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Por vezes...
naqueles momentos mais delicados,
mais difíceis,
mais tristes,
mais desesperados,
não são precisas palavras...
Basta, muitas vezes, a simples presença!
Sentir que não estamos sozinhos.
Sentir que alguém está disposto a compartilhar connosco esses momentos.
Sentir o apoio, em forma de gestos.
Texto escrito para o Desafio 1 Foto, 1 Texto
(Nota: fotos tiradas num dia de muito frio em que, de certa forma, apesar de serem gatos de rua, partilhando o mesmo destino e vida, tentaram confortar-se e aquecer-se um ao outro)
De que valem palavras bonitas, dedicatórias, homenagens?
De que valem gestos pré definidos, quase "obrigatórios", e padronizados?
Se as acções contradisserem tudo isso?
De que que vale transformar as mulheres, por um dia, em princesas para, nos restantes dias (se não mesmo no próprio), voltarem a ser gatas borralheiras?
É quase como tirar aquela loiça bonita que guardamos no armário, cheia de pó e teias de aranha, porque não se usa no dia a dia mas, numa ocasião especial, tiramos para fora, para "fazer bonito", para os outros verem. E, no dia seguinte, voltamos a arrumá-la no armário.
Não sou contra gestos, nem palavras. Mas que venham acompanhadas de acções.
E que não se limitem às comemorações da praxe.
Ontem, houve quem quisesse comprar flores para oferecer às "mulheres da sua vida", porque era o Dia da Mulher.
E, com sorte, a mesma pessoa que tanto se empenhou, numa fila enorme, para poder oferecer uma flor à "sua mulher", é a mesma que espera que a "sua mulher" faça aquilo que, a ela mesma, não apetece fazer.
Ontem, houve quem escrevesse lindas dedicatórias às "mulheres da sua vida", porque era o Dia da Mulher.
E, com sorte, a mesma pessoa que tantos "likes" e admiração obteve com tal atitude, é a mesma que critica, embirra e discute com a "sua mulher", por causa de tarefas domésticas e afins.
As acções, os gestos, as atitudes, veem-se no dia a dia. E não quando fica bem.
É esse o meu problema com estas datas comemorativas.
Na maior parte das vezes, e dos casos, são feitas de hipocrisia e de fingimento temporário.
E logo tudo volta ao "normal", ao mesmo de sempre.
A minha filha foi convidada para o aniversário de duas amigas e colegas de turma (irmãs gémeas).
Hoje em dia, os almoços/ jantares, na adolescência, são entre amigas, sendo que os pais, quanto muito, vão levar e buscar.
E cada um paga o seu.
Neste caso, pelo que percebi, a minha filha era a única da turma a ir ao almoço, que seria mais para a família (pais, tios, avós), sendo que os pais ficaram de vir buscá-la mas, como o almoço era cá em Mafra e estavam atrasados, acabei por ir com ela até ao restaurante, onde lhe fiz companhia, até eles chegarem.
Quando as aniversariantes chegaram com a tia, deixei a minha filha com eles, e voltei para casa.
Até porque depois do almoço iam todos para casa das miúdas, para cortar o bolo.
Entretanto, ao final da tarde, enviei mensagem à minha filha, a perguntar se era para ir buscá-la. Disse que não era preciso, que a traziam a casa. Pedi-lhe só para enviar mensagem, quando estivesse a vir.
Passado um pouco, recebo uma chamada de um número que não conheço.
Era a mãe das amigas.
Ligou-me para pedir desculpa pelo atraso no almoço.
Para agradecer por ter deixado a minha filha celebrar o aniversário das filhas com elas.
A dizer que ficava muito contente com esta amizade.
E a fazer já um novo convite.
Aliás, dois.
Um para a minha filha, para uma celebração que irão fazer lá mais para a frente.
Outro para nós, mães (e padrastos) nos conhecermos pessoalmente.
E a informar que, como tinham ficado sem carro, seriam os tios a trazer a minha filha.
Como combinado, os tios deixaram a minha filha à porta de casa.
Fui agradecer-lhes.
Parecem pessoas impecáveis.
Pela minha filha, mandaram comida da festa, uma fatia de bolo de aniversário, e ainda legumes e outras coisas.
Além de tudo isto, pagaram-lhe o almoço.
Posso estar a ser muito ingénua, ou até precipitada, mas gostei das pessoas.
Gostei dos gestos delas para connosco, e para com a minha filha.
Hoje em dia, isso é cada vez mais raro.
Senti que, pela primeira vez, em vez de sermos nós a fazermos de tudo para a minha filha poder estar com as amigas, e assumirmos a responsabilidade, foi alguém que o fez por nós. Que teve esse cuidado, e atenção.
São pessoas que, de certa forma, pensam e agem de forma semelhante à nossa.
Agora é esperar que esta amizade permaneça, apesar dos caminhos diferentes que irão, certamente, seguir na vida.
Eu fico feliz.
E, pelo que percebi, a mãe delas também!
Nem todos os gestos românticos são sentidos.
Mas todos os gestos sentidos são românticos!