O papel mais difícil de desempenhar na vida
São dois, na verdade.
O papel de pai/ mãe. E o papel de filho(a).
Não é fácil ser filho(a).
Há que corresponder a demasiadas expectativas que, para si, foram criadas, pelos pais. Ao nível de exigência que lhes é imposto.
Estão, muitas vezes, sujeitos a comparações com irmãos, colegas, amigos, filhos de amigos dos pais.
Estão, muitas vezes, condicionados pelos pais, pela função que exercem, pelo papel que têm na sociedade, e nos seus grupos.
E, como se isso não bastasse, ainda têm que lidar com os seus próprios problemas.
Com a aceitação dos colegas e amigos, gerando sentimento de pertença a algo. Ou com a exclusão, se não se identificarem com o grupo.
Têm que aprender a viver num mundo que é só deles, e os pais pouco poderão fazer para tornar esse mundo melhor. Podem dar-lhes ferramentas. Mas não podem travar as suas lutas.
Podem até compreender. Mas não são eles que estão a viver.
E gera-se frustração, desilusão, impotência, solidão.
Não é fácil ser pai/ mãe.
Porque não há livro de instruções. Nem receita para esse papel.
Podemos dar tudo o que temos aos filhos. Todo o amor, toda a compreensão, todo o apoio, todo o carinho. Todo o nosso tempo. E, ainda assim, não ser suficiente. E, ainda assim, descobrirmos que tudo falhou.
Da mesma forma que, muitas vezes, falha com aqueles pais que não têm tempo para dedicar aos filhos, e os deixam entregues a si mesmos.
Porque, na verdade, é impossível conhecer os nossos filhos na totalidade.
Eles só nos mostram a parte do seu mundo que querem que nós vejamos. A outra, só eles sabem.
E nós, seja porque não conseguimos ver mesmo, porque fazemos por não ver, ou porque estamos demasiado ocupados a olhar para outro lado, estamos longe de perceber o lado não visível.
Criamos uma imagem dos filhos, e é com ela que vivemos. Não significa que seja verdadeira. Ou totalmente verdadeira.
E é algo que nunca iremos conseguir ver, se os nossos filhos não se sentirem à vontade para mostrar. Se não sentirem que o podem fazer. Se não acreditarem que vale a pena.
Por outro lado, eles são eles, e têm uma palavra a dizer sobre a sua vida. Sobre quem são. Sobre quem irão ser. Nem tudo está nas nossas mãos e, como tal, nem sempre há algo que possamos fazer.
Mais uma vez, gera-se frustração, desilusão, impotência, solidão.
Depois, há, por vezes, um grande desencontro de pensamentos e intenções entre estas duas gerações, que levam a que a relação, em vez de se fortalecer, enfraqueça e que ambos, em vez de se unirem, se afastem.
Os pais, adultos, com experiência, acham sempre que sabem o que é melhor para os filhos. Qual a melhor forma de os educar para que se tornem adultos "funcionais", integrados e aceites pela sociedade.
Os filhos, acham que os adultos não são capazes de os compreender e, como tal, não os conseguirão ajudar, estando entregues a si mesmos.
Os pais, tentam não se meter muito na vida dos filhos porque acham sempre que eles veem isso como uma intromissão, invasão de privacidade, e não gostam.
Os filhos, acham sempre que os pais não perguntam nada, porque não querem saber, porque andam demasiado ocupados para se preocuparem com eles.