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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Devem, os médicos, julgar os seus pacientes?

Apontar dedo Foto stock gratuita - Public Domain Pictures

Para mim, os médicos deveriam informar, esclarecer, aconselhar, ajudar...

... mas, em momento algum, julgar.

Infelizmente, ainda se veem médicos a julgar e condenar os pacientes por não seguirem aquilo que, para eles, faz sentido.

Um médico que diz ao doente "Teve covid, foi bem feito! Eu bem disse para levar a vacina." é um bom profissional? Isto é coisa que um médico deva dizer?

 

A par com este tipo de julgamentos está, também, a arrogância de alguns médicos.

Sabemos que o tempo deles é escasso, têm muitos doentes para atender, e que muitos pacientes abusam e falam de tudo e mais alguma coisa.

Mas, logo à partida, cortar a palavra do paciente porque aquilo é a consulta da especialidade "x", e não é para falar de outros problemas, é mau.

Até porque, sem ouvir, o médico não sabe se aquele problema ou queixa que o doente ia referir, não estaria, de alguma forma, relacionado com o da especialidade em que está a ser seguido.

 

Esta semana fui com o meu pai a uma consulta de nefrologia.

O médico, a determinado momento, perguntou que medicação o meu pai estava a tomar.

Com tantos comprimidos que toma, ele não se lembrava dos nomes dos medicamentos. Então disse "Agora assim de repente não sei."

E o médico: "Não sabe? Alguém tem que saber." Isto, dito em tom de reclamação. Como se fosse um crime. 

Lá respondi que era a medicação que constava do processo. Ele consultou e imprimiu a lista, que disse que tem que andar sempre com o meu pai.  

Ora, isto até pode ser senso comum, até pode ser algo básico, mas a verdade é que na família, felizmente, ninguém tinha estado, até agora, em situações como esta. E o médico também nunca o mencionou antes, nas outras consultas a que fomos.

 

Entretanto, fez mais algumas perguntas, e às tantas disse-lhe que não lhe sabia dizer. Até porque o meu pai confunde algumas coisas, e eu nem sempre estou com ele.

Mais uma vez, a arrogância e o julgamento "Ah e tal, do que eu lhe disse aqui há 4 meses lembra-se, mas disso já não. Está bem."

E passado uns minutos: "A pergunta continua em aberto. Estou à espera de uma resposta."

 

Entretanto, viu as análises e informou que o meu pai, para já, está estável.

Com os rins a funcionar a apenas 25%. 

E perguntou ao meu pai o que queria da vida. 

Entregou-nos um monte de informação sobre hemodiálise, ou medicação, as duas alternativas viáveis para o meu pai, e o respectivo consentimento, para assinar, e perguntou se queria decidir já ou se precisava de tempo para pensar.

Sentimo-nos pressionados, como se ele quisesse uma decisão dessas tomada na hora, como quem escolhe que roupa vai vestir naquele dia.

Perguntei-lhe, então, qual a urgência, uma vez que tinha acabado de informar que ele estava estável.

"Ah e tal, estou a ver que não percebeu o que eu disse." Pois, não posso entender o que ele ainda não disse!

Só então é que explicou que, para além de ter essa informação registada no sistema, caso a situação agrave, é necessária toda uma preparação, no caso da hemodiálise, que tem que ser feita previamente, uns meses antes de começar. Mas que, a qualquer momento, pode mudar de ideias.

 

Por fim, e num discurso de "nós é que sabemos, e não erramos, mesmo que nem sempre acertemos", disse ao meu pai que tudo aquilo que mandam fazer, e os medicamentos que prescrevem, é para ajudar o doente, mas que, por vezes, têm efeitos negativos.

E que o doente é livre de fazer ou não fazer, tomar ou não tomar, mas que o médico está ali para fazer o melhor que pode.

 

Enfim, desde a primeira vez que não fui à bola com o médico, e a opinião mantém-se.

Agora, só tenho que levar com ele em Fevereiro do próximo ano.

 

 

 

 

Falar nem sempre é conversar, e conversar nem sempre é comunicar

Hablar no es lo mismo que comunicar - Revista Gente Quintana Roo

 

Falar, conversar, comunicar - três verbos tão parecidos e, ainda assim, tão diferentes!

 

Falar...

Podemos falar sozinhos, para multidões, para quem está ao nosso lado. Podemos falar por falar, para preencher os silêncios. Ou falar para as paredes, como se costuma dizer.

Falar, por si só, parece algo feito, muitas vezes, num sentido unilateral. Fala-se, mas nem sempre se é ouvido. E nem sempre a intenção será essa - ser ouvido, obter feedback, estabelecer uma conversa ou comunicação.

 

Conversar...

Uma conversa exige, à partida, que aqueles com os quais estamos a conversar interajam connosco. Exige atenção, exige retorno.

Mas ainda assim, numa conversa, por mais longa ou aprofundada que seja, é possível que não exista comunicação entre as partes.

 

Comunicar...

Para mim, existe comunicação quando aquilo que estamos a falar ou conversar é compreendido, por quem está a ouvir, e vice-versa, ou seja, quando a mensagem enviada corresponde, exactamente, à mensagem que chega ao receptor. E o sentido dado à mesma é entendido por ambos, ainda que de perspectivas diferentes.

E não são raras as vezes em que a comunicação falha.

Como dizia Luigi Pirandello:

 

"Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?"

 

Se a mensagem enviada com uma determinada interpretação é, quando recebida, interpretada de outra forma, falha a comunicação.

Ainda assim, o importante de voltar a restabelecê-la, não é que ambos interpretem a mensagem da mesma forma, mas que esclareçam e compreendam o ponto de vista e a perspectiva sob a qual cada um a interpretou, evitando mal entendidos que muitas vezes se geram sem necessidade. 

A comunicação funciona como uma ponte, que liga duas interpretações de uma única mensagem, através do entendimento, e gera a cumplicidade.

E quando existem uma verdadeira comunicação, muitas vezes, não são necessárias sequer palavras!

Quantas pedras temos no sapato?

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Desta vez, depois do teste do balão, veio um outro, também muito importante em diversos aspectos da nossa vida, seja nas relações amorosas, familiares, laborais ou amizades.

A ideia era mostrar que tudo aquilo que nos incomoda, e que teimamos em guardar para nós, não desaparece com o tempo. Pelo contrário, vai acumulando, incomodando cada vez mais, até causar ferida. E, depois, será mais difícil sarar. 

 

Se, por cada coisa, assunto ou atitude, que nos incomoda, magoa, entristece ou com o qual não estamos satisfeitos ou agradados, e sobre o qual nunca falámos com quem o fez, colocássemos uma pedra no sapato, quantas pedras teríamos hoje, dentro do nosso sapato? 

Muitas? Poucas? Nenhumas?

 

 

No entanto, ainda antes de fazermos contas às pedras que fomos juntando ao longo do tempo, é importante perceber porque é que elas não foram deitadas fora mas, em vez disso, acumuladas.

 

 

Porque é que temos tendência a não falar daquilo que nos incomoda? Daquilo que não gostamos? 

Porque é que deixamos tanta coisa por dizer, quando a nossa vontade é pôr tudo cá para fora?

Será porque temos receio da reacção da outra pessoa? De como ela irá interpretar o que dissermos? E de acumularmos ainda mais pedras, além das que já tínhamos?

Ou por medo daquilo que, a menção de uma determinada situação, possa despoletar, à semelhança de um castelo de cartas, no qual temos medo de tocar, ou de tirar uma carta que está mal posta, não vá o castelo todo desmoronar-se?

Será por receio pelos outros, ou por nós mesmos?

 

 

Se acontece algo que não gostamos mas, de certa forma, é tão mínimo ou insignificante que pomos para trás das costas e não voltamos a pensar no assunto, então essa é uma pedra atirada fora.

Mas, se apenas fingimos que deixamos passar mas, à mínima oportunidade, essas situações vêm à superfície, então são pedras no nosso sapato, que nos irão acompanhar eternamente, se não nos livrarmos delas.

E a melhor forma de o fazer, é falar sobre elas com as pessoas que lhes deram origem.

Muitas vezes, uma conversa franca evita desconforto desnecessário, que pode levar ao rebentar do balão de forma explosiva, enquanto poderíamos estar a mantê-lo cheio e leve, com sopros de ar fresco, que o fizessem continuar a flutuar, sem medos. 

E volta e meia, lá vêm os burlões tentar enganar mais alguém!

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Há umas semanas, tinha acabado de almoçar, em casa da minha mãe, quando fui à minha casa levar umas coisas. Na volta, vi dois homens, de pastinha na mão, a bater à porta das vizinhas. 

Avisei a minha mãe, para que esta não abrisse a porta, se lá fosse alguém bater. Voltei à minha casa para levar uma encomenda.

Ainda por ali andavam e, um deles, ao ver-me dirigir a uma casa, aproveitou e veio logo falar comigo.

 

 

Com muita (demasiada) simpatia, lá disse o nome, perguntou-me como estava, e explicou que andavam ali a falar com os moradores, para saber se estavam a pagar uma taxa qualquer (não fixei) que se aplica ao gás natural e à electricidade.

Perguntou-me se eu pagava essa taxa, e disse-lhe que não fazia a mínima ideia.

Perguntou-me se eu tinha gás natural. Respondi-lhe que não.

"Ah pois, então assim só deve pagar na conta da electricidade."

Voltei a responder que não fazia ideia.

E foi aí que ele se saiu com a frase mágica "ah e tal, se tiver aí uma factura, podemos ver já isso"

"Pois, neste momento não posso ver isso, estou com pressa, só vim deixar aqui isto e tenho que voltar ao trabalho."

"Ah e tal, mas não demora mais do que 5 minutos!"

"É como lhe disse, agora não posso. Depois vejo isso e, se for o caso, logo se vê."

E lá se foi embora, agradecendo, e dirigindo-se à próxima porta.

 

 

Em primeiro lugar,  apenas disse o nome, e nem sequer referiu de que empresa era, ou sequer explicou o que era a tal taxa de que estava a falar.

Suponho que fosse da Iberdrola, ou da Endesa, que são as que costumam actuar por aqui embora, na maioria das vezes, omitam essa informação e apenas façam menção à EDP.

Em segundo lugar,  já se sabe o que eles pretendem fazer com a nossa factura na mão. E não é boa coisa! Normalmente, retiram os nossos dados e, quando menos esperamos, passamos a ter um qualquer contrato com outra empresa, sem sabermos.

 

 

À porta de uma vizinha, foram os dois. Enquanto ela mostrava a factura e ia respondendo às perguntas, o outro tomava notas. Quando se apercebeu disso, e como já tinha sido enganada uma vez, mandou-os embora. Não se sabe se a tempo de evital males maiores.

À minha mãe, também foram, mas ela nem sequer abriu, escaldada que está, e de sobreaviso.

 

 

A forma de actuar é quase sempre a mesma.

Pedem a factura, com a desculpa de que querem ajudar as pessoas a poupar, a pagar menos, com a oferta de descontos ou outra do género, e preenchem formulários de adesão com os dados da pessoa.

Por norma, costumam dizer que fica tudo igual, mas passam a pagar menos no final do mês. Não explicam que a pessoa deixa de ter contrato com determinada empresa, e passa a ter com outra.

No fim, pedem à pessoa para assinar o formulário para ter direito à ofertas/ promoções ou, por vezes, com a desculpa de que é só para os superiores saberem que a pessoa tomou conhecimento e que eles fizeram o seu trabalho.

 

 

Dias depois, a pessoa, através de carta ou outro contacto, fica a saber que o seu contrato mudou para outra empresa, quando nunca fora isso o pretendido. 

E são problemas e chatices a dobrar, a partir daí, para reparar os erros e voltar a repôr tudo como estava antes.

 

 

Por isso, nunca é demais relembrar (até mesmo para os mais novos e melhor informados):

- se vos baterem à porta e virem pessoas a pares, ou uma sozinha com uma pasta na mão, e desconfiarem, optem por não abrir a porta, sobretudo se estiverem sozinhos

- se por acaso abrirem, e estiverem acompanhados, peçam ajuda a alguém que esteja convosco, em caso de dúvidas; se estiverem sozinhos, apenas oiçam, fiquem com o contacto e digam que ligarão mais tarde

- nunca, mas mesmo nunca (a não ser que estejam bem informados e cientes do que querem), dêem qualquer factura para a mão dessas pessoas, ou forneçam informações vossas, que possam vir a ser usadas indevidamente

- nunca, mas mesmo nunca (a não ser que estejam bem informados e cientes do que querem), assinem qualquer documento que vos peçam para assinar

 

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O que escondem as perguntas?

 

Porque fazemos perguntas? O que pretendemos com elas? O que escondemos nas suas entrelinhas?

Perguntamos porque temos dúvidas? Ou para desfazer certezas?

Perguntamos porque queremos saber as respostas? Ou serão perguntas capciosas, para as quais já sabemos as respostas e só pretendemos confirmação?

Perguntamos para que nos respondam? Ou serão perguntas retóricas, apenas para reflexão?

Dizem que, em caso de dúvidas, devemos sempre perguntar. Mas será que podemos, ou devemos, fazer sempre as perguntas que nos passam pela cabeça? Ou será melhor, em determinados momentos, guardá-las?

Perguntar ofende? Há quem diga que não. Há quem defenda que sim. Eu digo que há maneiras diferentes de fazer uma mesma pergunta, dando-lhe voluntaria ou involuntariamente, sentidos e objectivos distintos.

Há quem pergunte para esclarecer ou para se informar, há quem pergunte para compreender, e há quem pergunte adequada e oportunamente dentro de um determinado contexto, numa conversa normal. Há perguntas que são pertinentes.

Mas há, também, quem pergunte para agredir, quem pergunte para ofender, quem pergunte para acusar, quem pergunte para recriminar, quem pergunte para afirmar.

Há quem pergunte, não para esclarecer, mas para semear dúvidas.

Existem perguntas simples, básicas e directas. Mas uma pergunta pode esconder muito nas suas entrelinhas, ter duplo sentido ou dupla intenção.  

Há perguntas para as quais não existe resposta. E aquelas perguntas que, pura e simplesmente, nem merecem resposta!