À Conversa com Sara Rodi
Por certo já ouviram falar da convidada de hoje.
Escreveu o seu primeiro livro aos 6 anos, e desde então nunca mais parou!
Para além da escrita, dedica-se também ao guionismo, tendo participado na escrita de diversas telenovelas e séries, entre as quais o recente sucesso da TVI "Massa Fresca".
E, para quem não sabe, escreveu também o último livro da colecção "As Gémeas", dando continuidade ao trabalho da autora Enid Blyton e de Pamela Cox.
Falo-vos, como já devem ter percebido, de Sara Rodi, a quem desde já agradeço pela disponibilidade para aceitar este desafio!
Sara, começo por lhe perguntar quem é a Sara Rodi?
Mulher, mãe, apaixonada pela escrita, gosta de pensar que usa as palavras para transformar o mundo num lugar melhor, às vezes inquietando, às vezes apaziguando. Às vezes falha, às vezes acerta, mas maravilha-se quase todos os dias com aquilo que, nas derrotas ou nas vitórias, a vida lhe ensina.
Como é que surgiu a sua paixão pela escrita?
Aos 6 anos a minha mãe ajudou-me a fazer um pequeno livro a partir de um sonho que eu tive, e foi uma experiência extraordinária. Percebi que, de repente, as minhas ideias podiam ser partilhadas com os outros sem que eu tivesse de as contar (eu sempre falei muito rápido e de forma atabalhoada). Escritas, as palavras ganhavam a verdadeira intenção que eu queria dar-lhes. Eram mais verdadeiras, escritas, mesmo que contassem não-verdades. Escrever tornou-se a minha forma predileta de comunicar, através de histórias (e nunca mais deixei de as escrever e de as partilhar), mas também cartas. Os meus amigos recebiam tantas cartas minhas...
Quais são as suas principais referências a nível literário?
Leio muitos autores com estilos diferentes, mas marcou-me muito, na juventude (e continua a marcar-me), Fernando Pessoa, na poesia, e Saramago, na prosa. Gosto muito de autores portugueses, e acho que temos uma nova geração muito interessante. Não é por acaso que autores como Afonso Cruz, Valter Hugo-Mãe ou José Luís Peixoto estão a fazer tanto sucesso além-fronteiras.
Que estilos mais gosta de escrever?
Gosto muito de contar histórias a adultos e a crianças. Os primeiros livros que publiquei, aos 22 anos, eram para adultos, e creio que o romance continua a ser o estilo que mexe mais comigo, talvez porque obrigue a uma maior entrega. Tudo vem de dentro, é muito orgânico. A literatura infanto-juvenil surgiu por acaso, com a inspiração diferente que os meus filhos trouxeram à minha vida. Divirto-me muito a tentar desbravar o seu território, transmitir-lhes o que acho importante, mas também aprendendo muito com as suas visões do mundo. As crianças são, realmente, inspiradoras.
A maternidade fê-la render-se à literatura infanto-juvenil. Foi também o que a levou a aceitar o convite para dar continuidade à coleção “As Gémeas”, escrevendo o 10º livro?
Foi um convite muito especial, porque eu cresci a ler Enid Blyton, e nomeadamente a coleção “As Gémeas”. Dar-lhe continuidade, seguindo o estilo e os temas de uma autora tão importante, foi uma grande responsabilidade e um enorme privilégio. Os meus três rapazes não leem esta coleção, que é mais dirigida às pequenas leitores, mas estou confiante de que a minha filha, daqui a dois ou três anos, comece a lê-la, e se divirta tanto como eu me diverti, na minha infância.
Para além da escrita, a Sara enveredou também pela área do guionismo, participando na escrita de várias telenovelas e séries. Há alguma que a tenha marcado mais?
Marcou-me muito a primeira (“Ganância”, SIC), pela novidade. Na altura tinha 22 anos e não via telenovelas há muito tempo. Foi uma grande escola, onde conheci aquele que considero um grande mestre: o Francisco Nicholson. Também me marcou muito o arranque dos “Morangos com Açúcar” (temporadas I, II e III), porque era um produto novo, e eu pertencia a uma equipa jovem e a fervilhar de ideias. E, claro, a “Massa Fresca”, porque foi uma história que pude definir desde o início, com todos os ingredientes que me faziam sentido. Pela equipa de escrita que partilhou comigo esta aventura, pela entrega de toda a equipa técnica e pelo talento e carisma dos atores. E, por último, pelo feedback dos espetadores. Nas escolas dos meus filhos toda a gente via a série e fui sempre recebendo muito feedback de jovens, pais e professores, o que foi uma grande mais-valia para o projeto.
Recentemente, presenteou o público infanto-juvenil português com uma nova série “Massa Fresca”. Estava à espera do sucesso que a mesma tem vindo a alcançar?
Acho que ninguém estava à espera. Os jovens tinham-se divorciado da televisão, e não seria nada fácil trazê-los de volta, ainda para mais num horário que estava “morto”, na TVI. Tínhamos as nossas armas (os temas, as músicas, as redes sociais...) mas nunca pensámos que a adesão fosse tão grande, desde o primeiro momento. Foi uma verdadeira loucura, no melhor sentido possível.
Depois da banda sonora, chegou a vez dos livros da série, escrito em parceria com Susana Tavares. Como foi esta experiência?
Um livro é algo que permanece, resiste melhor ao tempo do que um produto televisivo. É algo que os leitores podem ler a qualquer momento, em qualquer parte (se bem que a televisão também vai sendo isso, cada vez mais). A TVI, juntamente com a Oficina do Livro, desafiaram-nos a transportar a história para três volumes, e o desafio foi obviamente aceite. Saiu agora também por estes dias um Diário da Massa Fresca, com informações sobre a série, mas também desafios de escrita e de autoconhecimento. Eu sempre escrevi diários, que ainda guardo religiosamente, e acho que são uma excelente companhia e até terapia, nos piores momentos.
Existem diferenças entre estes livros e o guião original da série?
Os livros são muito centrados na história da Maria e da família Elias. Muitos plots não puderam ser transpostos para os livros, onde o número de caracteres era muito limitado. Está neles a estrutura dorsal da “Massa Fresca”.
Que feedback tem recebido por parte do público?
Da série o feedback foi diário, quer nas redes sociais, quer à porta das escolas dos meus filhos e nas suas atividades. A minha família e os meus sobrinhos, de sangue e emprestados, também me ligavam muitas vezes a fazer os seus comentários. Isso serviu-me muitas vezes de motivação, quando ela, à custa do cansaço, me faltava. Entretanto a série acabou e continuo a receber muitas mensagens de jovens, rapazes e raparigas, a dizerem o quanto a série mexeu com eles, o que não me pode deixar mais comovida. Ainda não consegui responder a toda a gente, mas hei-de lá chegar...
Haverá uma segunda temporada de “Massa Fresca”?
Por enquanto não está pensada, a TVI já tinha outras apostas programadas. Eu sou como a Maria, confio na vida, por isso vamos ver o que o futuro nos reserva...
Muito obrigada, Sara!