Meter o bedelho onde não se é chamado
Acontece muito.
E na minha zona não é excepção.
Há uns tempos, alguém tinha deixado um carro mal estacionado, a estorvar o caminho de um vizinho que precisava de passar.
O dito vizinho buzinou. Uma, duas, várias vezes, e ninguém apareceu.
Saiu do carro, foi bater a uma ou outra porta para ver se era de alguém dali, ou que estivesse ali de visita. Sem sorte.
Uma vizinha, que mora em frente a mim, logo saiu de casa e ficou ali, solidária, como se a presença dela ajudasse a resolver a questão e o dono do carro, miraculosamente, aparecesse.
Quando já o vizinho pensava em chamar a GNR, ao fim de uns 10/15 minutos, lá apareceu a condutora.
Ainda houve ali uma troca de palavras, com a vizinha prestável a assistir a tudo e a dar um ar da sua graça.
Esta semana, o meu marido veio a casa e, não havendo lugar para estacionar, parou à nossa porta.
Era óbvio que estava a impedir a passagem mas, pensou ele, era uma coisa temporária e se, nesse meio tempo, alguém precisasse passar, era só apitar que ele tirava.
Bem dito, bem feito.
Estava ele na casa de banho, buzinam.
Avisei-o, para que se despachasse.
Fui à rua, entretanto, e avisei a condutora que era só um bocadinho, que no meu marido já tirava o carro.
Não sei se ela percebeu, fez apenas uma expressão com a cara, e continuou no mesmo sítio mas não voltou a buzinar.
O meu marido nunca mais se desenrolava e, às tantas, batem à porta.
Pensei: deve ser a senhora que já está farta de esperar e veio aqui ver se o meu marido se despachava, que ela tem mais que fazer do que passar ali o resto da noite à espera.
E tinha toda a legitimidade para o fazer. Era a única que a tinha.
Mas não.
Pelo que percebi, foi a minha vizinha da frente, que mora ali há anos e nos conhece há outros tantos, que ali foi bater à porta.
E com que intenção?
Não, não foi avisar que havia alguém que queria passar.
Foi para "meter o bedelho onde não era chamada".
Para recriminar, porque a senhora tinha duas crianças pequenas dentro do carro, e que o meu marido não tinha consideração.
Para acusar o meu marido de ter parado ali o carro de propósito, por maldade.
Porque já não era a primeira vez.
E ainda falou em chamar a GNR.
A maior prejudicada, que era a senhora que queria passar, ao que parece, esperou, o meu marido pediu desculpa, tirou o carro, e ela foi à sua vida.
Mas esta nossa vizinha, não sei se recebe à comissão, por solidariedade, intrometeu-se e ainda fez acusações infundadas.
Quando, numa outra ocasião, em que era ela que queria passar, e apesar de o meu marido estar bem estacionado, foi ele que a desenrascou.
Enfim...
Não tenho nada contra a vizinha. Fala-me bem.
Mas sempre disse ao meu marido que me soava a pessoa falsa.
E, pelos vistos, metediça.