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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Começar o dia às cabeçadas!

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E não, não fui eu que andei às cabeçadas à parede, nem aos móveis, de tanto sono que tenho!

Nem tão pouco andei a lutar logo pela manhã.

Foi mesmo a D. Amora que resolveu, no momento em que me ia baixar para pegar nela, dar um impulso e saltar para a cadeira da entrada. A minha cara estava no caminho. Deu-me uma cabeçada no lado direito, entre o osso e o olho, que fiquei a ver estrelas!

E ela, coitada, também não deve ter ficado lá muito bem, com aquela cabecita pequenina a bater em mim.

Isto tudo, para subir para a cadeira e, da cadeira, para o poleiro mais alto, para estar à janela. A Amora é assim. Mal nós começamos a pegar nela, já ela dá balanço para chegar mais longe, mais alto, mais rápido!

Só que depois, por vezes, acontecem estes acidentes. No outro dia o balanço foi tal que me ia saltando dos braços para o chão.

Eu bem digo que ela acha que é um pássaro, e tem o poder de voar! 

 

 

 

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Primeira semana sem a Tica

 

Tiquinha, faz hoje uma semana que nos deixaste.

Ainda me custa aceitar que não vais mais brindar-nos com as tuas turrinhas, beijinhos, companhia e brincadeiras. 

Mas já me vou sentindo um pouco melhor. A fonte já vai deitando menos água, e menos vezes por dia. 

Por vezes, sabe-me bem estar aqui em casa, na casa que partilhámos enquanto cá estiveste, e sinto-me bem. Como se soubesse que também estás ali comigo, como se sentisse a tua presença. Mas claro que ainda dói, quando penso que não te posso ver, nem tocar.

Ontem, enchi-me de coragem e fui estender roupa no quintal. Lembrei-me de quando ias ao meu colo lá fora, e eu tinha que estender e apanhar a roupa só com uma mão, porque a outra era para te agarrar!

Apareceu a Boneca. Dei-lhe o resto da comida que tinha ficado intacta na tua taça. Ela ainda petiscou, mas depois assustou-se e foi embora.

Temos falado muito de ti, e das tuas manias, dos saltos que davas para a parede, como se estivesses a fazer parkour, da forma como te escondias e esperavas que eu passasse para te atirares às minhas pernas, de quando me desafiavas para brincar à apanhada!

E parecemos uns maluquinhos, a falar para as fotografias como se estivesses mesmo ali, em vez de um pedaço de papel. 

Continuo a vir cá a casa de manhã, depois de deixar a Inês na escola, e ao almoço. Há hábitos que demoram o seu tempo a perder-se.

Mas sinto falta de me despertares, como costumavas fazer, sempre que eu ficava uns minutos na ronha, em vez de me levantar quando o outro despertador tocava!

Este fim de semana, vamos visitar uma associação de amiguinhos felinos. Vamos ver como nos sentimos na presença de outros felinos. Mas cada vez sinto menos falta de ter aqui uma gatinha por perto. Quem eu queria eras tu. Como não podes estar, ficam as tuas recordações.

A não ser que me pregues uma partida e me faças, involuntariamente, deixar cativar por alguma bichana. 

 

 

 

 

 

Terceiro dia sem a Tica

 

Pedi-te um sinal, e esta noite sonhei contigo! Estavas bem, a brincar. Peguei-te ao colo e pude abraçar-te e despedir-me de ti. Contigo, trazias dois gatinhos pequeninos. E acordei... Queria mais, queria continuar a sonhar contigo. Quero continuar a sonhar contigo. E quero que consigas comunicar comigo todos os dias, de alguma forma. Sinto-me mais confortada se o fizeres, embora logo em seguida volte o aperto no peito, e o nó na garganta.

Hoje fui comer Nestum e, inevitavelmente, senti a tua falta ali na bancada à espera que te colocasse um pouco no prato, para comeres comigo.

Fui arrumar o roupão da Inês, e pensei que foi aquele o último roupão que te tapou, antes de te levarem da nossa casa. Sabias que a Inês até pôs uma foto tua no seu telemóvel?!

E nós também queremos espalhar fotos tuas em cada divisão desta casa. Talvez se torne menos doloroso passar aqui os dias, e percorrer cada divisão sem a tua presença. Assim, temos-te mais perto e podemos falar contigo. Chamem-nos loucos...

Recolhi todos os teus brinquedos do chão, guardei o teu peluche favorito e o teu copinho das ervas, e tirei a tua cama da cadeira da entrada. A almofada ainda tem as tuas pegadas!

Também já temos um título para o teu livro "Tica - a nossa eterna princesa"!

Estivemos a ver algumas imagens tuas, e também de outros gatinhos. Vimos uma gatinha preta e branca, a quem deram o nome provisório de Tomatada (não me perguntes porquê), tem 6 meses, e vai ser esterilizada na próxima semana. Nós achamos que ela tem cara de Becas. É muito patusca e bonita, mas não quero estar já a trazê-la para cá.

O teu sonho pode até ter sido um sinal de que queres aqui um outro animal para nos alegrar e sofrermos menos com a tua ausência. Mas quem eu queria mesmo aqui eras tu...

Hoje, arrumámos também a tua tacinha da água. A da comida, ainda se mantém. Tem que ser aos poucos...

E descobri um pelo teu nos lençóis, enquanto fazia a cama :) Juntámos aos teus outros vestígios que foste deixando pela casa.

E assim termina mais uma dia sem ti...

Segundo dia sem a Tica

 

Na noite em que partiste, sonhei que te pegava ao colo, que estavas bem, e que repetia ao teu dono que tinha sido tudo um sonho, que estavas ali, que era real. E, no sonho, dava para perceber que era a minha imaginação a pregar-me uma partida...

Esta noite não sonhei contigo. Simplesmente, dormi, esgotada, depois do primeiro dia de sofrimento sem ti. O teu dono chegou e chorámos juntos. Ele viu-te, em sonhos. Eu, apenas uma imagem de ti, a dormir como uma bolinha de pelo. Não consegui mais ficar na cama. Estava-se a formar um grande aperto no meu peito, e tive que me levantar, sair do quarto e deixar o teu dono descansar.

Vim aqui para o quarto da tua mana Inês, e doeu muito estar aqui sentada nesta cadeira e não estares ao meu colo durante horas, agarradinha a mim, como sempre fazias. Ao mesmo tempo que ia passando os exercícios para ela, ia olhando para as tuas fotografias.

Obriguei-me a comer qualquer coisa. O pão de leite foi sendo comido com lágrimas salgadas à mistura, e estava difícil passar pela garganta, tal era o nó que me apertava a mesma.

A casa está mais fria sem ti, sentimo-nos frios aqui em casa. Eras tu que a aquecias, que lhe davas vida, que a alegravas.

Continuam a chegar palavras de solidariedade para connosco. Sabias que o nosso amigo Mimo, da Mula, também partiu da mesma forma inesperada que tu? Talvez até o tenhas já encontrado por aí.

Não tive ainda coragem de tirar as tuas tacinhas do sítio onde sempre estão. A tua comida continua intacta. A taça da água no mesmo sítio do costume - onde tu costumavas ir "snifar" água da torneira!

O teu dono acordou. Estivemos a conversar e percebemos que habitam no nosso pensamento sentimentos confusos e contraditórios.

Sinto imensa falta de abraçar um gato, de estar com um gato ao colo, de ter contacto com um gato. Mas queria que fosses tu. Só que tu já não estás cá. E é muito cedo. Trazer outro animal cá para casa era estar a substituir-te, ainda mal partiste. Era estar a trair a tua memória. Não quero isso. És tu que eu quero.

E não seria justo para o animal que viesse, esperar que ele agisse como tu, que já estavas connosco há quase 4 anos. As comparações seriam inevitáveis, a decepção podia vir a acontecer. Mas está aqui um vazio tão grande, e há tantos gatinhos a precisar de amor...É complicado, contraditório, estamos a pensar de cabeça quente e perdida, e sem saber para onde nos virarmos.

Fui à cozinha, e dei por mim a remexer a tua caixa, para ver se ainda haveria areia suja para tirar. Não havia. Levámos os teus últimos cocós para o lixo.

Fomos almoçar fora, e tentámos mudar de assunto mas, inadvertidamente, voltávamos sempre a ti e, às tantas, em pleno restaurante, quase me desmanchei. E não aguentei ao ver a tua foto no telemóvel do dono.

Nas compras, evitámos passar ao pé dos corredores dos animais, mas foi difícil não pensar que já não irias estar à nossa espera, quando chegássemos.

Depois de o teu dono ir trabalhar, ganhei coragem, e fui dedicar-me às tarefas domésticas que tinham ficado por fazer. Peguei na tua mantinha, dobrei-a e guardei-a no nosso roupeiro, onde tu gostavas de te esconder! Ainda tem o teu cheirinho. Isso deu-me um novo alento. Guardei-a ali para te sentir mais perto de nós, para te sentires perto de nós.

O problema é que continuo a alternar entre esses momentos mais esperançosos, e a angústia de não te ter mais aqui.

Vem aí mais uma noite. Só te peço que me dês algum sinal de que estás bem, que continues aqui comigo, que não me deixes...

 

 

Primeiro dia sem a Tica

 

26 de Fevereiro de 2016

 

Quero desde já pedir-vos desculpa pela quantidade de posts que tenho escrito e sei que ainda vou escrever, sobre a Tica.

Não quero fazer do blog um muro das lamentações, até porque nada a irá trazer de volta. Mas escrever, e deitar tudo cá para fora é uma das formas de me ajudar a superar a sua perda.

Sabem quando uma pessoa leva uma pancada, ou se magoa, e na altura acha que até não dói assim tanto, mas passadas umas horas arrefece, e as dores tornam-se insuportáveis?

A noite em que a Tica morreu foi como essa pancada. O primeiro dia sem a Tica está a ser complicado, e as dores começam a fazer-se sentir.

Levantei-me de manhã, como nos restantes dias, para ir trabalhar. Não tenho a Tica na entrada, em cima da máquina de secar, para o pequeno-almoço vegetariano.

Vou desembaciar a janela da sala, e só depois me lembro que a Tica não vai para a janela. Choro sem parar, porque preciso. Porque dali a pouco tenho que acordar a minha filha, e nessa altura preciso de estar calma. Mentalizo-me que a melhor forma é não pensar em nada. Respirar fundo, e abstrair os pensamentos temporariamente.

Volto a chorar enquanto conversamos com o veterinário, e ele nos explica o que, provavelmente, terá acontecido. Volto a recompôr-me, para entrar no trabalho.

Por lá, as lágrimas vão caindo esporadicamente, e às tantas já nem sequer estou a ver bem o que está escrito no monitor do computador. 

A meio da manhã, aproveito um momento mais calmo para ligar aos meus pais e dar a notícia.

Ao almoço, tudo parece melhor, vou buscar a minha filha à escola, e vamos almoçar. Mas, assim que chego perto de casa, olho para a janela onde a Tica estava sempre, à nossa espera, e vou-me abaixo.

Volto para casa dos meus pais e decido não voltar à minha, na hora de almoço. Preparo-me para a tarde de trabalho, que volta a ter altos e baixos. Mas há clientes e telefonemas para atender, e tenho que me abstrair.

À noite, saio do trabalho, e as lágrimas voltam a cair. Misturam-se com a chuva que cai, e quase nem me importo se me estou a molhar ou não. E também não quero saber se estou na rua a chorar que nem uma perdida. Faço-o, porque quando chegar a casa tenho que estar calma.

Passo pelos meus pais para ir buscar a minha filha, e vamos para casa. Por momentos, ainda tenho a preocupação de fechar a porta depressa, para a Tica não fugir. Só depois percebo que isso não vai acontecer. 

Inconscientemente, tento ver se ela estará a dormir na nossa cama, ou na sua mantinha na sala. Mas sei que não a vou encontrar.

Jantamos, e enquanto a minha filha não vai com o pai, ficamos na sala a ver TV. Num canto do sofá, olho para o monte de roupa que tinha secado ontem, e lembro-me de como a Tica gostava de se deitar em cima dela. Nunca mais irá fazê-lo.

Quando a minha filha se vai embora, tenho mais uma recaída. Tudo se mantém na mesma. Até o saco com a areia suja de chichi e o cocó, que ficou por despejar. A caixa que não vai mais utilizar. A taça da comida, a da água, o vaso das ervas em cima da máquina...

Vou para a sala escrever. E penso que, se estivesse entre nós, já estaria enroscada no meu colo, a dormir. Também isso não voltará a acontecer.

O meu marido, a trabalhar mas preocupado por eu estar sozinha, liga-me, e choramos os dois ao telefone, com saudades da nossa "minguinhas".

Tenho que me deitar e tentar dormir. Desta vez, a Tica não irá para cima de mim, nem pedir-me para ir lá para dentro da cama para dormir enroscada a mim, na conchinha.

Está a ser muito duro. Mais do que com a Fofinha.

Só queria que, de alguma forma, ela me desse um sinal...de que está bem, de que gostou de estar connosco, de que foi feliz, de que não sofreu quando morreu, de que apenas saiu para não morrer à nossa frente...

Tenho uma vontade enorme de voltar a enchê-la de beijinhos, porque todos os beijinhos do mundo ainda seriam poucos. Tenho vontade de tê-la novamente ao colo, e cantar-lhe a sua música. Sinto necessidade de abraçá-la, de a cobrir de mimos, nem que fosse uma última vez.

Ando às voltas na cama...de tanto chorar, hei de ficar esgotada, e adormecer...

Amanhã, espera-me outro dia. A vida continua, mesmo que eu queira ficar parada no tempo. Hei de sobreviver, com algumas rugas a mais, e os olhos um pouco mais inchados que hoje...