A obesidade infantil é, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI, sendo prioritária a sua prevenção. O sobrepeso e a obesidade são o quinto factor principal de risco de disfunção no mundo. De uma forma geral, a obesidade infantil é mais frequente nos meios urbanos, embora também esteja presente nos meios rurais.
A nível físico, as crianças obesas tendem a desenvolver problemas como diabetes, doenças cardíacas ou má formação do esqueleto. É raro que cause risco de vida na infância, mas a esperança de vida é drasticamente reduzida. Pode agravar patologias respiratórias e alérgicas, provocar dores nas articulações e dificultar ou impossibilitar a prática de exercício físico em contexto escolar.
A nível psicológico, estas crianças são frequentemente vítimas de bullying por parte dos colegas levando, por vezes, ao isolamento e/ ou depressão.
Quanto aos factores que podem levar à obesidade, estes podem ser biológicos, psicológicos ou comportamentais, incluindo, nestes últimos, os maus hábitos alimentares, o sedentarismo e a diminuição do número de horas de sono.
Relativamente aos hábitos alimentares, temos uma das dietas mais saudáveis e equilibradas – a chamada dieta mediterrânica. No entanto, a expansão do fast-food e do comércio de junk food, tem alterado e invertido de forma significativa, a prioridade das crianças no que respeita à escolha dos alimentos. De facto, estes alimentos industrializados conseguem ser bastante apelativos, levando as crianças a preterirem outros mais saudáveis.
É verdade que, nos últimos anos, temos assistido a iniciativas positivas como o Regime de Fruta Escolar, que visa a distribuição de frutas e produtos hortícolas, nos estabelecimentos de ensino público, aos alunos que frequentam o 1.º ciclo dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, ou as mais recentes orientações da Direcção Geral de Educação para bufetes escolares.
Mas a educação alimentar das crianças não pode ser uma tarefa exclusiva das escolas. Deve começar em casa, pelos pais e familiares próximos, e logo desde o dia em que nascem. A influência dos pais na alimentação dos filhos é determinante. Sabemos que os filhos tendem a seguir os exemplos e hábitos dos pais, que nem sempre são os melhores. Nesses casos, de nada servirá aos pais quererem que os filhos se alimentem saudavelmente, se eles próprios não o fazem. Por outro lado, os pais devem estar atentos e proporcionar refeições saudáveis aos filhos, o que nem sempre acontece devido não só à falta de tempo como, muitas vezes, à falta de informação ou certos mitos.
A minha filha, por exemplo, nasceu com 3,020Kg distribuídos por 47 cm. Ao fim de duas semanas, como eu não tinha leite suficiente para ela, começou a beber leite artificial. Talvez por isso, sempre teve um peso ligeiramente acima do ideal, embora colmatado com o crescimento. Ao longo de 9 anos, o peso aumentou, mas a altura também. Não se pode considerar que tenha excesso de peso, muito menos será obesa. Mas tenho consciência que, se a deixasse comer à vontade, não seria bem assim. É normal que as crianças, tal como nós, gostem de comer “porcarias”. O meu papel é moderar esse consumo, e tentar que ela faça uma alimentação equilibrada, pelo menos enquanto estiver comigo.
O sedentarismo é também uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade, e entre as crianças e jovens. Antigamente, as crianças brincavam na rua, saltavam, pulavam, jogavam à bola, corriam…Hoje, apesar de já haver, logo no 1º ciclo do ensino básico, actividades extracurriculares físico-desportivas (facultativas), e de algumas crianças frequentarem actividades físicas fora da escola, grande parte delas prefere substituir essas actividades por algumas horas de jogos em consolas, ou comodamente sentadas em frente à televisão ou computadores. Para tal, mais uma vez, contribui em muito a falta de tempo e disponibilidade dos pais, bem como a insegurança que estes sentem ao deixarem os filhos na rua.
A falta de sono ou as poucas horas que as crianças dormem também podem levar ao aumento da obesidade. Há estudos que provam uma estreita ligação entre o sono e o apetite sendo que, à medida que o primeiro reduz, o segundo aumenta, devido a alterações das hormonas que controlam a fome. E, quanto menos dormem, mais tempo têm para comer, e menor é a probabilidade de serem fisicamente activas, havendo um menor gasto de energia.
Por todas estas razões, se pode concluir que o combate à obesidade infantil passa, sobretudo pela prevenção. É preferível evitar a obesidade numa criança, do que tentar eliminá-la depois de instalada! E essa prevenção, passará pela intervenção por parte de todos aqueles que tenham, directa ou indirectamente, influência sobre essas crianças!