Maria Ana Bobone estreou-se no fado com apenas 16 anos, e conta hoje com seis álbuns na sua discografia: Alma Nova, Luz Destino, Senhora da Lapa, Nome de Mar, Fado & Piano, e Smooth, sendo considerada uma das mais talentosas artistas da sua geração.
“Alma Nova” foi o primeiro, gravado em parceria com dois outros fadistas. Seguiram-se “Luz Destino” e “Senhora da Lapa” que contam, para além da guitarra portuguesa, com novos instrumentos como o cravo e o saxofone.
“Nome de Mar” trouxe-lhe o merecido reconhecimento público e recolheu excelentes críticas, mostrando um trabalho onde Maria Ana canta grandes poetas em brilhantes fados originais.
Com diversas actuações nas principais salas de espectáculos portuguesas, como o Centro Cultural de Belém ou a Casa da Música, e também como convidada em festivais e salas um pouco por todo o mundo, Maria Ana consegue, de uma forma brilhante, dignificar ainda mais o nosso fado!
Compositora, pianista e intérprete, Maria Ana lança, em Junho de 2012 "Fado & Piano", trabalho que conta com a colaboração do produtor Rodrigo Serrão, e no qual elege o piano como instrumento para acompanhar o fado, tocando ela própria todos os temas ao piano.
No entanto, no seu mais recente álbum – “Smooth”, e assumindo a composição da maioria dos temas, a artista troca o fado por outras sonoridades como o jazz, o country e até o pop/rock, mostrando a sua versatilidade, e uma outra faceta até agora desconhecida do público.
Com o dueto com Mikkel Solnado em "If The Stars Were to Waltz" e o hino “My wings”, “Smooth” é também um trabalho com uma vertente solidária, exclusivamente dedicado à luta contra a leucemia, revertendo os lucros na sua totalidade para a Associação Portuguesa Contra a Leucemia.
É ela a minha convidada de hoje da rubrica “À Conversa com…”, a quem desde já agradeço por ter aceitado o meu convite!
Maria Ana, como é que o fado surgiu na sua vida?
O fado surgiu na minha vida como uma peripécia do destino. Cantava eu aos domingos numa igreja, integrada num Grupo Coral, quando o fadista João Braga ao ouvir-me cantar decidiu convidar-me para o seu próximo espectáculo. A condição era a de que eu teria de cantar fado. E assim foi. Ao fim de bastantes ensaios, outros tantos concertos, muitos conselhos e convívios artísticos, comecei a prestar a devida atenção a este género tão particular e que viria a ser posteriormente um lugar onde me sinto verdadeiramente em casa. Três anos depois gravei pela primeira vez.
Sendo o fado feito de músicas que transmitem, por exemplo, sentimentos profundos da alma, sofrimento, saudade ou o destino, considera que existe uma idade certa para se começar a cantar fado e passar com toda a alma a mensagem que se pretende, ou qualquer pessoa, independentemente da idade, pode seguir por este caminho?
A maturidade é, sem dúvida, importante para que possamos verdadeiramente encarnar as palavras que dizemos em alguns fados. No entanto, não é impossível cantar-se muito bem apesar de se ter ainda pouca idade. Isto porque o fado é também música, vai é ganhando profundidade à medida que nos identificamos cada vez mais o percebemos cada vez melhor os poemas que estamos a dizer.
Portugal continua a ser um país de grandes fadistas?
Com certeza que sim. Fado tem tido um dinamismo musical e um interesse crescente por parte de jovens cantores e cantoras além de músicos e compositores. Num outro sentido está enraizada no modo de ser português um certo gosto pela nostalgia fadista que faz com que, se prestarmos atenção, nos identifiquemos e sintamos especialmente esta forma artística que é o fado.
Estava a ler no outro dia, num livro de ficção, que um americano a ouvir uma fadista numa casa de fados em Lisboa, mesmo não percebendo uma única palavra de português, estava rendido à sua actuação, à sua profundidade, e tinha conseguido captar toda a emoção que a fadista quis transmitir.
Tendo a Maria Ana actuado, não só em Portugal como também em vários outros países, também nota essa mesma receptividade e interpretação do nosso Fado? Pode-se mesmo considerar o fado como uma linguagem universal?
O fado trata de sentimentos que, esses sim, são universais. É através da expressão dos cantores e músicos em cima do palco que a energia das emoções é transmitida, ultrapassando as barreiras da linguagem verbal, fazendo uma comunicação intensa com o público que as recebe. É desta forma que se pode considerar o fado um veículo de uma linguagem universal.
Em “Smooth”, trocou o fado por outros géneros musicais. O que a levou a optar pelo jazz, country e pop/rock?
Este projeto corresponde a uma vontade artística de sempre. Na adolescência tive, como muitos outros colegas, uma fase mais pop rock em que me entretinha a tirar de ouvido as músicas de então e fazer "covers" para os amigos. Tinha um especial carinho pela música country e folk. Neste trabalho (todo ele executado por músicos de fado, à exceção de António Palma) pudemos todos nadar noutras águas e isso foi muito estimulante.
Este trabalho tem uma vertente solidária. Pode falar-nos um pouco sobre o que a levou a apoiar desta forma a Associação Portuguesa Contra a Leucemia?
O apoio à Associação Portuguesa Contra a Leucemia veio a propósito de me ter sido pedido que actuasse num dos seus jantares de angariação de fundos. Toda a equipa aceitou a fazê-lo pro-bono e sem restrições. E como consequência desta ação, o meu editor (Rodrigo Serrão) e eu decidimos intensificar a nossa ajuda a APCL desta forma fazendo reverter para lá todos os lucros do CD.
Qual tem sido a receptividade e feedback do público a este novo álbum tão diferente daquilo a que nos tem vindo a habituar?
Tem sido fantástica a adesão do público ao estilo smooth, apesar da pouquíssima divulgação que teve.
Para além de um novo género musical, apresenta-nos também músicas cantadas em inglês, como “If The Stars Were to Waltz" e “My wings”. Como foi deixar o português e aventurar-se em temas cantados num outro idioma?
Cantar em Inglês permite usar a voz com outros timbres, explorar novas sonoridades e ainda mostrar outra “personalidade” artística. É muito natural e fácil para mim, gosto muito de cantar em Inglês, talvez por ter tido numa primeira infância muito contacto com a língua.
Num futuro trabalho, tenciona voltar a enveredar por caminhos diferentes, ou é mais provável voltar às raízes do fado?
A seu tempo saberei. Mas a inclinação é agora para voltar à lingua materna.
Onde é que vamos poder ouvir a Maria Ana Bobone este ano? Já tem algumas actuações agendadas?
Estarei no dia 31 de Março no Meo Arena (Lisboa) no concerto Novo Futuro, ou no Coliseu do Porto, dia 19 Abril na Gala da Smooth Fm.
Muito obrigada!
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