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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Remendar" o vazio

 

Pode ser difícil ultrapassar algo que foi derrubado. Deitado abaixo. Destruído por completo.

Mas, mais difícil, é ultrapassar algo que deixou um buraco em aberto.

Por mais que se tente tapar, remendar, preencher o vazio que ali foi deixado, é sempre uma situação que permanecerá pendente.

Que não conseguimos voltar o pôr como era, mas também não conseguimos que nada ali encaixe.

Que não nos deixa voltar atrás, mas também não nos permite avançar.

 

Enquanto temos força e esperança, tentamos todas as formas de preencher cada espacinho, por pequeno que seja, até que não sobre nenhum.

Mas, quando percebemos que todas essas tentativas se esgotam sem qualquer sucesso, acabamos por arrancar tudo.

E, em vez de reduzir, aumentamos ainda mais o vazio.

 

Não gosto de situações pendentes, que não há forma de resolver.

Que nos deixam de pés e mãos atados.

Ficam ali a corroer, a cutucar, a lembrar constantemente o quão somos impotentes.

E, por mais que a pessoa siga, aquele buraco ficará sempre ali...

Impotência...

(que a história não se repita)

Algemado: vetores de stock, imagens vetoriais, desenhos gráficos |  Depositphotos

 

Nenhum momento é bom para se ficar em isolamento.

Mas, de todos os momentos menos bons, este foi mesmo um péssimo momento.

 

Há uma semana que o meu pai não se anda a sentir bem.

Foi a uma consulta de urgência, fizeram rx.

O médico apenas lhe disse que tinha "os pulmões fracos", o que quer que isso signifique. A tensão fraca. E, supostamente, oxigénio no sangue baixo.

Prescreveu umas análises para fazer e mostrar à médica da família. E uns comprimidos, para ver se o ajudava a dormir.

Porque é sempre à noite que piora.

 

Feitas as análises, não sendo médica, percebi que não estão famosas. Muitos valores alterados, e sujestivos de vários problemas.

O meu pai tem 80 anos.

Não dorme há vários dias.

Não tem grande motivação para viver, depois que a minha mãe partiu.

E, agora, nem sequer podemos fazer-lhe companhia, ficando ainda mais sozinho, e doente.

 

Estamos a escassos metros da casa dele, mas não podemos lá ir.

Para o bem dele. Que, ao mesmo tempo, o faz sentir pior.

 

Ele já disse que não vai para nenhum hospital.

Ainda assim, não o podemos acompanhar a qualquer consulta. 

Não o podemos vigiar, medicar, fazê-lo comer, nada.

 

Ao contrário de nós, pelos testes que tem feito, não tem Covid.

Mas alguma coisa se passa.

Espero que ainda se vá a tempo de resolver.

 

Neste momento, é um homem que está a sofrer, fisica e psicologicamente, e a acreditar que a hora dele está a chegar...

E eu, impotente, não posso fazer muito para o ajudar...

 

 

O papel mais difícil de desempenhar na vida

Pode ser uma imagem de criança, céu e texto

 

São dois, na verdade.

O papel de pai/ mãe. E o papel de filho(a).

 

Não é fácil ser filho(a).

Há que corresponder a demasiadas expectativas que, para si, foram criadas, pelos pais. Ao nível de exigência que lhes é imposto. 

Estão, muitas vezes, sujeitos a comparações com irmãos, colegas, amigos, filhos de amigos dos pais.

Estão, muitas vezes, condicionados pelos pais, pela função que exercem, pelo papel que têm na sociedade, e nos seus grupos.

E, como se isso não bastasse, ainda têm que lidar com os seus próprios problemas. 

Com a aceitação dos colegas e amigos, gerando sentimento de pertença a algo. Ou com a exclusão, se não se identificarem com o grupo.

Têm que aprender a viver num mundo que é só deles, e os pais pouco poderão fazer para tornar esse mundo melhor. Podem dar-lhes ferramentas. Mas não podem travar as suas lutas.

Podem até compreender. Mas não são eles que estão a viver.

E gera-se frustração, desilusão, impotência, solidão.

 

Não é fácil ser pai/ mãe.

Porque não há livro de instruções. Nem receita para esse papel.

Podemos dar tudo o que temos aos filhos. Todo o amor, toda a compreensão, todo o apoio, todo o carinho. Todo o nosso tempo. E, ainda assim, não ser suficiente. E, ainda assim, descobrirmos que tudo falhou.

Da mesma forma que, muitas vezes, falha com aqueles pais que não têm tempo para dedicar aos filhos, e os deixam entregues a si mesmos.

Porque, na verdade, é impossível conhecer os nossos filhos na totalidade.

Eles só nos mostram a parte do seu mundo que querem que nós vejamos. A outra, só eles sabem.

E nós, seja porque não conseguimos ver mesmo, porque fazemos por não ver, ou porque estamos demasiado ocupados a olhar para outro lado, estamos longe de perceber o lado não visível.

Criamos uma imagem dos filhos, e é com ela que vivemos. Não significa que seja verdadeira. Ou totalmente verdadeira.

E é algo que nunca iremos conseguir ver, se os nossos filhos não se sentirem à vontade para mostrar. Se não sentirem que o podem fazer. Se não acreditarem que vale a pena.

Por outro lado, eles são eles, e têm uma palavra a dizer sobre a sua vida. Sobre quem são. Sobre quem irão ser. Nem tudo está nas nossas mãos e, como tal, nem sempre há algo que possamos fazer.

Mais uma vez, gera-se frustração, desilusão, impotência, solidão.

 

Depois, há, por vezes, um grande desencontro de pensamentos e intenções entre estas duas gerações, que levam a que a relação, em vez de se fortalecer, enfraqueça e que ambos, em vez de se unirem, se afastem.

 

Os pais, adultos, com experiência, acham sempre que sabem o que é melhor para os filhos. Qual a melhor forma de os educar para que se tornem adultos "funcionais", integrados e aceites pela sociedade.

Os filhos, acham que os adultos não são capazes de os compreender e, como tal, não os conseguirão ajudar, estando entregues a si mesmos.

 

Os pais, tentam não se meter muito na vida dos filhos porque acham sempre que eles veem isso como uma intromissão, invasão de privacidade, e não gostam.

Os filhos, acham sempre que os pais não perguntam nada, porque não querem saber, porque andam demasiado ocupados para se preocuparem com eles.

 

Os pais, ainda que os filhos não se abram com eles, acham sempre que sabem como os filhos se sentem, porque são seus filhos.
 
Os filhos, ainda que não digam o que sentem, acham sempre que os pais deveriam sabê-lo, pelo simples facto de serem pais.
 
 
Os pais, acham sempre que, quando tudo dá errado com os filhos, é culpa é sua. Ainda que não saibam bem qual. Ou dos filhos, quando se querem descartar dela.
 
Da mesma forma, os filhos culpam-se sempre. Ou culpam os pais, só porque acham que tem que haver um culpado.
Quando, na verdade, nem sempre existe culpa, mas apenas um acumular de situações que não se poderiam prever, condicionadas por um ambiente que, também ele não era o mais favorável, e decorridas no meio de uma sociedade que, também ela, não oferece soluções adequadas. 
 
 
Seria bom que "achassem" menos, e conversassem mais...
Poderia não tornar as relações perfeitas, mas evitaria muitos mal entendidos.
Poderia não mudar o rumo das suas vidas, mas tornaria tudo muito mais claro.
Ou poderia, de facto, fazer a diferença.
 
 
Ser pai/ mãe, e ser filho(a) são os papéis mais difíceis de desempenhar porque não há guião. 
Não há uma mesma forma de o fazer. Não há um padrão a seguir.
Cada pai/ mãe, e cada filho(a) são diferentes, e isso pode gerar os mais diversos cenários, à medida que os seus papéis vão sendo desempenhados.
Vai sempre haver erros, de ambas as partes.
Vai sempre haver coisas que ambas farão bem.
 
Mas é quase como uma aposta.
Temos tantas hipóteses de falhar, como apenas de nos aproximar, ou de acertar na chave vencedora.
Mas não é por isso que deixamos de apostar. E de tentar, semana após semana.
Da mesma forma que nunca deixamos de ser pais, ou filhos, ainda que nem sempre isso resulte da forma que esperámos, ou desejámos.
 
 
 
 

De que servem os nossos ideais se não nos permitirem dar uso a eles?

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Quando alguém escolhe uma determinada profissão, como polícia, advogado, investigador, juíz, médico ou outra qualquer que esteja, de alguma forma, directa ou indirectamente, relacionada com o sentido de justiça e verdade, escolhe-a, porque acredita que pode lutar por esses ideais e dar o seu contributo.

 

É para isso que trabalha e dedica a sua vida, sabendo que está a fazer o que é certo, o que é correcto. Mas, muitas vezes, os nossos ideais de nada nos servem. 

Muits vezes, ficamos de pés e mãos atadas, porque existem forças mais importantes que os nossos ideais. Para as quais, esses ideais, servem para pisar por cima e pôr no lixo.

 

O que fazer, então, nesses momentos em que percebemos que, para manter o nosso trabalho e fazer aquilo que gostamos, temos que ignorar o que está bem diante dos nossos olhos, e compactuar com o oposto daquilo pelo qual lutamos?

Quando de nada adianta saber a verdade, se a nossa vida depende de a ocultarmos ou não?

Quando o nosso trabalho deixar de nos dar prazer, para apenas nos causar angústia, vergonha, impotência?

Quando não podemos dar uso aos nossos ideais, e somos obrigados a fechá-los numa gaveta?

 

 

Para alguns, para quem a situação se torna insustentável, a resposta é simples...

Sair!

 

 

 

(inspirado na série La Victima Número 8, da Netflix)

Ver Titanic 20 anos depois!

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As primeiras imagens que vi do filme Titanic, e que me fizeram ter conhecimento dele, foram as do videoclip da música "My Heart Will Go On", da Celine Dion, que vi nos tempos em que ainda passava na TV o TOP + !

E pensei: "este filme deve ser bom, quero ver!".

No dia dos namorados, fui presenteada com bilhetes para assistir ao filme e ia cheia de expectativas e entusiasmo. No entanto, confesso, nos primeiros 20 minutos do filme só me perguntava: "mas não foi isto que eu vi no videoclip, onde é que estão os actores principais? mas o que é isto? mas o filme vai ser assim?". Só comecei a entrar no espírito quando a história, de facto, começou - a história da Rose e do Jack.

É o meu filme preferido. Naquela altura em que foi exibido, vi-o duas vezes no cinema, e mais umas quantas em casa (ao todo, talvez umas 8), primeiro a cassete de vídeo que me ofereceram e, mais tarde, na televisão.

 

 

 

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Claro que, das primeiras vezes, não consegui evitar as lágrimas e a emoção que o filme conseguia passar para este lado. Nas restantes, já não era a mesma coisa. E assim o arrumei, na lista dos meus favoritos, mas dando prioridade a novos filmes.

 

 

 

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Ontem, a minha filha começou a ver o Titanic. Tinha gravado e lembrou-se de vê-lo logo pela manhã, enquanto não ia para a escola.

E é engraçado que ela teve, exactamente, a mesma reacção que eu - a de que não estava a ver o filme que tinha visto na apresentação! 

Entretanto, teve que ir embora e só viu o resto à noite.

 

 

 

Imagem relacionada

 

Eu tinha levado um livro para a sala, para me entreter enquanto ela via o filme, mas acabei por nem tocar nele.

É impossível não ficar colada ao ecrã a rever toda a história que me apaixonou há tantos anos atrás!

 

 

 

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Sim. Vinte anos depois da sua estreia, o filme continua a estar actual. Poderia ter estreado este ano, e o efeito seria o mesmo.

Não se nota a passagem do tempo, como seria de esperar. A não ser na imagem actual dos actores que deram vida a estas personagens tão cativantes.

Continua a emocionar, a revoltar, a fazer sonhar...

Continua a dar-nos uma grande lição - a todos nós, humanos, que nos consideramos capazes dos maiores feitos, que pensamos ser imunes a tudo, que julgamos estar acima da lei e da própria natureza, que nos julgamos tão inteligentes e sabedores de tudo, achando que nunca cometeremos erros, que nada nos atingirá, que as coisas não podem ser de forma diferente daquela que planeámos, porque nós assim queremos.

O Titanic foi construído para ser o navio mais famoso do mundo, e conseguiu-o, embora não pelos melhores motivos. Conseguiu-o, à custa da vida de milhares de pessoas, e uma boa dose de burrice, arrogância e ostentação.

Vinte anos passaram, sobre a estreia do filme. Muitos mais desde o dia em que o inafundável navio se afundou, perante o olhar incrédulo dos que nele estavam, e do sentimento de culpa de quem cometeu erros indesculpáveis, permitiu que o navio desancorasse rumo ao seu destino sem as condições que se exigiam e se sentiu responsável pela morte de tanta gente. E, igualmente, perante a indiferença, cobardia e orgulho sem sentido de outros tantos.

Mas ainda hoje podemos identificar situações e pessoas semelhantes a muitas daquelas com que nos deparámos no Titanic:

- os de primeira classe, ricos e poderosos, com a mania da superioridade

- os de terceira classe, que são obrigados a contentar-se com condições precárias e miseráveis, e a manterem-se afastados dos demais

- os arrogantes

- os vigaristas

- situações em que o dinheiro compra tudo e outras em que o mesmo nao vale nada

- as corajosas, que tentam mudar as coisas, mas são obrigadas a calar-se

- os aventureiros

- os apaixonados

- a hipocrisia

- a amizade

- a entreajuda

- a resignação

- o amor...

 

Momentos de felicidade, de alegria, de paixão, de contentamento com o pouco que tinham. Momentos de opressão, de cinismo, de futilidade. Momentos de pânico, desespero, aflição, cada um a tentar salvar-se, nem que para isso tenha que passar por cima dos demais. A injustiça das regras sociais quando se tenta lutar pela vida...

 

 

 

 

Imagem relacionada

 

O que levou, verdadeiramente, o Titanic a afundar-se em pleno Atlântico, ainda permanece um mistério. Poderá ter sido o iceberg, o incêndio que houve antes, ou uma junção de várias causas. Ainda hoje, mais de cem anos passados, surgem novas teorias.

Mas, o que quer que tenha provocado este que é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX, só nos mostra que assim como podemos ser capazes de grandes feitos, também podemos, numa fracção de segundos, perceber como somos impotentes perante determinadas circunstâncias, e tão pequeninos perante a força da natureza.

Na hora da morte, somos todos iguais...

Mas, ao menos, que as vidas perdidas não o tenham sido em vão.

A Rose seguiu o seu caminho, dando um novo rumo à sua vida. Isso não seria possível sem o Jack. Foi ele que lhe deu coragem, que a fez dar o passo seguinte, que a fez conhecer o verdadeiro amor. Um amor que ela guardou de forma preciosa até ao dia em que se juntou a ele, noutro mundo.

 

 Vinte anos depois, Titanic voltou a fazer-me reviver todas as emoções, a ficar com aquele nó na garganta, e a apaixonar-me novamente por esta história!