A hipocrisia, o politicamente correcto, a frontalidade e a falta de respeito
Há quem diga que, hoje em dia, a hipocrisia se disfarça, e se protege, sob a prática do "politicamente correcto", para não ferir susceptibilidades e magoar aqueles a quem é dirigida.
Da mesma forma, há que diga que, hoje em dia, a frontalidade é, muitas vezes, confundida com o direito a uma certa agressividade ou, até, falta de respeito, para com aqueles a quem se quer transmitir a mensagem.
Na verdade, a linha que separa estes conceitos é muito ténue.
Uma pessoa hipócrita acaba por, de certa forma, faltar ao respeito ao não ser honesta. Mas nem sempre. Por vezes, a intenção é só mesmo não se chatear, e não magoar o próximo.
No mesmo sentido, ser frontal é uma forma de se ser verdadeiro para com o outro, acreditando que a mentira magoará mais, a longo prazo, que a verdade, naquele momento em que é dita. Mas, por vezes, a forma como essa verdade é dita também poderá constituir uma falta de respeito, se a pessoa a proferir com agressividade, com maldade, com intenção de ferir.
Ainda assim, é uma linha demasiado grande para que eles se misturem, se se souber separar as águas.
Ser hipócrita é fingir algo que não se sente. É agir propositadamente com falsidade. Por vezes, vem acompanhada de ironia, de gozo, de inveja.
É, muitas vezes, um falso moralismo.
Ser politicamente correcto, é adoptar uma conduta que se assume como correta, mas que não corresponde ao que, de facto, as pessoas pensam ou fazem no seu dia a dia. Por vezes, e em determinados contextos e situações, é necessário adoptar essa postura, sem que isso magoe quem quer que seja.
É ajustar. Adaptar. Ao género do ditado "em Roma, sê romano".
É filtrar. Ocultar. Minimizar. Ao género da máxima "Se não tens nada de bom para dizer, está calado".
É, muitas vezes, querer agradar a gregos e a troianos. Não é por mal. É querer estar bem com todos. E que todos estejam bem consigo.
É querer, quando em grupo, e perante personalidades e características diferentes, manter uma certa harmonia, paz, tranquilidade.
Ser frontal é, no fundo, ser honesto.
Consigo. E com os outros.
É mostrar aquilo que se sente. Que se pensa.
É ser sincero. Sem necessidade de ofender.
Sem se sentir melindrado, por o fazer. Por não se saber qual será a reacção, do outro lado. Por não se saber se esse ponto de vista, ou opinião, será aceite, ou mal visto, perante os outros.
E se seremos recriminados por tal atitude.
Porque, se assim for, a tendência a ser politicamente correcto, será cada vez maior.
E, depois, cria-se a convicção de que vivemos num mundo cheio de hipocrisia.
Que, se calhar, até nem é mentira...