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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Era para ser só mais uma segunda-feira!

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Era para ser só mais uma segunda-feira.

Após um fim de semana prolongado.

Mas as segundas-feiras nunca são só isso, não é?!

 

Já na anterior tinha sido um dia de nervos, a partir do momento em que me ligaram a informar que havia uma vaga e que, se eu quisesse, poderia fazer a minha cirurgia nesse dia.

Assim foi.

 

E esta, uma semana depois, tinha que vir em grande!

Depois de um fim de semana com uma constipação, ou crise de rinite, ou lá o que for (que o que foi possível testar deu tudo negativo), com direito a perda de olfacto e paladar, para além de todos os outros sintomas, parecia que a segunda-feira ia ser melhor.

Fui de manhã cedo mudar o penso ao Centro de Saúde, levantei dinheiro e fui trabalhar, com o anti-histamínico a fazer algum efeito.

 

E eis que, do nada, ficamos sem luz.

Nada de anormal. Volta e meia acontece.

Mas estava a demorar mais que o normal a voltar.

Sendo a única por aqui com operadora da Meo, era a única a ter dados móveis, e a conseguir comunicar.

 

Começaram a chegar as primeiras notícias, de que foi um apagão.

Não só em Mafra, mas em Lisboa, e outras partes do país. 

Pior. Não só em Portugal, mas também em Espanha, em França e na Itália.

 

E, depois, a (des)informação.

Foi isto. Foi aquilo.

Pode demorar até 72 horas a ser reposta a electricidade. Ou até uma semana.

Ou, talvez, de 8 a 10 horas. Mas não era possível prever.

 

Pessoas presas em elevadores. Pessoas presas no metro.

Pessoas sem conseguir comunicar, nem que fosse para avisar que estavam bem, ou saber se os outros estavam bem.

Semáforos sem funcionar. Acidentes.

Começámos a ouvir sirenes, talvez ambulâncias, aqui na zona.

 

A seguir ao almoço, o caos nas bombas de gasolina (as que ainda estavam abertas), a corrida aos hipermercados para comprar bens e água. Sim, porque, entretanto, veio o comunicado da EPAL, de que a água poderia vir a faltar.

E a comida nos frigoríficos ia-se estragar toda, por isso, havia que abastecer de enlatados...

 

Mas nada disto era assim tão grave, se pensássemos nos hospitais, nos medicamentos que precisam de refrigeração, nos transportes que as pessoas não poderiam apanhar para se deslocar, no "isolamento" forçado a que cada um de nós estava a ser condenado.

Parecia uma cena de um qualquer filme já visto.

A electricidade, neste caso, a falta dela, pára o mundo. Pára tudo. 

 

Não é a falta de internet, ou a luz em si.

Não é o não ter com que entreter.

Não é o ir para a cama mais cedo.

Não é o ter que voltar aos tempos antigos, e reaprender a desenrascar.

 

É mais do que isso e, por muito que embelezem ou romantizem o "apagão", como o melhor que nos poderia ter acontecido, não o vejo assim.

Vejo-o como uma prova da nossa dependência.

Como um teste, no qual todos falharam. Uns mais. Outros menos. 

Mas ninguém estava (nunca estamos) preparados para nada fora do normal. 

 

Felizmente, foram apenas umas horas. 

Desta vez.

Mas, e se fosse mais tempo?

 

E sim, foi apenas uma falha de energia. 

Não foi o estalar de uma guerra.

Não foi uma catástrofe.

Não foi um fenómeno extremo que colocasse a população toda em risco de vida.

Era necessário encarar com alguma calma.

 

Mas, a longo prazo, tudo falharia. Não haveria dinheiro (multibancos sem funcionar, bancos sem resposta), o combustível necessário para os geradores acabaria, os bens esgotariam, sem qualquer hipótese de reposição, doentes que necessitassem de aparelhos, ou medicação, dependentes de electricidade estariam em risco, os transportes parariam, as fábricas, a economia.

 

Ao final do dia, fui buscar a minha filha ao trabalho.

Sim, porque ela trabalhou. E foi dos dias em que mais vendeu!

A corrida às powerbanks, cartões Meo, lanternas, pilhas, telemóveis, e os tão desejados rádios a pilhas fez-se sentir por lá, com vários produtos a esgotarem e terem que ser repostos.

O próprio supermercado estava a funcionar normalmente. Só havia longas filas para o combustível.

 

Para casa, já noite escura, viemos à luz de lanterna. Na zona onde vivemos, poucos carros andavam a circular àquela hora, para iluminar o caminho.

Mas passou por nós, duas vezes, um carro da GNR (não sei se andava a patrulhar as ruas).

 

O jantar foi aquecido no fogão, e a rotina feita à luz de velas e lanternas. Depois, cama. 

Na esperança que a electricidade já estivesse de volta quando acordássemos.

Sim, porque até nisso fomos "discriminados"!

Já muita gente nos ia dizendo que tinha luz, em locais diferentes e, por aqui, continuávamos sem nada.

 

Hoje?

Hoje é terça-feira.

Está tudo de regresso à normalidade de uma semana banal, não fosse ser mais uma de quatro dias, com feriado pelo meio!

 

 

 

 

Uma questão de economia

 

Fui atendida por um médico, no Serviço de Atendimento Permamente de Mafra, que usava uma bata de um hospital da Guarda!

A isto se chama economia de dinheiro e roupa. Porquê ter uma bata diferente para cada um dos serviços, quando pode aproveitar a mesma?!

Mandou-me recolher a urina, para verificar se se comprovava o meu diagnóstico mas, ainda não tinha visto o resultado, e já tinha a receita impressa! A isto se chama economia de tempo (embora tenha passado mais tempo a conversar com uma enfermeira do que a atender-me).

Receitou-me um antibiótico de apenas duas tomas (não sou muito apreciadora de antibióticos deste género, cuja eficácia nem sempre é a melhor), por economia de medicamentos talvez! 

E, por economia de palavras, se não fosse eu a perguntar-lhe se sempre tinha uma infecção, tinha-me dado apenas a receita e mandado embora!

Foi uma consulta, no mínimo, estranha. 

Mão-de-obra barata

 

A crise instala-se. A taxa de desemprego aumenta significativamente. Milhares de pessoas perdem os seus empregos e são obrigados a ir para casa, sem grandes expectativas de encontrar outros empregos que lhes garantam o sustento. As famílias desesperam. Há contas para pagar todos os meses, filhos para alimentar e, sem dinheiro (principalmente se ambos os membros do casal estiverem desempregados), a situação começa a ficar insustentável.

E se, há uns tempos atrás, muitas pessoas recusavam determinados trabalhos porque não seriam bem remunerados, se muitos patrões optavam por colocar ao seu serviço mão-de-obra mais barata que aceitava trabalhar por menos dinheiro, se muitos desempregados não aceitavam empregos propostos porque o ordenado era inferior ao subsídio de desemprego, agora as coisas mudaram!

Quem ainda tem trabalho, é ser privilegiado! Mesmo que lhe reduzam o tempo de descanso, mesmo que trabalhe horas extra a custo zero, mesmo que o salário sofra reduções, mesmo que deixe de receber subsídios, ainda assim é um privilegiado! Afinal, tem trabalho, coisa rara nos dias de hoje. É assim que pensam os governantes, os empresários, os milionários...É assim que querem que nós pensemos.

Por isso mesmo, quem ainda tem trabalho, vai-se conformando com actos de discriminação e, muitas vezes, com ilegalidades. Para manter os seus empregos, os trabalhadores evitam cada vez mais reclamar os seus direitos como se, em época de crise, estes tivessem ficado temporariamente congelados.

A crise está a servir de pretexto para o despedimento de mulheres grávidas e mães recentes. Poucas são as que reclamam. Se as leis mudaram? Não. As leis são exactamente as mesmas. O problema é que a situação financeira do país alterou.

Por outro lado, tantas medidas, leis, cortes e mais desemprego estão a fazer com que as pessoas, em desespero, aceitem o que lhes aparecer pela frente. Eu chamo a isso sobrevivência, e não privilégio. Se é preferível as pessoas trabalharem por menos dinheiro, ao invés de irem para o desemprego? Talvez. Mas o tempo da escravidão já lá vai há muito tempo. 

E, ao contrário do que afirma o Sr. Belmiro de Azevedo, que é a favor de uma economia baseada em trabalho de custo reduzido e vê nisso uma vantagem para Portugal, é sabido que os trabalhadores produzem mais quando estão satisfeitos, quando se vêem recompensados, quando sabem que quanto mais produzirem, mais ajudam o seu país.

Uma economia baseada em mão-de-obra cada vez mais barata, baseada num tal esforço que se torna difícil ou mesmo impossível de suportar e que, regra geral, só contribui para encher os bolsos de meia dúzia de exploradores que se aproveitam da situação, não é uma boa política.

Daqui a pouco somos pouco mais que os israelitas, no tempo do Faraó, obrigados a trabalhar sob chicote. A diferença é que não vislumbramos nenhum Moisés para nos libertar!