Até há pouco tempo, o familiar mais directo que tinha, no cemitério, era a minha tia.
No entanto, nunca lá fui visitar a campa dela. Não senti essa necessidade.
Também não é, propriamente, um local onde se queira ir passear. Embora conheça algumas pessoas que adoram lá ir, como se fossem a uma festa.
Não aquelas que vão porque têm lá os seus entes queridos, e querem cuidar do que é seu, ou sentem necessidade de ir por se sentirem mais próximas. Essas, respeito.
Entretanto, morreu a minha mãe.
E, agora, sou presença assídua por lá.
Há pessoas a quem faz confusão ir ao cemitério. Outras, que se sentem mal.
Há as que ficam tristes.
As que querem manter as aparências. As que vão por obrigação.
E as que, talvez, queiram ir para ter o seu momento a sós com a pessoa falecida. Ainda que, por aqui, dada a proximidade das campas e a quantidade delas, seja quase impossível haver essa "privacidade".
Eu, confesso, costumo lá ir ao fim de semana.
Primeiro, porque fica relativamente perto de onde vivo (a escassos metros), e não me custa nada. Se fosse mais longe, não iria de propósito com tanta frequência.
Depois, porque até tem estado bom tempo, e faz-se bem o percurso.
E, por último, porque, querendo ou não, é a campa da minha mãe.
É óbvio que ela não vê, nem sente nada, e para ela, estar uma campa arranjada e com flores, ou só terra e abandonada, é igual. Devemos cuidar das pessoas, enquanto estão vivas.
E cuidámos.
Agora, continuamos a marcar a nossa presença.
Dá-me prazer enfeitar a campa dela, com flores, da mesma forma que ela gostava de flores, em vida.
É uma viagem rápida.
Comprei umas plantas com flor, que se dão bem no exterior, e é só lá ir colocar água nos vasos. Assim, duram mais tempo, e não há necessidade de andar sempre a comprar. E depois, quando calha, levo umas flores para pôr na jarra.
Não é uma obrigação. É um gosto.
Vou quando posso.
Há quem, para evitar tudo isso, tempo e gastos, opte por flores artificiais. Faz o mesmo efeito. Serve o propósito, mas... Considero isso um pouco impessoal.
E é isto.
Não vou lá para "falar" com ela, que isso faço em qualquer lugar.
E não me sinto mal porque, por estranho que pareça, não me vem à mente a imagem dela, ali, debaixo da terra, enterrada.
Simplesmente vou, coloco água, ajeito as flores, e saio.
E por aí, têm o "hábito" de ir ao cemitério?