A desresponsabilização dos professores no ensino à distância
Neste terceiro período, aquilo a que tenho vindo a assistir, no que respeita às aulas à distância e aos modelos de ensino adaptados pelos professores, traduz-se, em grande parte das disciplinas, em desresponsabilização.
Os professores livraram-se, convenientemente, de explicar a matéria, para deixar o estudo e aprendizagem da mesma por conta dos alunos.
São enviados powerpoints, vídeos, até aulas da telescola da RTP Madeira, e planos de estudo com as páginas do manual a ler, e os exercícios para fazer.
Depois, em caso de dúvidas, podem-nas retirar com os professores.
Apesar de haver aulas síncronas, estas servem, muitas vezes, para transmitir informações, esclarecer dúvidas, ou indicar mais trabalhos para fazer. Poucas vezes são uma aula minimamente normal.
Não é, de todo, a melhor forma de ensino e aprendizagem.
Mas é preciso que estudem, e que fique o essencial na cabeça. Não há tempo a perder, é preciso terminar os conteúdos deste ano até porque, no próximo ano, vão avançar para a matéria desse mesmo ano, e esta será considerada dada e concluída.
Acho que querem tanto ajudar os alunos (será que é isso que querem mesmo?), não dando o ano por perdido, e sem intenções de prolongar as aulas por mais uns meses, alterando todo o calendário escolar, que estão a acabar por prejudicar muitos deles.
Está a ser exigido, aos professores, que leccionem os conteúdos previstos num ano de ensino normal, o que os leva a ter que cumprir programas e, sob pressão, despejar a matéria em cima dos alunos, e trabalhos exagerados que nunca fariam numa situação normal.
Os alunos são “obrigados” a perceber as coisas por si mesmos, e pressionados a mostrar trabalho todos os dias.
Acredito que, desde que começou o ensino à distância, nem sequer resta tempo para os alunos relaxarem, terem momentos de pausa, estar com a família sem pensar em estudos.
A minha filha, antes com duas tardes e uma manhã livre, passa agora os dias entre aulas e trabalhos, incluindo fins de semana e feriados, em verdadeiras maratonas.
As dores de cabeça passaram a ser uma constante, porque um dia inteiro à volta do pc, manuais e exercícios, não dá saúde a ninguém.
E para quê?
Para no final do ano se limitarem a dar as mesmas notas que tiveram no segundo período?
Para, no próximo ano, perceberem que não estão minimamente preparados para avançar, porque ficou muito para trás, para explicar?
Por mais autonomia que possam ter, ou métodos de estudo, por algum motivo existem aulas presenciais. Se não, toda a gente estudava em casa e deixava de haver escolas abertas.
Por algum motivo são precisos professores, para ensinar.