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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"A Jovem e o Mar", no Disney+

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Este filme aborda a história verídica de Trudy Ederle, a primeira mulher a atravessar, a nado, o Canal da Mancha, a 6 de Agosto de 1926, com apenas 20 anos.

 

Numa época em que apenas aos rapazes era permitido nadar e competir, e apesar do risco que corria de vir a ficar surda, em consequência do sarampo, ao qual sobreviveu quando era criança, Trudy logrou, com muita persistência, resiliência, perseverança, teimosia e coragem, levar a sua ideia avante.

 

Contra a mentalidade machista da época, contra as expectativas e, literalmente, contra todos os obstáculos e adversidades da travessia, Trudy conseguiu aquilo que nenhum outro nadador tinha alcançado até àquela data, num total de 14 horas e 31 minutos, e teve o maior desfile em homenagem a um atleta, na história de Nova Iorque.

 

A criança que queria nadar, porque a irmã Meg também nadava, mas que toda a gente desvalorizava, porque não tinha jeito, teve a sorte de encontrar uma treinadora que, apesar de relutante, decidiu dar-lhe uma oportunidade e treiná-la, ficando surpreendida com a forma como, em pouco tempo, ela superou quase todas as suas outras alunas.

 

A mulher que se recusou a não ter uma palavra a dizer sobre o seu destino, que lutou contra a sociedade que dificultava as competições, deliberadamente, às mulheres, como se as quisessem reduzir à sua insignificância, através do boicote, foi aquela que, um dia, pôs todos a gritar o seu nome, deixou todos orgulhosos e estupefactos, e que mudou a história do desporto no feminino.

 

Destaque ainda, neste filme, para a força das mulheres, nomeadamente, a mãe de Trudy, que sempre fez tudo para que a filha concretizasse o seu sonho, apesar do receio constante de a perder, e da sua treinadora Charlotte, que sempre acreditou em Trudy, e depositou nela toda a sua fé - duas mulheres que fizeram a diferença, perante a mentalidade retrógada da época.

 

Em "A Jovem e o Mar" percebemos como é importante o apoio da família, como tudo se torna mais fácil quando sentimos que ela está lá para nós, que não estamos sós e abandonados à nossa sorte. Que, apesar do receio, e ainda que não consigamos alcançar aquilo a que nos propusemos, ela torce por nós.

 

Um filme do género de Nyad, mas numa outra época, com muito menos conhecimentos e tecnologias de suporte a feitos como estes, que vale a pena ver.

 

 

 

 

Imagem: disneyplus

 

Um Amor Incondicional (Redeeming Love)

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Quantas vezes serão necessárias "resgatar" alguém, até que a pessoa perceba que esse resgate não é uma nova prisão?

Até que perceba que aquele resgate significa liberdade?

Um recomeço?

Uma nova oportunidade?

Na verdade, só é necessária uma: aquela em que a própria pessoa se resgate a si mesma!

Acho que isto resume a história deste filme.

 

Angel era a prostituta mais desejada e cobiçada daquele bordel. 

E, ao contrário das colegas, ela parecia resignar-se com aquela vida, sem planos para o futuro, sem sonhos, sem qualquer tipo de sentimento.

No fundo, ela encerrou-se a si, a todas as suas memórias,  e a tudo o que de bom viveu há muitos anos, num lugar bem escondido, transformando-se apenas num corpo presente.

Vendida para a prostituição ainda criança, após a morte da mãe, abandonada, de uma forma ou de outra, por todos, à sua sorte, a menina doce e feliz que ela, um dia, foi deu lugar a uma mulher fria que, a determinado momento, convencida de que nunca voltará a ter a sua vida de volta, até prefere morrer.

 

Michael é um agricultor que quer casar e construir uma família, e pede a Deus que lhe dê um sinal, da mulher que ele escolher para si. 

É assim que chega até Angel.

E a resgata uma vez. E outra vez.

Mas ela parece não aceitar que merece aquilo que ele tem para lhe dar: o seu amor, e uma vida nova.

Por isso, ela acaba sempre por fugir. Por voltar àquilo que conhece. Ora por livre vontade, ora forçada.

E Michael acaba por perceber que não adianta ir buscá-la de novo. Ela terá que vir por si mesma. Se ela assim quiser.

 

São muitos fantasmas e demónios do passado que a impedem de ver o que pode ser o seu futuro.

Angel parece condenada, sobretudo quando a pessoa de quem ela fugiu há muitos anos, a reencontra de novo, e a ameaça.

Resta saber se Angel irá arranjar coragem para, finalmente, se salvar, a si, e a outras meninas que estão agora a passar pelo pesadelo que ela já passou, e que lhe roubou toda a confiança, inocência, e felicidade.

 

 

Disponível na Netflix, e penso que também na Prime Video.

"Isto Acaba Aqui", de Colleen Hoover

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Uma notícia, entre tantas outras, fez-me chegar ao filme, que irá estrear em Agosto, nos cinemas.

E o filme, fez-me chegar ao livro, da autora Colleen Hoover.

 

"Isto Acaba Aqui" é, para além de um romance, uma história de superação. E aborda realidades bem presentes na nossa sociedade actual: negligência e abandono parental, e violência doméstica.

O começo é tão leve, tão promissor, tão fácil e quase tão perfeito que, quando a cena que mudará tudo acontece, é quase como se também o leitor tivesse sido atingido por ela.

 

O livro conta a história de Lily, agora com 23 anos, e alterna entre a sua vida actual, na qual conhece Ryle, e se torna proprietária de uma loja de flores, e o seu passado, contado através dos diários que escreveu na sua adolescência, e do qual faz parte Atlas, o seu amor dessa altura que, agora, inesperadamente, surge de novo na sua vida.

 

No passado, Lily salvou Atlas, de variadas formas.

Pela sua generosidade, preocupação, gentileza, empatia, amor. Por simples gestos.

Foi a única que lhe deu a mão, quando ele não tinha mais a que (quem) se agarrar, depois de a própria mãe o ter expulsado de casa, e ele não ter um tecto, nem dinheiro, nem comida.

 

Será, agora, no presente, a vez de Atlas salvar Lily?

A verdade é que ele a conhece melhor que ninguém. Sabe o que ela já passou, com os pais, e como isso a marcou.

E ele não vai permitir que, desta vez, seja ela a vítima.

Resta saber se a própria Lily se considera uma. Ou se o seu sentimento por Ryle é tão forte que apaga tudo o resto.

 

Penso que esta mensagem vale por tudo aquilo que eu poderia falar sobre o livro:

"Ciclos existem porque é doloroso acabar com eles. Interromper um padrão familiar é algo que requer uma quantidade astronómica de sofrimento e de coragem. Às vezes, parece mais fácil simplesmente continuar nos mesmos círculos familiares em vez de enfrentar o medo de saltar e talvez não fazer uma boa aterragem.

Por muito que custe escolher, ou quebramos o padrão, ou é o padrão que nos quebra."

 

Sinopse:

"O que te resta quando o homem dos teus sonhos te magoa?
Lily tem 25 anos. Acaba de se mudar para Boston, pronta para começar uma nova vida e encontrar finalmente a felicidade. No terraço de um edifício, onde se refugia para pensar, conhece o homem dos seus sonhos: Ryle. Um neurocirurgião. Bonito. Inteligente. Perfeito. Todas as peças começam a encaixar-se.
Mas Ryle tem um segredo. Um passado que não conta a ninguém, nem mesmo a Lily. Existe dentro dele um turbilhão que faz Lily recordar-se do seu pai e das coisas que este fazia à sua mãe, mascaradas de amor, e sucedidas por pedidos de desculpa.
Será Lily capaz de perceber os sinais antes que seja demasiado tarde?
Terá força para interromper o ciclo?"

 

"Little Women" - "Mulherzinhas"

Is 'Little Women' on Netflix UK? Where to Watch the Movie - New On Netflix  UK 

 

Numa fase em que parece que é tudo "mais do mesmo", acabei por me deparar com este filme no catálogo da Netflix.

O filme é de 2019, já tinha lido algumas coisas sobre ele, mas nunca me tinha suscitado curiosidade.

Baseado no romance de Louisa May Alcott, por sua vez, inspirado na sua própria família e história de vida, o filme, cuja acção decorre a partir de 1860, conta com actuações de Saoirse Ronan, Florence Pugh, Emma Watson, Meryl Steep e Timothée Chalamet.

 

Uma mulher vive com as suas quatro filhas - Beth, Amy, Meg e Jo - enquanto o marido está na guerra.

Apesar das dificuldades financeiras que enfrentram conseguem, ainda assim, tentar sempre ajudar os mais desfavorecidos, e em piores condições que elas próprias.

Alternado entre passado e presente, o filme mostra-nos quatro irmãs muito unidas, cúmplices, com os seus desentendimentos como quaisquer irmãs, e com ideias e sonhos distintos para o seu futuro.

Há uma clara passagem da infância/ adolescência para a idade adulta, e a mudança que acarreta.

 

Meg, por exemplo, era poderia ser uma boa actriz, mas ela queria casar, e ter a sua própria família. E assim o fez, por amor, embora continuasse a viver em dificuldades.

Já Beth, a mais nova das irmãs, sofre de uma doença que irá tentar levar a melhor sobre ela mas, enquanto isso, o seu talento com o piano, e a sua bondade e pureza, irão conquistar Mr. Laurence, avó de Laurie.

Laurie, desde a primera vez que vê Jo, apaixona-se por ela, mas Jo quer ser uma mulher livre, dona do seu próprio nariz. Jo é a escritora da família, e é com o dinheiro que ganha com a venda dos seus contos que ajuda a família. 

Amy tem alguma inveja das irmãs, por não poder acompanhá-las em tudo. Ama Laurie mas, como única esperança da tia Marsh, de que se case com um bom partido, que possa sustentar toda a família, acava por ser cortejada por outro homem, que está prestes a pedi-la em casamento.

Amy sonha ser artista, pintora, mas percebe que há pessoas com mais talento que ela e não se conforma, porque quer ser a melhor.

 

Cada uma destas irmãs luta pela sua felicidade, sofre contratempos, mas acaba por partilhar com as restantes as suas alegrias e tristezas, apoiando-se sempre.

Gostei do filme, mas acho que, para a duração dele, foi pouco explorado. Se calhar funcionaria melhor em série, para poder destacar mais cada uma das "Mulherzinhas" protagonistas da história.

 

"NYAD", na Netflix

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"Só quero dizer três coisas.

Primeira, nunca desistam.

Segunda, nunca é tarde para ir atrás dos sonhos.

E a terceira,

... parece um desporto solitário, mas é preciso uma equipa."

 

O filme, baseado na história real da nadadora Diana Nyad, mostra como esta decide, aos 60 anos,  cumprir o seu desejo de ser a primeira nadadora a fazer a travessia de Cuba a Flórida, a nado, em mar aberto.

Na verdade, ela já tinha tentado, aos 28 anos, mas sem sucesso.

Agora, tentando provar a todos, e a ela mesma, que a idade é apenas um número, e que ainda tem muito para dar, ela quer voltar a tentar esta ultramaratona de mais de 160 km.

Acredita estar melhor preparada agora. Acredita que é capaz. Que consegue.

E é assim que Diana "arrasta" consigo, para esta aventura, a sua amiga Bonnie, e toda uma equipa que, pondo de lado o seu trabalho habitual, se concentra neste desafio.

 

Durante quatro anos, quatro tentativas falhadas.

Quatro anos de vidas em suspenso. 

Mas Diana não desiste. Aquela travessia é o seu "calcanhar de Aquiles", e ela não vai parar até conseguir derrotá-lo. Nem que morra a tentar.

 

Ao ver o filme, consigo compreender o desejo de Diana.

Mas é uma personagem (ao que parece retrata a Diana real) que me irrita profundamente, pela sua obstinação, pela pouca capacidade de ouvir os outros, pelo facto de achar que sabe sempre mais que os outros, que é a melhor.

É uma pessoa, de certa forma, tóxica.

E egocêntrica: é tudo "eu", "eu", "eu". Sem pensar nos que estão à sua volta, nas repercussões que esta aventura tem na vida dos que a acompanham. Sem pensar nos sonhos e desejos da sua melhor amiga (que, segundo dizem, é sua esposa).

Ela sabe que erra.

Ela sabe o feitio que tem, e como é difícil lidar com ela.

Ela chora.

Ela pede desculpa, à sua maneira.

Mas não consegue deixar de se sobrevalorizar, sobrestimar, de se gabar daquilo que fez, por vezes até com algum exagero.

O oposto de Bonnie, com quem uma pessoa simpatiza de imediato.

 

Quatro anos depois da sua primeira tentativa, Nyad, finalmente, consegue chegar à Flórida.

E é um momento emotivo, de superação, de vitória, de orgulho, de missão cumprida.

De compensação, por todo o esforço e dedicação.

O fim de tudo e, no fundo, o início de tanta coisa.

 

No entanto, Diana não entrou para o guiness.

A Associação Mundial de Nadadores em Mar Aberto recusa-se a validar o recorde não só por, supostamente, não ter aderido a todos os protocolos exigidos, como por uma parte do trajecto não ter sido filmada, precisamente, a parte em que se verifica uma aceleração atípica da nadadora que, suspeitam, possa ter sido ajudada.

 

Como a própria Diana afirma, estas ultramaratonas são um desporto solitário.

São horas e horas, dias e noites, dentro de água, a repetir os mesmos movimentos, sem parar.

Não é, propriamente, um passeio em que se aprecie a paisagem, nem um mergulho em que se maravilhe com o fundo do mar. 

É um desporto extremamente exigente, a nível físico e mental, com direito a vómitos, alucinações, reacções alérgicas, mordidas de espécies marinhas, muitas vezes a ter que nadar contra a maré.

Não consigo imaginar o prazer que se tem neste desporto. Mas gostos e vocações não se discutem.

 

Mas são, ao mesmo tempo, um trabalho de equipa.

Uma equipa vasta, da qual destaco Bonnie e John.

Bonnie, que se transforma na treinadora de Diana, e companheira de aventura, no barco que a acompanha. É Bonnie que a motiva e incentiva, que a alimenta, que a chama à realidade, que alinha nas suas alucinações, que está sempre lá para ela.

E John, o navegador com uma vasta experiência que conhece bem aquelas águas, as correntes, os ventos, os remoinhos, e se dispõe a ajudar Diana no seu desafio.

Apesar de, em determinado momento, ambos terem seguido com as suas vidas, afastando-se de Diana, acabam por voltar, quando Diana tenta, pela quinta vez, levar a bom porto a sua travessia.

Bonnie, porque sentia falta da sua amiga, e queria estar ao lado dela, se fosse a última vez que a pudesse ver. E John, porque estava doente, e não queria morrer sem ver Diana vencer.

Na realidade, Bartlett morreu poucos meses depois de Diana conquistar a vitória, de insuficiência cardíaca, durante o sono, aos 66 anos.  

Os créditos finais de Nyad confirmam que o filme foi dedicado à sua memória.

 

Apesar de a história se basear na tentativa de conseguir alcançar um recorde, como diz a directora do filme, o mesmo não é tanto sobre esse recorde, mas sim sobre o que o despoletou: uma mulher que percebe que a vida não acaba só porque se tem 60 anos, ainda que, para o mundo, a sua "existência" se torne invisível.

No entanto, e apesar de Diana, de facto, ter conseguido, nunca ter desistido, e ter ido atrás do seu sonho, considero que ela foi, em muitos momentos, inconsequente, inflexível, intransigente, teimosa ao extremo, e arriscou-se a perder os seus amigos, com as suas atitudes.

Até porque me parece que o desejo dela não era apenas o simples concretizar de um sonho antigo, de algo que tinha ficado a meio, e que ela tinha que acabar, para seguir em frente, mas também por motivos mais egoístas.

E, muitas vezes, não vale tudo.

Foi louvável a sua persistência mas, ao mesmo tempo, há que perceber o que é, realmente, importante. Saber aceitar as coisas, ainda que não corram como queríamos. Não ser tão exigente. Não se cobrar, e aos outros, tanto.

Levar a vida com mais leveza. Com menos recordes alcançados, mas mais saúde e alegria e, sobretudo, rodeada de bons amigos.