Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Rabo de Peixe"

a série da Netflix sobre a vila açoriana

Rabo de Peixe llega a Netflix, Fecha de estreno, historia, reparto y más -  CINE.COM

 

Tinha vindo a ouvir falar desta série e, apesar de não ser muito apreciadora de filmes ou séries portuguesas, fiquei curiosa.

Estreou na sexta-feira, na Netflix.

Via-a entre ontem e hoje.

São 7 episódios e, por incrível que pareça, dá sempre vontade, no fim de cada um, de ver o seguinte.

 

"Rabo de Peixe" é uma vila pertencente ao município de Ribeira Grande, e o maior porto de pesca dos Açores.

Em 2001, naufragou um barco na vila e, com ele, toda a mercadoria que o mesmo continha - quase meia tonelada de cocaína pura.

Agora, a Netflix apresenta a série baseada nesses acontecimentos, sendo que tudo o resto é mera ficção.

E não sei bem se a encaro como um drama, ou como uma comédia, sendo que apesar de alguns momentos mais duros, há outros em que dá vontade de rir.

 

Tudo começa quando, após uma noite de temporal, dois traficantes italianos são obrigados a esconder parte da sua mercadoria em Rabo de Peixe, sem conseguir seguir viagem.

Na manhã seguinte, dão à costa várias embalagens de cocaína.

Eduardo e os amigos - Rafael, Carlinhos e Sílvia - que querem mudar de vida, descobrem onde está a restante droga e pensam em vendê-la para ganhar dinheiro e partir para a América, a fim de concretizar os seus sonhos.

Eduardo quer ainda ajudar o pai, pagando a operação aos olhos que ele precisa para ficar bem, e que não conseguiu no serviço público.

 

Só que todos os actos têm consequências, e o arrependimento pode chegar tarde demais.

Há gente perigosa que quer encontrar e recuperar a droga perdida. E há gente não menos perigosa a querer usá-la em negácios e para benefício próprio.

E quanto mais Eduardo e os amigos se enredam na teia da droga de que toda a gente anda à procura, mais problemas arranjam, e mais vítimas morrem.

 

O que fazer, então, quando não há volta a dar?

 

Pontos negativos

- A mania de misturar duas línguas numa só frase; de misturar falas em inglês e português numa conversa, até mesmo nas descrições do narrador

- A quantidade de "asneiras" que sai pela boca de quase todas aquelas personagens - eu sei que não é exclusivo das nossas produções, mas fica mesmo mal

- Se a ideia era retratar uma vila piscatória, a sua labuta e a vida dos pescadores, uma terra sem futuro promissor para os jovens, e onde nada acontece, não foi bem conseguida - a única coisa que fica é a de uma vila onde a maior parte da população só vive à base de álcool e droga - seja para consumo próprio, seja para tráfico

- É preciso ignorar um pouco a base - sexo e drogas - para conseguir apreciar o resto

- A actuação de alguns actores, como a Kelly Bailey, o Afonso Pimentel ou a Maria João Bastos, que não convencem

 

Pontos positivos

- Cada episódio está sempre repleto de suspense, e podem contar com reviravoltas inesperadas na série

- Há um desfecho temporário para a história, mas que é possível continuar, pelo que uma segunda temporada pode vir a caminho

- Destaco, acima de tudo, a prestação de alguns actores, e a forma como interpretaram a sua personagem, marcando a história, nomeadamente:

Sílvia (Helena Caldeira) - nunca vi uma miúda dizer tantas asneiras, fumar tanto, e snifar constantemente, a ponto de ter uma overdose, só porque não aguenta viver naquela "cauda de peixe" 

Carlinhos (André Leitão) - uma das minhas personagens preferidas, o amigo do amigo, o confidente, o brincalhão, amante de música, homossexual e apaixonado pelo padre

Arruda (Albano Jerónimo) - se alguma vez nós imaginámos ver o galã transformar-se num traficante barrigudo e sem maneiras, mas capaz das maiores atrocidades - um bandido de quinta categoria, mas que faz estragos

Jeremias (Adriano Carvalho) - o pai do Eduardo, que veio da América para ficar com a família, viu a sua mulher morrer jovem, está quase cego e depende do filho para tudo, um homem orgulhoso, mas íntegro - ainda assim, tudo fará para proteger o filho

Zé do Frango (Dinarte Freitas) - é impossível não sentirmos uma empatia imediata por ele, e é difícil assistir às barbaridades de que será vítima

Um apontamento ainda para Salvador Martinha, que interpreta Francisco, um estagiário da polícia judiciária.

 

Vale a pena ver a série!

E, quem já a viu, ou quando, e se, a vir, que me diga quem interpreta o padre, porque eu devo estar a alucinar!

 

 

 

 

Tráfico Humano - ao virar da esquina

 

Duas jovens adolescentes viajam, sozinhas, para Paris. À chegada, como muitas outras pessoas, tentam apanhar um táxi que as leve ao destino. Enquanto esperam, um rapaz simpático mete conversa com elas. Apresentam-se. Em ambiente descontraído, uma delas pede-lhe que tire uma foto às duas, entregando-lhe para isso o telemóvel.

Aparentemente, também ele tinha viajado até Paris e, tal como elas, aguardava a sua vez na fila para o táxi. Por isso mesmo, perguntou-lhes se não queriam dividir a despesa do mesmo, ficando assim mais barato para todos. E assim fizeram. Chegadas à moradia onde iriam ficar instaladas, despediram-se do rapaz, que entretanto já tinha conhecimento que ambas estariam sozinhas. Alguns instantes depois, as duas são levadas por 3 ou 4 homens que ali entraram. Na verdade, o tal rapaz, aparentemente simpático e inofensivo, pertencia a uma rede de tráfico de mulheres, actuando como intermediário, se assim se pode chamar.

O destino que as esperava? O pior que se possa imaginar – drogadas, as que não morriam de overdose, eram obrigadas a prostituir-se, em bordéis ou nas ruas, sempre controladas e vigiadas.

Outras, na opinião dos traficantes, mais valiosas, eram levadas para leilões, vendidas a quem oferecesse o valor mais alto. Representantes de magnatas compravam, sob a sua ordem, o que para eles nada mais significava que um mero objecto.

Um cenário deprimente, chocante e repugnante que, infelizmente, retrata uma realidade que nos pode apanhar a qualquer um, nas suas malhas. Ali mesmo, ao virar da esquina!

A razão para que isto aconteça? Dinheiro! Como eles diziam, não era nada “pessoal”, apenas ganhavam dinheiro!

O tráfico humano, é a terceira actividade criminosa mais rentável do mundo, logo depois das drogas ilícitas e do tráfico de armas. Não escolhe raça, idade ou classe social. E nem mesmo sexo! Embora a grande maioria das vítimas sejam mulheres e, entre essas, adolescentes, também estão incluídos no pacote homens e crianças, que são traficados para os mais diversos fins.

A prostituição, como já atrás referi, é a forma mais corrente do tráfico humano. Iludidas por falsas promessas de bons empregos, uma vida melhor, ou financiamento de estudos, são alvos fáceis de cair em mãos criminosas, que não pedem consentimento às vítimas para as traficarem, retirando-lhes direitos humanos básicos como a liberdade – de movimento, de escolha, de controlo sobre si próprio e sobre a sua vida. E enquanto os criminosos lucram, estas mulheres sofrem todo o tipo de violência física e psicológica.

Mas também pode acontecer a quem pura e simplesmente, como estas duas adolescentes, gosta de viajar.

O recrutamento é o primeiro passo, o primeiro elo da cadeia do tráfico humano, através do qual os traficantes encontram as vítimas, enganando-as ou forçando-as a entrar num mundo onde a escravatura, que julgávamos ter acabado há muito, é uma constante em pleno século XXI. São os recrutadores, aparentemente pessoas normais, que fazem o primeiro contacto com a vítima. Qualquer um pode ser recrutador, até mesmo aquela pessoa em quem, à partida, tínhamos total confiança. Bastante criativos, servem-se muitas vezes de anúncios em jornais ou na Internet, agências ou empresas falsas, e até mesmo através de conhecimentos privados.

O próximo passo é entregar as vítimas aos verdadeiros criminosos, que as forçam aos mais variados actos, sob ameaça constante, sob violência, sob chantagem. Afinal, elas passam a ser responsáveis pelo pagamento do dinheiro que o traficante pagou por elas.

Mas não é só para a prostituição ou pornografia que são traficados estes seres humanos.

No caso dos homens, por exemplo, é frequente estes serem levados para trabalhos forçados, como por exemplo na agricultura, na indústria ou na construção civil.

Já as crianças, são utilizadas muitas vezes para actividades criminosas como a mendicidade, tráfico ou venda de droga, passagem de dinheiro falso ou pornografia infantil, bem como para adopção ilegal.

Não podemos ignorar esta realidade, este fenómeno que pode estar tão perto de nós e nos afectar mais do que julgamos.

O que é certo é que não existem receitas infalíveis para não cair nesta teia, existem medidas de sensibilização, de prevenção, que embora úteis, não nos dão a garantia de que nunca iremos ser apanhados.

Também é certo que não podemos viver com medo, desconfiar de tudo e de todos, e deixar de fazer determinadas coisas porque há uma possibilidade remota de não correr bem.

Mas convém lembrar e ter presente que, por vezes, as possibilidades remotas podem ter avançado a grande velocidade na nossa direcção, e estar mais próximas do que pensamos, até mesmo ao virar daquela esquina!