Testemunhas de Jeová - última parte da conversa
(que já ia longa e eu ainda tinha um alguidar de roupa à espera para estender!)
Sempre que se fala em Deus, há uma questão que vem sempre a lume:
"Se Deus existe, e é tão bondoso e generoso, porque é que deixa morrer tantos inocentes, sem nada fazer para os salvar?".
E, acto contínuo, respondem-me sempre "mas não é Deus que faz as guerras, que mata as pessoas..."
Pois não! Mas também não faz nada para o impedir!
Disse-me, um dia, alguém, que havia uma luta constante entre Deus e o Diabo, e que a intenção era manter o equilíbrio. Se ninguém morresse, ou se todos morressem, tudo se desequilibraria.
Claro que, por vezes, a balança pende mais para um lado do que para o outro.
Imaginem alguém a tentar salvar várias pessoas ao mesmo tempo. Para acudir a uma, não consegue fazê-lo com outra.
Este raciocínio tem a sua lógica, e só perde consistência quando se apregoa aos quatro ventos que Deus é todo poderoso e omnipresente...
Adiante...
Nessa tarde, as senhoras perguntaram-me quem é que eu achava que era o grande responsável pelos males do mundo, e eu não hesitei em responder: o Homem!
Porque somos nós que cá estamos, somos nós, gananciosos, na ânsia de dinheiro e poder, que passamos por cima de tudo e de todos, que começamos as guerras, que matamos, que destruímos os nossos recursos, a natureza que nos rodeia, que provocamos, directa ou indirectamente, catástrofes como incêndios e outras resultantes de alterações climáticas, por obra da poluição para a qual todos os dias contribuímos, somos nós que, muitas vezes, provocamos acidentes, e por aí fora.
No fundo, somos nós, humanos, que cá vivemos, que não sabemos gerir aquilo que temos ao nosso dispôr, que não sabemos partilhar aquilo que conseguimos obter, que só nos preocupamos connosco e agimos naquela de "salve-se quem puder, de preferência, eu!".
Depois, existem, claro, aqueles fenómenos que ninguém sabe explicar, as ditas "causas naturais" pelas quais, eventualmente, ninguém será responsável.
Ora, assim sendo, tudo isto iliba Deus de qualquer responsabilidade nos males de que somos vítimas. E, não sendo responsável, também não tem por que resolver as coisas por nós.
Mas, lá volta a eterna questão:
"Se Deus existe, se é todo poderoso e omnipresente, se é justo, se é conhecido por castigar os maus, e proteger os bons, porque é que, na prática, não vemos isso?".
Porque é que continuam a partir os melhores, e a ficar por cá os piores? Porque é que o bem é premiado com a morte, e o mal, com a vida?
Nem de propósito, lembrei-me deste poema de Luís de Camões, que a minha filha tem no manual de português:
Ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.
Reflete ou não, a realidade dos nossos dias?!