Estará Portugal preparado para as intempéries?
Ontem de manhã estava a chover por aqui. Enquanto ia para o trabalho, reparei que, de entre as 4 ou 5 valetas que encontrei pelo caminho, a maioria delas estava entupida, com a água a acumular-se mesmo em cima delas, sem escoar.
Essa situação, na zona em que vivo, é um mal menor, porque é uma zona que não é plana e, por isso, pouco propícia a eventuais cheias. Mas numa outra zona mais plana, sem ter por onde escoar e com as valetas tapadas, provavelmente de lixo e folhas levadas pelo vento, poderia provocar estragos.
E, assim, dei por mim a divagar se Portugal é um país minimamente preparado para as intempéries, que cada vez mais parecem querer visitar o nosso país.
Não me parece.
Temos uns meses de seca, em algumas regiões de seca extrema, e o país fica em alerta vermelho. Os rios secam, as barragens ficam abaixo dos níveis. Depois, quando chove, já há água a mais, e é preciso abrir as barragens, que podem levar a cheias.
Constroem-se moradias e empreendimentos turísticos à beira mar (só não o fazem em plena praia porque não dá mesmo), porque é o que atrai os turistas, os veraneantes. É chique ter uma casa de praia para passar os fins-de-semana. E penso que todos nós, algum dia, sonhámos com isso – ter uma casa ali tão perto da praia. Ou dos rios. Mas, cada vez mais, o nível das águas do mar sobe, a extensão de areia diminui, os rios enchem e saltam as margens. Cada vez mais a costa portuguesa é ameaçada. E tudo o que nela existe também.
E se as construções antigas eram, de certa forma, mais resistentes, com paredes grossas de pedra, por exemplo, hoje em dia, optam-se por outros materiais, tanto por uma questão estética, como financeira. Por outro lado, constrói-se em quantidade, e nem sempre em qualidade, o que faz com que, em casos de fenómenos extremos de vento, ou outros, as construções não resistam.
Também a questão dos incêndios tem muito que se lhe diga, como ficou provado em 2017, e em anos anteriores.
Tal como a iminência de um grande sismo ocorrer, mais cedo ou mais tarde.
Podemos ser um paraíso à beira mar plantado, com tudo o que de bom temos por cá, e que atrai tanta gente ao nosso país.
Podemos ser um país relativamente calmo em termos de guerras ou conflitos.
Podemos ser um país, até ao momento, pouco dado a tsunamis, tornados, furacões e outros fenómenos do género, ao contrário de outros que são fustigados por eles.
Podemos ser um país em que, apesar de tudo, ainda não conheceu a pobreza, a fome e a miséria no seu pior estado, como outros países.
Mas não significa que não venhamos a sofrer com tudo isso, e muito mais.
Já vi muitos "paraísos" ficarem completamente destruídos num curto espaço de tempo.
E sempre ouvi dizer que mais vale prevenir, que remediar.
No entanto, não me parece que Portugal seja um país dado à prevenção. Parece-me mais aquele popular ditado “depois da casa roubada, trancas a porta”.
Portugal aposta em tentar remediar os erros que cometeu pela não prevenção, ao invés de se prevenir e preparar para os perigos que podem um dia, quem sabe mais cedo do que imagina, cá chegar, e entrar sem pedir licença.