O Adoldo
(e como pequenos gestos podem tornar o nosso dia mais leve)
Faço aquele caminho diariamente.
Várias vezes por dia.
E já se torna tão habitual que, muitas vezes, já nem paro para observar.
Quando a colónia lá andava, não havia dia em que não espreitasse, para ver se via os bichanos.
Depois, a colónia desfez-se.
Há pouco tempo, apareceu por lá um solitário, tigrado, cinzento. Fez-me voltar ao hábito. Mas deixei de o ver. E o hábito perdeu-se.
Ainda mais nestes dias de chuva, em que uma pessoa quer é chegar depressa ao destino.
Hoje, um desses dias de chuva, de chapéu aberto e a caminho do trabalho, estive mesmo para seguir em frente.
Não sou muito de acreditar em sextos sentidos, chamamentos e afins, mas algo me fez mudar de ideias, e ir até lá, só naquela...
Para meu espanto, na caixa onde cheguei a ver o tal gato tigrado, estava um cão.
Lindo, aparentemente meigo. Não ladrou, não se assustou, nem se mexeu. Ficou a ver-me falar com ele, e tirar as fotografias.
Não fazia ideia se estava perdido, abandonado, se era de alguém da zona. Mas nunca o tinha visto antes.
Publiquei a foto no facebook, e partilhei num grupo de animais desaparecidos aqui de Mafra. Just in case...
Acho que, quando publicamos algo do género, pensamos sempre que não dará em nada.
Várias pessoas partilharam a publicação.
E chegou até ao dono.
Ao que parece, o cão tinha fugido no fim de semana, voltado para casa mais tarde, e entretanto voltou a fugir.
Não é daqui perto. A casa dele ainda fica a uns 3 km.
Por volta das 10h, já não estava naquele sítio.
Mas deve ter ficado por perto porque, pouco depois, quando o dono foi até lá procurá-lo, ele apareceu.
Foi assim que o Adolfo - é esse o nome do fugitivo - voltou para a sua casa, em segurança.
E o meu dia se tornou mais leve, por ter dado um pequeno contributo para este desfecho.