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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Abdicar da vida, pela carreira, ou da carreira, pela vida?

Resultado de imagem para qualidade de vida ou carreira

 

Gosto de comunicar, de pesquisar, de entrevistar mas, nem uma única vez, pensei seguir a área do jornalismo. 

Muitas vezes o meu marido diz-me: devias investir nessa área. Ao que eu lhe respondo sempre: o facto de gostar de uma coisa, não quer dizer que tenha que fazer dela profissão ou carreira.

Da mesma forma que ele, apesar de gostar tanto de animais, não tem, obrigatoriamente, de ser médico veterinário, por exemplo.

 

Claro que haverá áreas que interessam a determinadas pessoas e que, por isso mesmo, querem seguir porque isso as realiza e faz felizes. E que o ideal, sempre que possível, é trabalharmos em algo que gostemos. Mas não tem que ser uma regra. Até porque, gostanto de diferentes áreas, não seria fácil exercê-las todas ao mesmo tempo.

 

Assim, e escolhida aquela que mais queremos ou nos agrada ou, simplesmente, aquela que, não nos agradando, é a que tem melhor saída profissional, há que mostrar o que valemos, dar o nosso melhor, decidar a nossa vida a ela, até porque é ela que nos dá o sustento.

Mas há quem leve a sua carreira a um extremo, de quase abdicar da sua vida, pelo trabalho. Muitas vezes, durante anos a fio.

Até há bem pouco tempo, era essa a tendência, sobretudo por parte das mulheres, que além de tudo o resto, queriam afirmar-se e mostrar o que valiam, num mundo de homens.

 

Hoje em dia, parece-me que a tendência se está a inverter.

Parece-me que, hoje, as pessoas estão a abdicar das suas carreiras, para recuperar a vida que naõ viveram até agora.

Há cerca de 2 anos, um conhecido do meu marido abdicou da sua carreira de engenheiro, e do belo salário que ganhava, para se tornar recepcionista num ginásio, e treinador de futebol de crianças nos tempos livres.

Aquilo que perdeu em dinheiro, ganhou em descanso, em horas com a família, em paz, e a fazer algo que gosta. E não se arrepende.

 

Da mesma forma, o médico veterinário que fundou o Hospital Veterinário aqui da vila, que estudou tanto para se formar, que lutou tanto para se dedicar aos animais e ter um hospital a seu cargo, desistiu porque já estava farto.

 

Colegas do meu marido, seguranças, com mais idade, já começam a acusar o excesso de trabalho, as noites  fora de casa, o pouco tempo para a família, e a preferir postos e horários mais suaves.

 

Até mesmo eu, quando tive oportunidade de ir para um trabalho a ganhar um bom ordenado, pouco depois de terminar os estudos, disse que não. Iria sair de casa de madrugada, e chegar à noite. Não dava para mim. E era solteira na altura, e sem filhos.

Hoje, ainda menos abdicaria, a não ser por extrema necessidade, do tempo que ainda vou tendo com a minha filha, por uma carreira profissional, por um emprego bem remunerado, mas que me tirasse a liberdade que hoje tenho.

 

E por aí, do que abdicariam mais facilmente: qualidade de vida, ou da carreira?

Pergunta parva (ou talvez não)

sobre casar e descasar os anos

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Alguns dias depois de ter feito 41 anos, apercebi-me de algo que, até agora, nem me tinha dado conta, e surgiu-me a seguinte questão:

 

Quando uma pessoa faz "x" anos, no dia do mês de igual número, diz-se que casa os anos.

Ou seja, quando fiz 14 anos, no dia 14, deu-se a união.

 

E quando acontece o inverso?

Quando, fazemos anos no dia "x", mas os anos são o inverso da data?

Neste caso, tendo feito 41 anos no dia 14, será que posso decretar oficialmente o divórcio, já que estão de costas voltadas?!

Ter filhos em Portugal...

Imagem relacionada

 

...não é justo, não compensa, faz cada vez menos sentido, e é cada vez mais impensável.

Portugal é um país com população, maioritariamente envelhecida, e a tendência é para continuar.

Cada vez mais, por incrível ou absurdo que possa parecer, as pessoas optam por ter animais de estimação, em substituição dos filhos que um dia desejaram, ou não, ter.

 

Porquê?

 

Vivemos num país em que a maioria de nós não tem o seu emprego de sonho, nem tão pouco um emprego razoável, com horas decentes de trabalho, e um ordenado que lhes permita grande coisa, além da sobrevivência. Trabalhamos horas a mais, num único trabalho ou na soma de vários para conseguir ganhar um salário mediano, na esperança de que, depois de assegurado o essencial, ainda sobrem uns tostões para alguma eventualidade que surja.

Ora, se passamos o dia todo (ou a noite, para os que trabalham nesse horário) fora de casa e, quando chegamos, só queremos é descanso, paz e sossego, que tempo sobra para dedicar a um filho? 

 

Criam-se creches, apoios ao estudo, centros de actividades de tempos livres, actividades extra curriculares, prolongamentos, e horários escolares que ocupem o maior número de horas possível durante o dia, para que os pais possam trabalhar descansados, entrar cedo e sair tarde, sem preocupações. 

Quando se deveria, isso sim, criar condições para que os pais pudessem passar parte desse tempo com os filhos.

Se os pais não têm tempo para estar com os seus filhos, para quê trazê-los ao mundo? 

Para descartá-los em casa dos avós para que cuidem deles? Para deixá-los entregues a amas ou outros que tomam conta deles no nosso lugar? Unicamente para alimentá-los, dar banho e pô-los a dormir? Para os ver uns minutos por dia? Não faz sentido.

 

Esta semana, a minha filha trouxe trabalhos de casa na terça-feira, de 3 disciplinas. Um dos trabalhos era para a próxima semana mas, como no fim de semana tem que estudar para os testes da semana seguinte, fê-lo naquele dia, juntamente com outro. Deitámo-nos cerca das 23 horas, já sem paciência e cheios de sono, para no outro dia acordar cedo.

Quarta-feira, trouxe novamente trabalhos mas, como tinha teste no dia seguinte, dedicou-se ao estudo, e deixou os trabalhos para quinta. Novamente, deitámo-nos por volta das 23 horas.

Quinta-feira, tinha obrigatoriamente que fazer os trabalhos de duas disciplinas, para hoje. Entre tentar perceber o que era pedido, cálculos, pesquisas, e responder a tudo, porque levar uma resposta por fazer pode equivaler a ter falta como se não tivesse feito nada, já eram quase 23.30 horas quando fomos dormir.

Para hoje ter que acordar cedo novamente.

Ora, no meio de jantares, banhos e TPC's sem fim, onde fica o tempo para estarmos juntos enquanto família? Para desanuviar de um dia de trabalho e de aulas?

Porque é que, em vez de sobrecarregarem os horários dos alunos com mais de 10 disciplinas, não criam um tempo em que eles façam os TPC's na escola, e esclareçam as dúvidas na hora, com quem mais os pode ajudar, tirando essa carga dos pais?

Se não há tempo para convívio e actividades divertidas com os filhos, muitas vezes nem aos fins de semana, para quê trazê-los ao mundo?

 

Basicamente, temos filhos para os entregar, desde cedo, a outras pessoas que irão cuidar deles enquanto passamos a maior parte do dia fora de casa, e que depois os avós irão buscar e cuidar até que os pais cheguem a casa, para dali a 5 minutos estarem na cama e, no dia seguinte, e no seguinte, repetir toda a rotina. 

É justo para nós, pais? Será justo, acima de tudo, para estas crianças crescerem desta forma?