26 de Fevereiro de 2016
Quero desde já pedir-vos desculpa pela quantidade de posts que tenho escrito e sei que ainda vou escrever, sobre a Tica.
Não quero fazer do blog um muro das lamentações, até porque nada a irá trazer de volta. Mas escrever, e deitar tudo cá para fora é uma das formas de me ajudar a superar a sua perda.
Sabem quando uma pessoa leva uma pancada, ou se magoa, e na altura acha que até não dói assim tanto, mas passadas umas horas arrefece, e as dores tornam-se insuportáveis?
A noite em que a Tica morreu foi como essa pancada. O primeiro dia sem a Tica está a ser complicado, e as dores começam a fazer-se sentir.
Levantei-me de manhã, como nos restantes dias, para ir trabalhar. Não tenho a Tica na entrada, em cima da máquina de secar, para o pequeno-almoço vegetariano.
Vou desembaciar a janela da sala, e só depois me lembro que a Tica não vai para a janela. Choro sem parar, porque preciso. Porque dali a pouco tenho que acordar a minha filha, e nessa altura preciso de estar calma. Mentalizo-me que a melhor forma é não pensar em nada. Respirar fundo, e abstrair os pensamentos temporariamente.
Volto a chorar enquanto conversamos com o veterinário, e ele nos explica o que, provavelmente, terá acontecido. Volto a recompôr-me, para entrar no trabalho.
Por lá, as lágrimas vão caindo esporadicamente, e às tantas já nem sequer estou a ver bem o que está escrito no monitor do computador.
A meio da manhã, aproveito um momento mais calmo para ligar aos meus pais e dar a notícia.
Ao almoço, tudo parece melhor, vou buscar a minha filha à escola, e vamos almoçar. Mas, assim que chego perto de casa, olho para a janela onde a Tica estava sempre, à nossa espera, e vou-me abaixo.
Volto para casa dos meus pais e decido não voltar à minha, na hora de almoço. Preparo-me para a tarde de trabalho, que volta a ter altos e baixos. Mas há clientes e telefonemas para atender, e tenho que me abstrair.
À noite, saio do trabalho, e as lágrimas voltam a cair. Misturam-se com a chuva que cai, e quase nem me importo se me estou a molhar ou não. E também não quero saber se estou na rua a chorar que nem uma perdida. Faço-o, porque quando chegar a casa tenho que estar calma.
Passo pelos meus pais para ir buscar a minha filha, e vamos para casa. Por momentos, ainda tenho a preocupação de fechar a porta depressa, para a Tica não fugir. Só depois percebo que isso não vai acontecer.
Inconscientemente, tento ver se ela estará a dormir na nossa cama, ou na sua mantinha na sala. Mas sei que não a vou encontrar.
Jantamos, e enquanto a minha filha não vai com o pai, ficamos na sala a ver TV. Num canto do sofá, olho para o monte de roupa que tinha secado ontem, e lembro-me de como a Tica gostava de se deitar em cima dela. Nunca mais irá fazê-lo.
Quando a minha filha se vai embora, tenho mais uma recaída. Tudo se mantém na mesma. Até o saco com a areia suja de chichi e o cocó, que ficou por despejar. A caixa que não vai mais utilizar. A taça da comida, a da água, o vaso das ervas em cima da máquina...
Vou para a sala escrever. E penso que, se estivesse entre nós, já estaria enroscada no meu colo, a dormir. Também isso não voltará a acontecer.
O meu marido, a trabalhar mas preocupado por eu estar sozinha, liga-me, e choramos os dois ao telefone, com saudades da nossa "minguinhas".
Tenho que me deitar e tentar dormir. Desta vez, a Tica não irá para cima de mim, nem pedir-me para ir lá para dentro da cama para dormir enroscada a mim, na conchinha.
Está a ser muito duro. Mais do que com a Fofinha.
Só queria que, de alguma forma, ela me desse um sinal...de que está bem, de que gostou de estar connosco, de que foi feliz, de que não sofreu quando morreu, de que apenas saiu para não morrer à nossa frente...
Tenho uma vontade enorme de voltar a enchê-la de beijinhos, porque todos os beijinhos do mundo ainda seriam poucos. Tenho vontade de tê-la novamente ao colo, e cantar-lhe a sua música. Sinto necessidade de abraçá-la, de a cobrir de mimos, nem que fosse uma última vez.
Ando às voltas na cama...de tanto chorar, hei de ficar esgotada, e adormecer...
Amanhã, espera-me outro dia. A vida continua, mesmo que eu queira ficar parada no tempo. Hei de sobreviver, com algumas rugas a mais, e os olhos um pouco mais inchados que hoje...