A fragilidade invisível
O céu estava limpo…
Mas as piores nuvens não são aquelas que se avistam no céu. As que estão à vista de todos.
São aquelas que ensombram os pensamentos. Aquelas que ninguém vê e, ainda assim, estão lá.
E, aí, na mente, as nuvens, por vezes, ficam carregadas…
Por nada em particular… Por tudo, de uma forma geral.
Sem motivos concretos. Sem razões aparentes. Apenas pequenas partículas que, aqui e acolá, se foram juntando e formando a espessa nuvem.
Há dias em que se teria tudo para estar bem e, ainda assim, algo teima em assombrá-los.
Há dias que, por norma, seriam dias para se estar feliz e sair à rua. Para os celebrar. E, no entanto, as nuvens apelam a ficar em casa.
Há dias que convidam ao “barulho”. Outros, só querem o silêncio.
E há momentos em que percebemos quão frágil pode ser tudo aquilo que julgávamos forte.
Quão frágeis são aqueles alicerces que tomávamos por inabaláveis.
Como tudo se pode desfazer com um sopro.
É uma fragilidade invisível, que surge como um relâmpago, para nos mostrar que existe. Uma fragilidade que até pode voltar a camuflar-se, e deixarmos de a ver. Mas sabemos que está lá.
E, uma vez descoberta, vinda à tona, colocada a nu, o que fazer com ela?
Ignorá-la? Fingir que não existe?
Ou deixá-la ganhar forma, e força?
Encará-la de frente? Ou virar-lhe as costas?
Destruí-la, antes que seja ela a destruir?
Ou alimentá-la e tornar, quem a alimenta, ainda mais frágil que ela própria?
Será, essa fragilidade, necessária, para que se consiga perceber o que se pode esperar? O perigo a ela associado?
Será um aviso? Uma premonição? Um alerta?
Ou poderá, pelo contrário, a percepção dessa fragilidade acelerar a queda, que sempre se quis evitar?
Será, essa fragilidade, saudável e libertadora, relembrando-nos a vida?
Ou poderá ela transformar-se no veneno que, aos poucos, vai matando tudo à sua volta?