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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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O ensino profissional é para os maus alunos?

Resultado de imagem para ensino profissional e ensino regular

 

No dia em que a minha filha foi à consulta dos 15 anos, a médica perguntou-lhe que área queria ela seguir no ensino secundário, ao que ela lhe respondeu que, provavelmente, seguiria uma área na Escola Secundária mas que, o que gostava mesmo, era de frequentar a Escola Técnica e Prática.

A médica torceu o nariz e sugeriu-lhe que seria melhor para ela frequentar a Escola Secundária, do que a outra.

 

 

A verdade é que ainda existe aquela noção (na maioria das vezes errada) de que só os alunos que têm piores notas, que não gostam de estudar ou têm mais dificuldades de aprendizagem, é que acabam por se inscrever em cursos técnicos e profissionais, enquanto os melhores alunos se mantêm no ensino regular.

 

De acordo com o director de uma Escola Profissional, "O ensino profissional é para todos e é a melhor via de ensino para preparar os alunos para o mercado de trabalho, independentemente de estes seguirem o ensino superior ou não. Quem sai do ensino profissional arranja mais facilmente emprego. Isto acontece devido ao cuidado que as escolas têm em fomentar a aquisição das “soft-skills” (competências subjectivas), tão valorizadas pelo mercado de trabalho."

 

Eu concordo, e apenas não apoio a minha filha nessa escolha porque, na escola aqui da vila, infelizmente, o ambiente não é o melhor e, de facto, aqueles alunos parecem mesmo andar ali apenas a passar o tempo, enquanto vão fumando, bebendo uns copos e sabe-se lá mais o quê. Não é que na outra também não aconteça, mas não é tão evidente.

 

Se não fosse esse o caso, e tendo a escola uma oferta que fosse ao encontro daquilo que a minha filha pretende, não hesitaria em inscrevê-la, ao invés de a mandar para o ensino regular, onde pouco irá aprender que, realmente, a prepare para o mundo do trabalho. E duvido até, a nível de conhecimentos.

 

Certa vez, quando ainda era o meu pai que ia buscar a minha filha ao Jardim de Infância, ele interpelou uns estudantes do secundário, para lhes perguntar algo que, à partida, saberiam. No entanto, nenhum deles soube responder.

 

Por aí se vê que ensino regular nem sempre é sinónimo de mais conhecimento e, certamente, de melhores notas ou mais inteligência.

É apenas aquele que a maioria escolhe por falta de ofertas de qualidade, porque acreditam que é a melhor forma de aceder ao ensino superior, para aqueles que querem prosseguir os estudos, porque é o normal, aquilo a que estão habituados há gerações, e nem sempre existe apoio para quem queira "quebrar" as regras e optar pela diferença.

 

 

 

 

 

RVCC Escolar versus Ensino Regular

 

No outro dia estava a conversar com o meu marido sobre a eterna polémica gerada à volta do RVCC Escolar, como forma de obter a equivalência ao 12º ano de escolaridade, por comparação com o ensino secundário regular.

 

Será este método uma espécie de facilitismo?

A verdade é que considero o RVCC bastante útil para aquelas pessoas que, por impossibilidade de ter frequentado o ensino regular na altura em que o deveriam ter feito, sejam quais forem os motivos, e que precisam agora de melhores habilitações académicas para poderem ter mais e melhores ofertas de emprego.

Hoje em dia, ter o 12º ano é um requisito praticamente obrigatório para todas as empresas que estejam a contratar novos funcionários, e é importante que os adultos apostem e invistam na sua formação, utilizando para isso o RVCC ou outras opções semelhantes.

Mas não deixa de ser facilitismo. Não com o sentido negativo que muitos lhe querem associar, mas ainda assim é uma forma mais fácil de se obter algo que a maioria dos jovens tem que adquirir com três anos de estudo, o stress dos trabalhos, testes, horários e aulas de várias disciplinas. É facilitismo porque tem mesmo que o ser. Porque estas pessoas estão, muitas vezes, a trabalhar ao mesmo tempo. Porque algumas já não teriam paciência para andar numa escola como os jovens com idade para ser seus filhos, nem cabeça para tantos estudos.

No RVCC, a pessoa só tem que pesquisar, ler e escrever muito, desenvolver e dar a sua opinião sobre cada tema pedido, e associar esses mesmos temas à sua vida. Fá-lo à sua medida, faz os seus horários e só tem que ir a algumas sessões para esclarecimento de dúvidas, organização do portefólio, e uma prova final. 

 

Se é injusto?

Não me parece. Mesmo que se colocasse a hipótese de um aluno terminar o 9º ano, e poder escolher entre o ensino regular e o RVCC, não teria garantias de que conseguisse atingir o seu objectivo - o 12º ano.

Porquê? Porque apesar de ser um método aparentemente mais fácil, o RVCC nem sempre é o mais aconselhado, dependendo muito da idade, da experiência de vida, da disponibilidade. O RVCC é nada mais nada menos que uma autobiografia, em que se ligam acontecimentos da história de vida com os domínios que são pedidos. Quanto mais velha e mais experiente for a pessoa em causa, mais probabilidades tem de ser encaminhada para este método de ensino, e de o concluir com sucesso.

Nem todos aqueles que se propôem a obter o 12º ano numa das modalidades alternativas é encaminhada para RVCC, podendo antes ir para EFA (Educação e Formação de Adultos), que funciona noutros moldes.

 

Se é útil?

Sim. Provavelmente muito mais útil do que o ensino regular.

Porque o RVCC obriga a muita escrita, muitas pesquisas, muitos conhecimentos, a maior parte deles sobre a actualidade, sobre o mundo, sobre coisas que nos afectam ou dizem respeito, desde ambiente, multiculturalismo, discriminação, política, economia, literatura, trabalho, legislação e tantas outras coisas.

Por vezes, pode-se ficar a saber mais em meio ano de RVCC, do que em três anos de ensino regular!