acreditar em tudo o que nos coloquem à frente dos olhos, a ser enganados.

Além de que, muitas vezes, as pessoas só se viram para a religião, para a fé, para pedir ajuda a Deus, quando estão mal. Depois, quando estão bem, não querem mais saber.

 

 

Como já aqui referi algumas vezes, aceito que as pessoas tenham que se agarrar a algo, se isso lhes der esperança, se as ajudar a seguir e frente, a minorizar o sofrimento e a dor, mas não me queiram "impingir" algo em que não acredito.

 

Noé - o filme

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Na altura em que estreou no cinema, fiquei muito tentada a ver.

Depois, quando deu na televisão a primeira vez, apanhei um bocadinho, e não me inspirou, até porque era enorme. Este domingo, acabei por vê-lo.

 

Desde pequena que fiquei a conhecer diversas histórias que vêm na Bíblia, e esta é logo uma das primeiras, que não deixa ninguém indiferente: a famosa Arca de Noé, onde foram preservados um casal de animais de cada uma das espécies, enquanto Deus inundava a Terra com um enorme dilúvio. Depois de parar de chover, enviaram um pássaro para determinar quando poderiam voltar a sair da arca. Se não estou em erro, o pássaro foi e voltou duas vezes, sem nada. À terceira, voltou com um ramo no bico. E por último, não voltou. Foi quando perceberam que poderiam sair da arca, e voltar a terra firme. Há ainda a parte do arco-íris que surge no céu, e que simboliza a aliança de Deus com o Homem.

 

Li várias vezes estas histórias, nas Bíblias para crianças que me ofereceram em pequena. Na altura, gostava de lê-las. Hoje, ao recordar-me delas, apercebo-me que, a serem verdadeiras, mostravam um povo que levava a sua fé e crença em Deus a extremos e, até, a um certo fanatismo.

 

Sempre me ensinaram que Deus é amor, e que é justo. Sempre duvidei da sua existência. Não consigo perceber onde é que esse Deus encaixa num mundo em que tantos inocentes sofrem as maiores atrocidades, enquanto os "maus" permanecem impunes. 

 

Neste filme, um dos descendentes de Caim, que representa o mal, afirma: "Deus criou o Homem à sua imagem. Ele não é diferente de nós. Nós somos o reflexo dele."

Não teria ele uma certa razão? Como poderia um Deus bondoso matar? Ou mandar matar? Sim porque, por exemplo, na história de Abraão, depois de supostamente lhe ter dado o seu filho Isaque mandou, em seguida, matá-lo como sacrifício para pôr à prova a sua fé em Deus. Que Deus é este que condena à morte quem tem o mal dentro se si, quando ele próprio incita a cometer actos como este?

 

Por outro lado, Noé dizia à sua mulher, tentando justificar a sua decisão de nem eles próprios entrarem na arca e se salvarem "Todos temos o mal dentro de nós. Não poderemos ser salvos."

Mais uma verdade! 

Por muito bons que sejamos, há sempre algo que nos pode corromper. Haverá sempre algo capaz de nos levar a cometer actos de maldade, nem que seja para defender-nos e aos nossos.

 

No caso concreto do filme, no que era Noé diferente daqueles que estavam agora a ser condenados pela justiça divina?

Noé não hesitou em deixar morrer uma jovem, que nada tinha a ver com estas guerras, para se salvar a si e ao filho. Noé não hesitou em declarar a sentença de morte para toda a família, incluindo as próprias netas, que quase matou com as suas próprias mãos, por achar que era o que Deus queria. Onde é que está aqui a bondade, o amor?

E o que conseguiu com isso? Conseguiu que todos se revoltassem contra si. Conseguiu que um dos seus filhos se passasse para o lado dos "vilões", contra o próprio pai, por não perceber que moral tinha o pai para condenar os outros, quando se estava a tornar igual.

 

Ainda a respeito do filme, estava à espera de melhor. É muito tempo de filme, para uma história tão pequena. Há partes que não batem certo com aquilo que se conta, e que levantam algumas incongruências e questões:

- Na história do filme, Noé e o pai parecem viver sozinhos. Quando o pai morre, sendo Noé ainda criança, como é que ele sobreviveu sozinho todos aqueles anos, até à idade adulta?

- No filme, o que a história dá a entender é que havia apenas a família de Noé, do lado do "Bem", e todos os restantes do lado do "Mal". Seria mesmo assim?

- No filme, não há um limite para a entrada dos animais. No entanto, se formos pesquisar, há diversas versões de imposição de quantidade de animais de cada espécie. A ser assim, porque teriam de morrer todos os outros?

- A própria construção da arca suscita dúvidas. Conseguiria uma arca como aquela, construída unicamente de madeira, como pareceu, manter-se intacta com todos aqueles animais dentro?

- Como era possível haver lume dentro da arca, sem a incendiar?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A fé dos que ficam

 

A propósito do acidente em Cernache, Coimbra, que envolveu vários peregrinos da zona de Mortágua, que se deslocavam a Fátima, e que tirou a vida a 5 deles, afirmava uma familiar, consternada com a triste notícia:

"Deus existe? Não deve existir, porque se existisse não deixava isto acontecer!".

Por sua vez, o pároco que se disponibilizou para dar apoio aos familiares das vítimas, explicou que é difícil as pessoas aceitarem. E perceberem que estes peregrinos, que se encontravam a caminho de Nossa Senhora de Fátima, mais não fizeram que seguir o seu caminho, mas até ao Senhor!

Ora, para quem acredita em Deus, esta poderá ser uma forma de consolo, de resignação, de aceitação. Acreditar que a vida é uma breve passagem e que os que partiram se encontram agora num lugar melhor, junto a Deus, para onde, um dia, todos iremos.

Mas, mesmo entre aqueles que acreditam, a dúvida pode surgir. É, sobretudo, nestas alturas que as crenças tendem a sofrer abalos, que a existência de um Deus justo e bondoso pode ser questionada e posta em causa.

Como fica a fé dos que cá ficam, ao ver os outros partir?

Cá em casa, temos opiniões totalmente distintas. O meu marido acredita em Deus. Eu não.

Muitas vezes ele me diz: "Se Deus não existisse, não estaríamos cá hoje, depois do acidente. Se Deus não existisse, as dificuldades por que passei não teriam sido ultrapassadas. Deus está sempre comigo. Connosco. Mesmo que não acredites nele."

E eu contraponho: "Como posso acreditar que existe um Deus - bondoso, justo, omnipresente, protector - quando vejo tantos inocentes morrer à fome, morrer nas guerras, morrerem com as mais variadas doenças, em acidentes estúpidos, e até mesmo em peregrinações para mostrar a sua devoção e fé.

Quando vejo crianças (e adultos) inocentes serem violadas, agredidas, mal tratadas, assassinadas, por humanos sem escrúpulos, que continuam cá a gozar a sua vida.

Como posso acreditar num Deus que permite que isso aconteça, sem nada fazer, levando inocentes e deixando cá quem não merece?"

Há que diga: "Ah e tal, não é Deus que faz as guerras, que cria as doenças e mata as pessoas. É o Homem"!

Pois têm razão, sim senhor. Talvez o único erro de Deus tenha sido o de criar o Homem. Porque, onde está o Homem, está o perigo.

Mas se não podemos acusar Deus pelo que de mal acontece neste mundo, porque deveremos então, atribuir-lhe os créditos pelo que acontece de bom?

Na vida existem as forças do bem e as forças do mal. Estão em constante luta e nem sempre vence quem deveria. Quer-me parecer que Deus está sozinho na luta, contra vários adversários, porque por cada suposta vitória, há uma dúzia de derrotas no mundo!

"Ah e tal, a vida é só uma passagem. Se partiram, é porque já cumpriram a sua missão aqui, e vão agora para outras mais importantes".

Mas quem pode afirmar, com certeza, que assim é?

E se assim for, porque é que, por vezes, até os mais crentes se revoltam perante essa verdade incontestável que lhes tentam impingir e fazer acreditar, questionando Deus, desestabilizando a sua fé?