O ensino profissional é para os maus alunos?
No dia em que a minha filha foi à consulta dos 15 anos, a médica perguntou-lhe que área queria ela seguir no ensino secundário, ao que ela lhe respondeu que, provavelmente, seguiria uma área na Escola Secundária mas que, o que gostava mesmo, era de frequentar a Escola Técnica e Prática.
A médica torceu o nariz e sugeriu-lhe que seria melhor para ela frequentar a Escola Secundária, do que a outra.
A verdade é que ainda existe aquela noção (na maioria das vezes errada) de que só os alunos que têm piores notas, que não gostam de estudar ou têm mais dificuldades de aprendizagem, é que acabam por se inscrever em cursos técnicos e profissionais, enquanto os melhores alunos se mantêm no ensino regular.
De acordo com o director de uma Escola Profissional, "O ensino profissional é para todos e é a melhor via de ensino para preparar os alunos para o mercado de trabalho, independentemente de estes seguirem o ensino superior ou não. Quem sai do ensino profissional arranja mais facilmente emprego. Isto acontece devido ao cuidado que as escolas têm em fomentar a aquisição das “soft-skills” (competências subjectivas), tão valorizadas pelo mercado de trabalho."
Eu concordo, e apenas não apoio a minha filha nessa escolha porque, na escola aqui da vila, infelizmente, o ambiente não é o melhor e, de facto, aqueles alunos parecem mesmo andar ali apenas a passar o tempo, enquanto vão fumando, bebendo uns copos e sabe-se lá mais o quê. Não é que na outra também não aconteça, mas não é tão evidente.
Se não fosse esse o caso, e tendo a escola uma oferta que fosse ao encontro daquilo que a minha filha pretende, não hesitaria em inscrevê-la, ao invés de a mandar para o ensino regular, onde pouco irá aprender que, realmente, a prepare para o mundo do trabalho. E duvido até, a nível de conhecimentos.
Certa vez, quando ainda era o meu pai que ia buscar a minha filha ao Jardim de Infância, ele interpelou uns estudantes do secundário, para lhes perguntar algo que, à partida, saberiam. No entanto, nenhum deles soube responder.
Por aí se vê que ensino regular nem sempre é sinónimo de mais conhecimento e, certamente, de melhores notas ou mais inteligência.
É apenas aquele que a maioria escolhe por falta de ofertas de qualidade, porque acreditam que é a melhor forma de aceder ao ensino superior, para aqueles que querem prosseguir os estudos, porque é o normal, aquilo a que estão habituados há gerações, e nem sempre existe apoio para quem queira "quebrar" as regras e optar pela diferença.