"Enfrentar o Gelo", na Netflix
Ou enfrentar a bipolaridade, assumi-la e tratá-la, antes que ela destrua a vida daqueles que com ela lidam, diariamente, para o resto da vida.
Kat era uma patinadora exímia, com vários prémios arrecadados e um futuro promissor, até ao dia em que sofreu um acidente na pista de gelo, que mudou toda a sua vida.
Agora, ainda que queira continuar a patinar, e a competir, ela tem nos fantasmas do acidente e no receio, os seus piores inimigos.
Por outro lado, tem que lidar com uma mãe bipolar que, de certa forma, culpa a filha por, devido à maternidade precoce, não ter podido seguir a sua própria carreira de patinadora, depositando todas as esperanças, e transferindo essa missão (e pressão), para as suas filhas. E com uma irmã mais nova que, não tendo também a vida facilitada, consegue ser mazinha, quando quer.
A única, e última, oportunidade de Kat, que lhe poderá devolver a confiança perdida e permitir seguir a sua carreira, é patinar com Justin, a pares, algo que nunca fez, e aprender a confiar em mais alguém além de si mesma.
A série aborda a bipolaridade, sobretudo, através da mãe de Kat, Carol.
E faz-nos questionar até que ponto ela é, realmente, uma má mãe, ou está apenas a precisar de ajuda para lidar com a doença.
Carol confessa, a determinado momento, que tomar a medicação a deixa entorpecida, confusa, e é por isso que, por vezes, a deixa de tomar.
Claro que, depois, o resultado não se faz esperar, e as crises afectam as suas filhas, Serena e Kat.
É viver no limbo.
No entanto, é Carol quem tem a iniciativa de pedir ajuda para si própria, e isso é um grande passo.
Kat, por herança da mãe, ou em parte também despoletado pelo stress pós traumático, é igualmente bipolar, embora consiga estar mais controlada, por não falhar a medicação.
Mas também ela provocará estragos nas pessoas à sua volta, quando decide parar de tomar os comprimidos.
Para além da bipolaridade, a história centra-se igualmente, na competitividade entre patinadoras.
Nas comparações. No querer ser sempre melhor.
Nas críticas que as mães fazem às filhas, ou às filhas das outras, e que as próprias patinadoras fazem às colegas.
Ou até mesmo os ciúmes e competição entre irmãs, como é o caso de Serena e Kat.
Serena é a última esperança de vitória, com Kat a não conseguir patinar como antes, e é para ela que vai, agora, o que um dia já foi para Kat.
Pode parecer que Kat está com inveja, mas a verdade é que, para Kat, patinar é como respirar - não é algo que ela adore fazer, mas não consegue imaginar a sua vida sem fazê-lo. E Kat tem algo muito difícil de encontrar, que a torna especial.
Espaço ainda para abordar o racismo, a amizade, a homossexualidade, as segundas oportunidades, as escolhas e as suas consequências.
E, claro, como não poderia deixar de ser, o amor!