Podem vir com todos os argumentos que quiserem, e mais alguns, que vou continuar a dizer em alto e bom som:
"NÃO CONCORDO!"
E não digo isto apenas pelo facto de, eu própria, não gostar de educação física e ter sido muito fraquinha à disciplina. Digo-o, porque penso que não faz qualquer sentido, nos moldes em que o querem fazer, e pelos motivos que invocam.
Que me digam que a educação física é importante para combater a obesidade ou o sedentarismo, ou para promover a saúde, posso aceitar, ainda que não concorde a 100%. Que, como tal, achem importante a mesma ser obrigatória nas escolas o que, mais uma vez, não concordo, também consigo compreender. Que considerem que a educação física tem sido uma disciplina desvalorizada face a todas as outras, e que não é levada a sério, igualmente - não concordo, mas aceito.
Mas se querem que a mesma tenha sucesso, e seja valorizada, comecem por revolucioná-la!
Chega destes programas que têm, obrigatoriamente, que ser seguidos pelos professores e que, desde há décadas até hoje, se mantêm inalteráveis, e em nada motivam os alunos. Chega de impingir sempre as mesmas modalidades, os mesmos exercícios. É preciso inovar, cativar, modernizar. Fazer com que os alunos passem a gostar e a querer praticar. Nunca, impôr!
Por outro lado, não faz qualquer sentido um aluno, cuja área a seguir nada tem a ver com a educação física, depender desta disciplina para a sua média de acesso ao ensino superior. Ah e tal, existem outras disciplinas que também não são necessárias e,ainda assim, todas elas contam para a média. Pois é, e muitas delas também não deveriam contar. Mas o que está aqui em causa é a educação física, que já tinha deixado de contar (e bem). E não faz sentido qualquer aluno que vai para um curso em nada está ligado ao desporto, ver a sua média afectada por esta disciplina. Faz sentido, sim, para quem pretenda seguir a área.
Dizia o meu marido, acérrimo defensor da educação física (ou não tivesse a tirar a licenciatura em Ciências do Desporto) que concorda com a medida e que, agora sim, os alunos se vão começar a esforçar para tirar boa nota na disciplina.
Não concordo!
Quem não tem jeito para a educação física ou, simplesmente, não gosta, não se vai esforçar numa disciplina na qual não consegue dar mais. Vai, antes, passar a gostar ainda menos da mesma, e dedicar-se às outras em que tem mais facilidade.
Dizia ele também: "a educação física é precisa para tudo". Errado! Eu não preciso de saber fazer o pino para fazer uma conta de somar. Não preciso de saber fazer uma flexão para escrever uma carta. Não preciso de jogar bem andebol para fazer preencher impressos. Da mesma forma que uma tradutora não precisa de dar grandes saltos em comprimento para traduzir um filme. Um economista não precisa de dar 10 voltas a uma pista, para exercer a sua função. E por aí fora!
Segundo o lema do SIMPÓSIO que ocorreu no fim-de-semana "+ (Mais) EXERCÍCIO, > (Maior) SUCESSO ESCOLAR, M3 (Melhor) FUTURO", vários especialistas sublinharam a importância do exercício físico para a melhoria das funções executivas e cognitivas dos alunos.
No entanto, se formos analisar as pautas das notas da grande parte dos alunos pode verificar-se que, aqueles que têm melhores notas a outras disciplinas, têm notas mais baixas a educação física e, por outro lado, os melhores alunos a educação física têm mais dificuldade e notas mais baixas às restantes disciplinas. Não é, portanto, indispensável para o sucesso escolar.
Fala-se também muito de integração na sociedade através da prática de actividade desportiva, da ocupação dos jovens que, assim, se mantêm focados no desporto, evitando meter-se em problemas. Ora, isto para mim não é mais do que conversa para crianças e jovens em risco. Nunca precisei da educação física para me integrar, pelo contrário. Nunca precisei dela para me manter ocupada.
Ah e tal, a educação física é importante no combate à indisciplina. Mais uma vez, discordo! Sempre houve educação física nas escolas, e há cada vez mais indisciplina nas mesmas. Não vejo em que é que o facto de ser obrigatória, ou contar para nota e média interfira com o comportamento dos alunos.
Ah e tal, a educação física torna as pessoas mais calmas e ponderadas. Discordo! Conheço praticantes de desporto que são tudo menos pessoas calmas, e explodem à mínima coisa.
Ah e tal, é a única forma de chegar a todas as crianças, jovens e até adultos, e unir todos, sem lugar para discriminação ou bullying. Isso é muito bonito em teoria. Na prática, as coisa não são assim tão bonitas!
Ah e tal, o que interessa é os alunos esforçarem-se, e tentarem fazer os exercícios. Mentira! Pode funcionar assim com alguns professores, mas não será por isso que os alunos terão uma boa nota. E com outros professores, ou faz, e faz bem, ou leva a nota de acordo com o que não faz/ não consegue fazer. Ou, como eu, leva uma positiva apenas porque parecia mal, face às restantes notas boas que eu tinha!
Por tudo isto, se querem realmente que a disciplina de educação física tenha maior valor e seja levada a sério, melhorem a oferta, criem um novo conceito para a disciplina, levem os alunos a "querer" fazer as actividades, a gostar das actividades, e não a praticar, pura e simplesmente, por obrigação.
Acho bem que quem gosta e se sinta bem, pratique qualquer actividade à sua disposição, mas essa decisão, e o esforço e empenho que colocamos nessa actividade, tem que partir unicamente de nós, e não de factores impostos por terceiros.
Não queiram fazer das médias e notas o "bode expiatório" para levar a cabo uma mudança que nada tem a ver com os alunos, e que em nada os virá a beneficiar. Porque esta guerra é entre professores, profissionais da área e Ministério da Educação.