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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Das legislativas do passado domingo...

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Acredito que uma boa parte da população vota por simpatia com determinado partido ou representante, ou por hábito antigo.

Quantas vezes não ouvimos, sobretudo os mais idosos, dizer que votam em "x" partido porque sempre votaram. Porque os pais votavam. Ou porque gostam muito de "x" líder, porque é muito simpático.

 

Acredito que muitas pessoas votam por saturação com o mesmo de sempre, com esperança numa mudança. 

E que outras tantas o façam apenas numa atitude de desafio, de ser do contra.

 

Acredito que apenas uma pequena parte da população conhece os programas de cada partido, sabe distinguir as promessas exequíveis das promessas vãs, as medidas praticáveis das utópicas, e vota de acordo com aquilo que, dentro do que há, poderá ser o menos mal.

 

Pessoalmente, prefiro um partido que mostra as coisas como elas são, de forma prática, ainda que o cenário oferecido não seja cor de rosa, do que aquele que me diz tudo aquilo que eu gosto de ouvir. Que, no fundo, as pessoas querem ouvir.

 

No entanto, independentemente do motivo que leva alguém a votar, pelo menos, já levou a pessoa a exercer o seu direito.

Vejo sempre tantas críticas à abstenção mas, depois, se as pessoas vão às urnas, e votam, chovem as críticas porque votaram em determinado partido. Ou seja, quase querem que as pessoas levantem o rabinho do sofá e vão votar, mas apenas nos partidos que os outros acham bons.

 

Sou da opinião que, se a pessoa estiver convicta de que está a votar no que lhe parece melhor (ainda que na prática não o seja) deve fazê-lo, sem julgamentos, nem recriminações.

Submersa...

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Longe vão os tempos em que nadava e boiava, livremente, à superfície.

E que, livremente, mergulhava.

Quando lhe apetecia. Ou quando, por algum motivo, precisava de ir ao fundo.

Mas logo voltava à superfície. Até porque a maré nunca estava muito alta.

Lá fora, divertia-se com tudo o que via. Com todos os seres que consigo conviviam, e partilhavam o espaço.

 

Depois, um dia, começou a ter que ir mais vezes ao fundo.

Não por sua vontade, mas por necessidade. Havia responsabilidades. Obrigações, que era necessário cumprir, e que dependiam de si.

E o mar, inesperamente, encheu-se de mais água, vinda não se sabe bem de onde. 

A cada dia que passava, água e mais água.

As vindas à superfície foram diminuindo, até que deixaram de acontecer.

Agora, a vida era passada de forma submersa.

 

E, bem vistas as coisas, talvez o hábito e a resiliência sejam tão grandes que se tornou mais fácil viver assim.

Sabe-se lá como, e se, ainda conseguiria ir à superfície, e sentir-se da mesma forma que antes. Divertir-se, da mesma forma que antes.

Quando já nada é como antes.

Quando, ao fim de tanto tempo, se movimenta e orienta melhor lá em baixo.

 

Até poderia tentar.

Mas a sensação é a de que, à semelhança de quem está soterrado e tenta escavar para sair do buraco, mas só lhe cai mais e mais areia em cima, soterrando ainda mais, sempre que pensa sequer em experimentar vir à tona, mais o mar se enche, mais água lhe cai em cima, mais difícil se torna, e menos vontade tem.

 

Além disso, há amarras a prender.

Como quem vai criando raízes, por estar muito tempo no mesmo sítio.

Como quem fica enredado na teia e, mesmo quando parece que está a soltar-se, há sempre um fio que impede. Ou que só solta, se tiver outro alguém a quem possa agarrar temporariamente.

E há todo um mundo que depende de si. Há todo um peso nas suas costas que, para que possa tentar sair dali, ainda que por instantes, alguém tem que estar disposto a carregar ou, pelo menos, partilhar.

Também isso não é fácil.

Porque há sempre quem desafie, quem chame para a superfície, mas poucos são os que querem aceitar a contrapartida.

 

E é por isso que, até lá, continuará a ser uma vida submersa...

Voltar à cor natural ao fim de 17 anos

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Sempre tive cabelos em tons de cantanho escuro.

Ou quase, se excluir os primeiros meses de vida em que era uma espécie de cor de caramelo.

E assim foi, até a minha filha nascer.

Esta deve ser das últimas fotos em que o meu cabelo ainda tinha a sua cor original. Aos 25 anos.

 

Depois, comecei a pintá-lo.

De acobreado. Também chamado de loiro escuro.

Que, por vezes, se transformava num loiro quase normal, ou em ruivo.

Ou numa mistura de castanho escuro, loiro, ruivo e branco, ultimamente, por conta do confinamento.

Mas, quando ainda tem cor, gosto de como fica quando o sol lhe bate. 

Gosto de me ver.

E já estava habituada.

 

No último fim de semana, fui pintá-lo. Estava a precisar.

Fui ao mesmo local onde costumava ir e, apesar de ter ficado sem a minha cabeleireira, ela deixou lá as fichas das clientes, por isso, estava descansada.

Quando me vi no espelho, depois de aplicada a tinta, estranhei aquele tom escuro, mas poderia ser efeito do produto., por ser de marca diferente.

Depois, achei que era por estar lá dentro, e quando chegasse à rua, já se notava mais.

Mas não. 

 

 

A verdade é que, sem eu estar à espera, voltei à minha cor natural. 

Castanho escuro.

E não sei se ainda me gosto de ver com ela.

Estranho muito não ter mais aqueles reflexos vermelhos e dourados.

Não sei se a cabeleireira achou que esta cor iria durar mais, se quis que ele ficasse uniformizado de acordo com o tom natural e as próprias sobrancelhas, ou se foi do reforço de tinta, por estar mesmo muito carecido dela.

Ele está bonito, bem pintado, e gostei muito do atendimento.

Mas...

 

Acho que, da próxima vez, vou pedir para mudar a cor!

E voltar ao meu acobreado dos últimos anos!

 

 

 

 

Como a Netflix aboliu a hegemonia das produções americanas

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E me fez encarar outras produções, com outros olhos.

 

Preconceito, ou hábito, a verdade é que sempre estive tão habituada a ver filmes e séries americanas que, se me sugerissem, por exemplo, um filme francês, ou alemão, torceria o nariz e poria de parte, ainda que pudesse ser bom. Penso que só vi, ainda em pequena, uma série italiana. Mais nada.

 

No entanto, desde que tenho Netflix, que dei por mim a assistir a diversas séries e filmes espanhóis, colombianos, mexicanos. Já vi também uma série sueca, e um filme norueguês. 

Acho que, quando me surge uma produção americana, até estranho, porque acaba por não ser a regra nas minhas escolhas.

 

Por exemplo, a série que a Netflix irá produzir "Cem Anos de Solidão", baseada na obra-prima do colombiano Gabriel Garcia Márquez, para além de outras questões, só agora seguirá adiante porque o autor queria que, se algum dia isso acontecesse, fosse falada em espanhol, e os herdeiros sentem que, só agora, está aberto esse caminho para a aceitação de produções noutra língua que não o inglês.

 

Nesse aspecto, a Netflix tem o mérito de ter revolucionado a forma como eu e, provavelmente, mais pessoas, começaram a receber, aceitar e apreciar produções diferentes, diversificadas e em vários idiomas, sem aquele preconceito e rejeição habitual.  

 

 

As "bengalas" da nossa vida

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"Juliana foi, em tempos, uma exímia patinadora, vencedora de vários prémios entre os quais o tão almejado Patim de Cristal. Até que, um dia, sofreu um acidente que lhe provocou uma lesão grave, que a impediria de voltar a patinar, e a deixou com uma deficiência na perna. Desde então, para caminhar, não dispensava a preciosa ajuda da sua bengala. Ano após ano. No início, era uma necessidade. Agora, era apenas uma defesa sua. Demasiado segura com ela, foi difícil perceber que se poderia sentir igualmente forte, sem a bengala. Porque a força não vinha da bengala, mas da sua mente, da sua vontade, do seu desejo. E hoje, ela caminha perfeitamente, sem bengalas..." 

 

 

 

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Também nós, por vezes, somos como a Juliana.

De tão acostumados que estamos a determinadas coisas, situações, pessoas, sentimo-nos tão seguros, apoiados, protegidos, fortes, capazes, que nos mentalizamos que, sem elas, não conseguiremos viver a nossa vida, seguir em frente. Que dependemos delas e, sem as mesmas, nada fará sentido.

Querer tirar-nos isso, ter que viver de outra forma, colocar-nos noutras situações, é como tirarem uma parte de nós, que nos complementa, que nos ajuda, que precisamos. 

 

 

 

Mas esse pensamento não poderia ser mais errado.

Nem sempre é mau sair da nossa zona de conforto. 

Podemos sentir falta durante uns tempos, da comodidade, da segurança, do apoio, da confiança, da força e protecção que nos dava a nossa "bengala". Podemos estranhar não a podermos utilizar mais, e até sentirmo-nos um pouco perdidos sem ela.

Mas, com o tempo, percebemos que, na verdade, há muito que ela não nos fazia falta, há muito que poderíamos caminhar sem ajuda, e apenas tínhamos receio de encarar essa realidade, à qual já não estávamos habituados.

E compreendemos que, no fundo, somos mais livres, e vivemos muito melhor sem ela!