"O Quarto"
Também conhecido por "O Quarto de Jack", este filme mostra como uma mãe e o seu filho vivem enclausurados num quarto, durante vários anos, como se fosse algo perfeitamente banal, e aquele espaço fosse o único existente no mundo.
Já tinha ouvido falar do filme, mas sem lhe dar grande importância. Para dizer a verdade, nem sabia muito bem do que ele tratava, até o meu marido o gravar, e eu ter pesquisado mais informação.
Infelizmente, este é um tema difícil de ser abordado, com cenas que preferíamos não visualizar, mas que retrata uma realidade cada vez mais frequente.
Joy foi raptada há 7 anos (tinha apenas 17 anos na altura), e trancada naquele quarto pelo "Velho Nick", onde sofreu abusos sexuais constantes, tendo deles resultado um filho - Jack.
Poder-se-ia pensar que Joy iria rejeitar este bebé, ou que o próprio Nick se iria desfazer dele, mas não é isso que acontece. Joy cria-o como pode, evitando ao máximo que ele perceba a verdadeira situação em que estão, fazendo-o acreditar que aquele espaço é o único que existe, e que tudo o resto é fantasia ou magia.
E, assim, Jack vai crescendo, aprendendo a ler, fazendo exercício, e levando uma vida relativamente normal, com o pouco que têm, que Nick lhes leva sempre que visita Joy, e perpetua mais um abuso, com o filho a assistir, dentro do roupeiro. Joy nunca permitiu que Nick chegasse perto de Jack ou sequer tocasse nele.
A partir do momento em que Jack completa 5 anos, Joy começa a perceber que, mais cedo ou mais tarde, terão que tentar escapar e, agora que o filho já é mais velho e poderá perceber melhor a situação, conta-lhe então a verdade, e elabora um plano em que Jack será fundamental para os tirar dali para sempre.
Ora, imaginem o que é, durante 5 anos, contar uma mesma história e, de um momento para o outro, dizer que isso afinal não é verdade. E esperar que uma criança aceite o que agora é dito como real, e esqueça o resto? Não é fácil, e Jack irá, algumas vezes, revoltar-se, sentir medo, tentar ignorar.
Até porque, para Jack, o "Quarto" era um local seguro, onde ele sempre viveu, e onde tem as únicas recordações da sua infância.
Mas o plano segue adiante, e Jack e a sua mãe são mesmo resgatados, voltando para a família, colocando assim um ponto final em 7 anos de abusos e cláusura.
Resta saber como poderão Joy, os seus pais (que entretanto se separaram e reconstruíram as suas vidas) e, principalmente, Jack, conseguir recuperar a sua vida, fora daquelas 4 paredes.
Poderão os avós aceitar, com a mesma facilidade com que Joy o fez, um neto que resultou de abusos sexuais?
Poderá Joy conviver com eles, havendo essa rejeição?
Terá ela pensado, verdadeiramente, no filho, ao tê-lo mantido consigo durante tantos anos em cativeiro, ou tomado a melhor decisão?
Só quem passa por uma situação destas saberá o que se sente, e como consegue ultrapassar cada dia que passa, sem enlouquecer, sem perder o controlo, sem se deixar vencer ou, até, tomar uma atitude mais drástica, para acabar de vez com tudo.