Os "fiscais" da comunidade
Existem pessoas que vivem a sua vida.
E outras, que se dedicam a fiscalizar a vida dos outros.
Desde que chegou até nós a pandemia, são vários os "polícias comunitários" que estão atentos ao que os restantes fazem, ou deixam de fazer, que criticam, que afiam a língua, à falta de melhor entretenimento.
Porque fulano saiu sem máscara, porque saiu à rua quando devia estar em casa, porque sicrano foi ao café.
E que querem, à força, interferir com a liberdade dos outros.
Ontem, vinha eu dos correios para o trabalho quando, em sentido inverso, se aproxima uma idosa, de máscara e, às tantas, diz ela:
"Estas senhoras é que fazem bem. Não é preciso cá máscaras nenhumas. Isto é só uma fantasia. Elas é que sabem."
Ao mesmo tempo em que dizia isto, que me pareceu a mim uma crítica, a mim e a quem mais vinha na rua sem máscara, tocava ela própria na máscara, com as mãos, chegando mesmo a baixá-la, talvez para que a ouvíssemos melhor.
Não liguei, nem respondi.
Não valia a pena explicar à senhora que não é obrigatório usar máscara na rua e que, mais importante que isso, é manter a distância.
Nem tão pouco dizer que, nem há dois minutos atrás, tinha estado quase meia hora, com a máscara colocada, nos correios, depois de outra meia hora, na Câmara Municipal, locais onde se deve usá-la, e que o que mais queria naquele momento, era respirar livremente onde, e quando podia.
E menos ainda que, em vez de estar a criticar, e baixar a máscara para falar, ou tocar nela onde não é suposto, devia ter seguido o seu caminho, com a máscara colocada, como ela aprecia, e evitar colocar-se a si, e aos outros, no perigo em que não quer que os outros a coloquem!