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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Enquanto espero...

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... aproveito uma aberta, e procuro um banco de jardim, onde me possa sentar, e aquecer ao sol, num dia tão frio.

Por incrível que pareça, tempo não me falta.

Pelo contrário, parece ser tempo a mais, ainda que nunca o seja.

É irónico que esteja sempre a queixar-me de que me falta tempo e, quando o tenho, não o possa aproveitar como gostaria, e só queira vê-lo passar depressa.

 

Por mim, passam pessoas. 

Estudantes, num qualquer intervalo entre aulas, ou já com o dia terminado.

Acompanhantes que, tal como eu, tentam ocupar o tempo.

Funcionários, que aproveitam a pausa para petiscar, ou fumar um cigarrinho.

Pacientes, que vão, ou vêm, de alguma consulta.

Familiares que chegam para visitas.

 

Poucos se atrevem a sentar.

Afinal, os bancos estão molhados da chuva que, pouco tempo antes, tinha caído.

O vento também não convida a ficar parado muito tempo.

Mas eu, deixo-me estar.

Ali, posso respirar. Aliviar a dor de cabeça. Abstrair.

 

Olho para o céu.

Nuvens brancas percorrem-no, em passo apressado.

Também não querem ficar ali muito tempo.

E quem quer?

 

O sol vai aproveitando os seus últimos minutos de esplendor.

A caminho, vêm as nuvens negras que, depressa, o esconderão.

Tiro, para memória futura, uma fotografia daquele pedacinho de paz, no meio da incerteza que me aguarda.

Levanto-me, e dirijo-me de volta ao caos, para me proteger da chuva que não há-de tardar a cair.

 

E espero...

Abrigada de uma intempérie. Desabrigada de outra.

Eu, e tantas outras pessoas. 

 

 

1 Foto, 1 Texto #16

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Na natureza, como na vida, nada, nem ninguém, é poupado.

Seja novo, seja velho.

Tenha acabado de nascer, com uma vida pela frente, ou esteja perto de morrer.

Seja jovem, ou maduro.

 

Quando tem que ser, quando é mais forte, quando é algo contra o qual não se consegue lutar, calha a todos.

Umas vezes, faz poucas vítimas.

Outras, destrói dezenas de vidas, mostrando-se arrasadora.

A natureza. E a vida.

 

Naquela tarde, depois da intempérie, encontraram-nas caídas.

Não resistiram. Não aguentaram.

Ali, jazia, quem sabe, mãe e filha. Avó e neta. Ou talvez nem se conheçam mas, ainda assim juntas.

Inocentes. Vítimas atiradas, sem qualquer piedade, ao chão.

 

E, agora, o que será delas?

Talvez pontapeadas por quem ali passar.

Pisadas. Esmagadas. Enxotadas.

Ou talvez alguém se compadeça, e lhes dê um final mais digno.

 

 

Texto escrito para o Desafio 1 Foto, 1Texto