Que demónio é este?...
Mas que demónio é este, que por aqui ciranda?
Seja ele qual for, que volte depressa para de onde veio.
É impossível andar na rua.
Mal uma pessoa sai, fica à mercê dele.
Revoltoso, gélido, sem dar um único segundo de tréguas.
Esbofeteia-nos de um lado. E do outro.
Empurra-nos, fazendo-nos acelerar mesmo sem querer. Outras vezes, trava-nos, como se nos tentasse impedir de seguir caminho.
Desorienta-nos.
Já não basta a chama intensa que nos fere os olhos, também ele quase nos cega.
Enquanto nos debatemos com ele, nem nos atrevemos a respirar. Sustemos a respiração, até estarmos em relativa segurança.
Que só chega quando entramos em casa.
Até então, percorremos o caminho o melhor que conseguimos, quase sem o ver, em modo automatico, porque perceber onde estamos e com o que estamos a lidar é doloroso e cansativo demais.
Na rua, o demónio anda à solta.
Chama-se vento.
Já deveríamos estar habituados.
Mas o vento nem sempre está assim.
Com esta fúria desmedida. Com esta raiva descontrolada.
A fustigar cada centímetro da nossa pele, e do nosso corpo.
Em casa, continuamos a ouvi-lo.
A sentir que ele tenta, de todas as formas, quebrar as barreiras. Chegar até nós.
Mas não consegue.
E nós podemos, então, tranquilamente, abrir os olhos, que demoram a habituar-se à calmaria.
Podemos respirar de alívio.
Podemos descontrair o corpo que, só então, percebemos como estava contraído, e relaxar.
Até à próxima luta, quando tivermos que voltar à rua, e enfrentá-lo novamente.