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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Desafio de Escrita do Triptofano #5

O banquete

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Numa festa, para a qual Gerofina e Pirolifes foram convidados.

 

Gerofina: Olha só para este banquete, Pirolifes! 

Pirolifes: Estou a ver, mulher. Está para aí comida que nunca mais acaba. 

Gerofina: E tem tudo tão bom aspecto! Vou provar um bocadinho de tudo.

Pirolifes: Calma, mulher! Como se conseguisses enfiar tanta comida na barriga.

Gerofina: Então não consigo? Com a fome que tenho.

Pirolifes: Quem te ouve, ainda pensa que não comes há dias.

Gerofina: Cala-te, homem! Se não queres, mais sobra para mim. Não tenho culpa que sejas pisco!

 

E, dito isto, Gerofina lança-se à mesa e, não deixando de comer, vai provando e pondo defeitos em tudo.

 

Gerofina: Hum... este bolo tem creme a mais... O frango está um bocado mal passado... Aquele vinho é muito fraquinho. Mas quem é que se lembra de comprar queijo bolorento?

Pirolifes: Oh mulher, se não queres, não estragues. Isso ainda te vai fazer mal.

Gerofina: Olha, como dizem lá na minha terra, "mais vale fazer mal, que sobrar"! 

Pirolifes (pensando para com os seus botões): É doida.

 

Uma hora depois, Gerofina começa a queixar-se.

 

Gerofina: Ai, homem, parece que me sinto empanturrada. 

Pirolifes: Pudera! Com o que enfardaste!

Gerofina: Não comi assim tanto! O meu estômago é que é sensível a estes temperos modernos.

Pirolifes: Pois, pois...

Gerofina: Ai, a minha barriga.

Pirolifes: É bem feita! Para a próxima comes menos. E estragas menos. Porque agora ninguém vai comer os restos.

Gerofina: Cala-te, homem! Tenho que ir já à casa de banho.

 

Ao fim de algum tempo, Pirolifes, já preocupado, vai ver como está a mulher.

 

Pirolifes: Então, mulher? Estás melhor? 

Gerofina: Cala-te!  Parece que vou morrer. Já não tenho mais nada para deitar para fora.

Pirolifes: Se calhar é melhor irmos andando. Em casa bebes um chazinho.

Gerofina (saindo da casa de banho): E eu lá sou mulher de chás?!

Pirolifes (encolhendo os ombros): Só estou a tentar ajudar-te.

Gerofina: Sim, claro! Deves estar todo contente com a minha desgraça.

Pirolifes: Que ideia a tua, mulher. Sinceramente.

 

E nisto, passando de novo pela sala do banquete.

 

Gerofina: Olha, sabes que mais? Vou mas é petiscar qualquer coisa. Estou a precisar de energia.

Pirolifes: Não tens emenda, mulher! 

Gerofina: O que foi? Se não me reabastecer ainda desfaleço pelo caminho.

Pirolifes: Sabes que mais? Espero por ti no carro. Haja paciência.

Gerofina (a modos que ofendida): Olha-me, este! Eu aqui doente, e ele vira costas. Assim se vê a sua preocupação! 

 

E, voltando-se para a mesa

Gerofina: Olha, ainda não tinha provado aquele pudim! Nem é tarde, nem é cedo!

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam 

Ana D.

Ana de Deus

Bruno

Triptofano

Maria Araújo

Cristina Aveiro

 

 

 

 

 

Squid Game: a série de que toda a gente fala!

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Nos últimos tempos, não se fala de outra coisa senão nesta série da Netflix!

Do que tenho lido, só comentários positivos.

Há até quem acredite que será um sucesso ainda maior que La Casa de Papel.

 

A mim, não me inspirou muito quando vi o trailer.

A minha filha já viu. O meu marido começou a ver. 

Tinha a ideia de ser uma série de terror. Ao meu marido, só o ouvia rir, e até lhe perguntei se era uma comédia!

Acabei por ver o resto do primeiro episódio. E assistimos ao segundo.

Não sei se era por estar com sono, cansada, ou se é mesmo da série, mas achei que lhe faltava acção. Que estava a ser muito parada.

Entretanto, a acção vai aumentando, mas nem por isso a considero uma série fenomenal, como a têm pintado até aqui.

 

No fundo, o que se retira de Squid Game é:

- quando as pessoas não têm nada a perder, arriscam tudo, até a própria vida

- vale tudo por dinheiro

- num jogo onde só um pode vencer, depressa os amigos se tornam inimigos

- os que têm o poder na mão, tornam as pessoas meros peões no seu jogo

- pode-se medir o grau de desespero quando, perante a hipótese de liberdade, as pessoas voltam a querer jogar, independentemente das consequências

- há quem se divirta à custa de mortes gratuitas, sofrimento, miséria dos outros

 

Ainda assim, porque nem todas as pessoas são iguais, haja quem ainda se preocupe com os demais. Quem ponha os companheiros acima de um prémio. Quem arrisque a vida, para salvar a dos outros.

Quem pouco tem, mas ainda tenta dar esse pouco aos outros. Quem não se deixa comprar. Quem se mantém fiel à sua humildade e simplicidade, apesar de tudo o que passou.

 

 

A ganância das pessoas

Ameixa Rainha Claudia Banco de Imagens e Fotos de Stock - iStock

 

Perto de onde vivo existe um recinto público com ameixoeiras.

Neste momento, elas estão carregadas de ameixas, embora a maior parte ainda não muito amarelas.

As que estão do lado mais virado para o sol, amadurecem mais depressa mas, ao mesmo tempo, estão menos acessíveis, seja porque os seus ramos estão mais altos, seja porque caem para o lado de fora da grande muralha, a que não se consegue chegar.

As que estão do lado de dentro, apanham menos sol e, por isso, ainda estão meio esverdeadas.

 

No entanto, à semelhança de outros anos, raramente as vemos amarelas porque as pessoas apanham-nas antes.

Chegam a levar escadotes, e sacos para encher, até não restar nenhuma.

Este ano, por enquanto, isso não tem acontecido muito.

Eu própria, que passo lá diariamente, por uma ou duas vezes fui lá apanhar meia dúzia, para provar.

Se todos levarmos um pouco, dá para muita gente, e é uma forma de não se estragarem, caídas no chão.

 

Mas há quem não pense assim.

A ganância das pessoas é incrível.

Numa das tardes em que estava a regressar a casa, estavam duas mulheres a carregar uma caixa de madeira cheia de ameixas, a maior parte verdes, para o carro.

Quando estavam a despejar as ameixas para a mala do carro, espalharam uma boa parte delas pela estrada fora.

Uma das mulheres dizia "ai minhas ricas ameixas, até as do meu quintal já andam aí estrada fora".

Ou seja, uma delas até tinha, supostamente, ameixoeiras no seu quintal, mas ainda veio apanhar mais a outro lado!

 

 

Quando a ganância resulta em desperdício

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No recinto da antiga muralha, na zona mais velha da vila de Mafra existem, há várias décadas, algumas ameixieiras que, todos os anos, dão fruto.

Como se costuma dizer, não são de ninguém em particular e, por isso, acabam por ser de todos.

 

 

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O normal seria alguém que passasse por ali apanhar algumas e comer. Não vinha mal ao mundo e, se assim não for, acabavam por ali ficar, cair e estragar-se.

Mas o que tem acontecido é precisamente o contrário: pessoas que, mal começam a surgir as primeiras ameixas, correm até lá com baldes e sacos, para encher de ameixas, até não sobrar nenhuma.

A par com isso, os chicos-espertos que, ainda com as ameixas verdes, insistem em apanhar e comer. Ou melhor, trincar e deitar fora porque, como é óbvio, não estão comestíveis.

 

 

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Ainda hoje, estando elas como se podem ver,  vi um homem apanhar ameixas e metê-las ao bolso, atirando com umas quantas ao chão, pelo caminho.

 

 

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E é assim que a ganância resulta, muitas vezes, em desperdício.

Quem é o grande culpado pelos males do mundo?

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Testemunhas de Jeová - última parte da conversa

(que já ia longa e eu ainda tinha um alguidar de roupa à espera para estender!)

 

 

Sempre que se fala em Deus, há uma questão que vem sempre a lume: 

"Se Deus existe, e é tão bondoso e generoso, porque é que deixa morrer tantos inocentes, sem nada fazer para os salvar?".

E, acto contínuo, respondem-me sempre "mas não é Deus que faz as guerras, que mata as pessoas..."

Pois não! Mas também não faz nada para o impedir!

 

 

Disse-me, um dia, alguém, que havia uma luta constante entre Deus e o Diabo, e que a intenção era manter o equilíbrio. Se ninguém morresse, ou se todos morressem, tudo se desequilibraria.

Claro que, por vezes, a balança pende mais para um lado do que para o outro.

Imaginem alguém a tentar salvar várias pessoas ao mesmo tempo. Para acudir a uma, não consegue fazê-lo com outra.

Este raciocínio tem a sua lógica, e só perde consistência quando se apregoa aos quatro ventos que Deus é todo poderoso e omnipresente...

Adiante...

 

 

Nessa tarde, as senhoras perguntaram-me quem é que eu achava que era o grande responsável pelos males do mundo, e eu não hesitei em responder: o Homem!

Porque somos nós que cá estamos, somos nós, gananciosos, na ânsia de dinheiro e poder, que passamos por cima de tudo e de todos, que começamos as guerras, que matamos, que destruímos os nossos recursos, a natureza que nos rodeia, que provocamos, directa ou indirectamente, catástrofes como incêndios e outras resultantes de alterações climáticas, por obra da poluição para a qual todos os dias contribuímos, somos nós que, muitas vezes, provocamos acidentes, e por aí fora.

No fundo, somos nós, humanos, que cá vivemos, que não sabemos gerir aquilo que temos ao nosso dispôr, que não sabemos partilhar aquilo que conseguimos obter, que só nos preocupamos connosco e agimos naquela de "salve-se quem puder, de preferência, eu!".

Depois, existem, claro, aqueles fenómenos que ninguém sabe explicar, as ditas "causas naturais" pelas quais, eventualmente, ninguém será responsável.

 

 

Ora, assim sendo, tudo isto iliba Deus de qualquer responsabilidade nos males de que somos vítimas. E, não sendo responsável, também não tem por que resolver as coisas por nós.

Mas, lá volta a eterna questão:

"Se Deus existe, se é todo poderoso e omnipresente, se é justo, se é conhecido por castigar os maus, e proteger os bons, porque é que, na prática, não vemos isso?".

Porque é que continuam a partir os melhores, e a ficar por cá os piores? Porque é que o bem é premiado com a morte, e o mal, com a vida?

 

 

 

Nem de propósito, lembrei-me deste poema de Luís de Camões, que a minha filha tem no manual de português:

 

Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.

 

Reflete ou não, a realidade dos nossos dias?!