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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Obesidade Infantil

 

A obesidade infantil é, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI, sendo prioritária a sua prevenção. O sobrepeso e a obesidade são o quinto factor principal de risco de disfunção no mundo. De uma forma geral, a obesidade infantil é mais frequente nos meios urbanos, embora também esteja presente nos meios rurais.  

A nível físico, as crianças obesas tendem a desenvolver problemas como diabetes, doenças cardíacas ou má formação do esqueleto. É raro que cause risco de vida na infância, mas a esperança de vida é drasticamente reduzida. Pode agravar patologias respiratórias e alérgicas, provocar dores nas articulações e dificultar ou impossibilitar a prática de exercício físico em contexto escolar.

A nível psicológico, estas crianças são frequentemente vítimas de bullying por parte dos colegas levando, por vezes, ao isolamento e/ ou depressão.

Quanto aos factores que podem levar à obesidade, estes podem ser biológicos, psicológicos ou comportamentais, incluindo, nestes últimos, os maus hábitos alimentares, o sedentarismo e a diminuição do número de horas de sono.

Relativamente aos hábitos alimentares, temos uma das dietas mais saudáveis e equilibradas – a chamada dieta mediterrânica. No entanto, a expansão do fast-food e do comércio de junk food, tem alterado e invertido de forma significativa, a prioridade das crianças no que respeita à escolha dos alimentos. De facto, estes alimentos industrializados conseguem ser bastante apelativos, levando as crianças a preterirem outros mais saudáveis.

É verdade que, nos últimos anos, temos assistido a iniciativas positivas como o Regime de Fruta Escolar, que visa a distribuição de frutas e produtos hortícolas, nos estabelecimentos de ensino público, aos alunos que frequentam o 1.º ciclo dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, ou as mais recentes orientações da Direcção Geral de Educação para bufetes escolares.

Mas a educação alimentar das crianças não pode ser uma tarefa exclusiva das escolas. Deve começar em casa, pelos pais e familiares próximos, e logo desde o dia em que nascem. A influência dos pais na alimentação dos filhos é determinante. Sabemos que os filhos tendem a seguir os exemplos e hábitos dos pais, que nem sempre são os melhores. Nesses casos, de nada servirá aos pais quererem que os filhos se alimentem saudavelmente, se eles próprios não o fazem. Por outro lado, os pais devem estar atentos e proporcionar refeições saudáveis aos filhos, o que nem sempre acontece devido não só à falta de tempo como, muitas vezes, à falta de informação ou certos mitos. 

A minha filha, por exemplo, nasceu com 3,020Kg distribuídos por 47 cm. Ao fim de duas semanas, como eu não tinha leite suficiente para ela, começou a beber leite artificial. Talvez por isso, sempre teve um peso ligeiramente acima do ideal, embora colmatado com o crescimento. Ao longo de 9 anos, o peso aumentou, mas a altura também. Não se pode considerar que tenha excesso de peso, muito menos será obesa. Mas tenho consciência que, se a deixasse comer à vontade, não seria bem assim. É normal que as crianças, tal como nós, gostem de comer “porcarias”. O meu papel é moderar esse consumo, e tentar que ela faça uma alimentação equilibrada, pelo menos enquanto estiver comigo. 

O sedentarismo é também uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade, e entre as crianças e jovens. Antigamente, as crianças brincavam na rua, saltavam, pulavam, jogavam à bola, corriam…Hoje, apesar de já haver, logo no 1º ciclo do ensino básico, actividades extracurriculares físico-desportivas (facultativas), e de algumas crianças frequentarem actividades físicas fora da escola, grande parte delas prefere substituir essas actividades por algumas horas de jogos em consolas, ou comodamente sentadas em frente à televisão ou computadores. Para tal, mais uma vez, contribui em muito a falta de tempo e disponibilidade dos pais, bem como a insegurança que estes sentem ao deixarem os filhos na rua.

A falta de sono ou as poucas horas que as crianças dormem também podem levar ao aumento da obesidade. Há estudos que provam uma estreita ligação entre o sono e o apetite sendo que, à medida que o primeiro reduz, o segundo aumenta, devido a alterações das hormonas que controlam a fome. E, quanto menos dormem, mais tempo têm para comer, e menor é a probabilidade de serem fisicamente activas, havendo um menor gasto de energia.

Por todas estas razões, se pode concluir que o combate à obesidade infantil passa, sobretudo pela prevenção. É preferível evitar a obesidade numa criança, do que tentar eliminá-la depois de instalada! E essa prevenção, passará pela intervenção por parte de todos aqueles que tenham, directa ou indirectamente, influência sobre essas crianças! 

Quando somos o nosso maior inimigo...

Lembro-me de um comentário tão inofensivo e banal que, aos ouvidos de qualquer outra pessoa, poderia ter passado despercebido, como algo que entra por um lado e sai logo em seguida pelo outro. E acredito que não seria mais do que isso.

Mas naquele momento, foi como se se fizesse luz na minha cabeça, ou melhor dizendo, foi o que quase me levou a um caminho bem sombrio.
Tinha 14 anos na altura e, como dizia quem me conhecia, era uma rapariga bem constituída.

Não era magra, como uma das minhas amigas, mas também estava longe de ser gorda.

Naquele dia, estava eu com as minhas duas amigas a conversar, e surgiu aquela frase - de nós 3, eu era a mais "cheinha"!

É óbvio que não devo ter gostado muito dessa ideia. Penso mesmo que foi a partir daí que comecei a fazer a minha primeira dieta.

Fui cortando aqui e ali, deixando de comer isto e aquilo, e os resultados começavam a fazer-se sentir, deixando-me bastante animada.

Tive que apertar quase todas as minhas calças que, entretanto, ficaram largas demais para as minhas pernas, mas via isso como uma vitória!

Fui emagrecendo mais, e mais, e mais - mas para mim não era ainda o suficiente.

Olhava-me ao espelho e pensava - só mais um bocadinho e está bom. Só que por mais bocadinhos que emagrecesse, havia sempre algum que ainda faltava.

Mesmo quando todos à minha volta afirmavam que eu estava demasiado magra, que tinha um corpo bem feito e estava a estragar tudo, eu permanecia cega e surda. E assim passei dos meus 57,5kg para uns míseros 43,5kg.

É o comportamento típico de alguém que sofre de anorexia: uma percepção distorcida do próprio corpo que nos leva a achar que, por mais magros que estejamos, continuamos gordos. Há um medo intenso e irracional de ganhar peso, e enveredamos por rígidas dietas loucas e jejuns que nos levam a uma desnutrição grave e, até mesmo, ao envelhecimento prematuro. Muitas vezes aliamos também uma prática excessiva de actividade física.

Mesmo para pessoas que até se podem considerar inteligentes, tanto a opinião dos outros sobre si, como o estereótipo que lhes impõem, de que a magreza é fundamental para o sucesso social e económico, pode ser determinante para despoletar este tipo de comportamento.

Para quem não conhece o problema, é estranho como alguém "normal" pode considerar-se acima do peso, estando muito abaixo.

Felizmente, não me deu para provocar o vómito, nem tomar diuréticos ou usar laxantes. Nunca cheguei a ser internada nem medicada. Também nunca fiz terapia de grupo nem familiar - nessa altura não havia uma preocupação tão grande com este problema como de há uns anos para cá.

O meu pai tentou muitas vezes chamar-me à razão, alertar-me para o que estava a fazer com a minha saúde. De carne, já quase não havia sinais, a única coisa que se via era pele e osso.

De qualquer forma, pode-se dizer que, apesar de tudo, não fui um caso grave. Ao fim de algum tempo deve ter havido outra luz que voltou a iluminar o caminho certo, e tudo se recompôs.

Cada um nasce com características próprias, aceites de forma inquestionável, até ao dia em que nos lembramos, ou nos lembram, de fazer comparações com outros.
Penso que seja a partir daí que começam a surgir todos aqueles pequenos grandes "defeitos" que nos fazem sentir diferentes, e que queremos à força corrigir.
Não digo que não possamos melhorar algumas coisas que não nos fazem sentir bem, mas não por imposição, não pelos outros.

Claro que, com a maturidade, muita confiança no nosso valor, e a certeza de que não somos apenas um corpo; que não temos que ser de determinada forma para sermos aceites por esta ou aquela pessoa, conseguimos viver sem os fantasmas que muitas vezes nos impedem de sermos nós próprios, e de nos sentirmos bem, com tudo aquilo que nos torna únicos!