E, de repente, os filhos ganham asas!
E tornam-se, verdadeiramente, adultos!
Passadas as férias de verão, chegou o momento de a minha filha dar um rumo à vida, já que não queria prosseguir os estudos.
Portanto, começou por inscrever-se no IEFP, onde se candidatou a algumas ofertas de emprego, e onde ficou inserida num Programa ou Plano de Procura de Emprego.
Inscreveu-se também na Net Empregos.
Fez o seu currículo, e enviou candidaturas espontâneas para alguns trabalhos que lhe interessavam, para o caso de terem uma vaga disponível.
Duas das candidaturas do IEFP foram aprovadas, e recebeu cartas para entrar em contacto com as ditas empresas, para envio de currículo e marcação de entrevista. Ninguém lhe respondeu de volta.
Recebeu uma proposta de curso, do IEFP, online, remunerado. O valor pago não é muito, e também não era bem a área que ela gosta, por isso, respondeu que tinha mais interesse noutras áreas, pelo que foi reencaminhada para outra técnica (não sei bem se será esse o termo), que depois lhe mostrará outras propostas.
Entretanto, num dia em que fui às compras, numa loja que está em obras, vi que estavam a recrutar pessoas para se juntarem à equipa. Ia tirar foto. O meu marido disse: "Ah, isso é informática, ela não percebe nada de arranjo de computadores". Não tirei foto. Entrámos no supermercado. Vimos um balcão na loja.
Pensei: "Se calhar também é atendimento ao público. Não perdemos nada." Voltei atrás, e tirei foto.
Nesse sábado, a minha filha enviou o curriculo, em resposta.
Na segunda-feira, ligaram-lhe, para marcar entrevista.
Tentámos tranquilizá-la e dar-lhe algumas dicas, mas até nem foi preciso.
Foi uma confusão porque coincidiu, quase ao segundo, com o envio dos currículos para a oferta do centro de emprego e, então, ela achou que ia a uma entrevista para uma dessas ofertas. Só quando lá chegou, percebeu que não.
Mas ainda bem!
Precisavam de uma pessoa para atendimento ao público. A loja ainda não vai abrir, mas têm outras, e perguntaram-lhe se queria experimentar.
Ela disse que sim.
Foi à entrevista num dia de temporal e eu pensei: isto tem tudo para correr mal. Afinal, até correu bem.
E foi assim que, ontem, deu início a uma nova etapa na sua vida: o mundo laboral!
Não sei se estava mais nervosa ela, ou eu.
Uma pessoa não quer falar muito, para não agoirar. Não quer fazer a festa, sem certezas.
Mas claro que queremos que tudo corra bem.
Que ela goste. E que gostem dela.
Não é fácil arranjar trabalho nesta zona. Menos ainda, só com o 12º ano, a não ser para os hipermercados, cadeias de fast food e afins.
Não a pressionámos para aceitar. Não tinha que ser já.
Mas é algo dentro do que ela queria.
Atendimento ao público, numa loja de informática.
E ela estava entusiasmada.
Ontem foi o primeiro dia.
Acordar cedo.
Apanhar o autocarro.
Esteve uma parte da manhã numa das lojas. Depois, levaram-na para a outra.
Tem que almoçar lá no trabalho.
Como tinham que vir a uma outra loja à tarde, deram-lhe boleia, e deixaram-na à porta de casa.
Hoje, já foi directamente para a loja onde vai aprender.
Levantar ainda mais cedo.
Estava uma manhã péssima, vento, trovoada.
Mal entrou no autocarro, caiu uma chuvada.
Felizmente, ao chegar lá à paragem, não chovia.
Ainda tinha o caminho a pé pela frente, e não sabia quanto tempo demorava até ao local de trabalho, que ainda fica a alguma distância.
Como tinha tempo, foi vendo as paragens existentes nessa estrada para, em dias como o de hoje, apanhar um outro autocarro que por ali passa, e que a deixa perto do trabalho (tínhamos estado a ver no google maps, mas havia umas que não apareciam).
E passou por ela o dito autocarro pelo que, se o horário se mantiver, dá tempo.
É certo que ainda está à experiência.
Que podem até não querer ficar com ela.
Mas já estamos muito orgulhosos por ela ter esta vontade, esta iniciativa, ir sem medos, e querer mesmo fazer pela vida.
E, claro, a torcer para que assine contrato e, se tudo correr bem, que venha para a loja aqui de Mafra.
Até lá, tudo o que fizer é experiência. Sair da sua zona de conforto.
Conhecer outra realidade, que não a dos estudos.
De repente, a minha filha ganhou asas, e está a aprender a voar!