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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Dispara, eu já estou morto", de Julia Navarro

Dispara, Eu Já Estou Morto, Julia Navarro - Livro - Bertrand

 

Porque é que existem guerras?

Porque os povos não sabem/ não querem conversar, negociar, repartir, partilhar, entender-se entre si.

E porque há sempre governantes, líderes, loucos, que só pensam em si, e que se aproveitam dessa discórdia e incapacidade de entendimento dos povos, acabando por reclamar, para si, o poder sobre eles, e sobre o alvo do seu desentendimento: terras, riqueza, estatuto, ou o que quer que seja.

Sempre assim foi. E continuará a ser...

 

Quem sofre as consequências?

Todos! 

 

Há pouco tempo, já não sei bem como, surgiu-me este livro no radar.

Comecei a ler. 

Tinha 840 páginas, meio caminho andado para desistir, mas não o fiz.

Embora, confesso, tenha explicações, situações, descrições a mais, e que poderiam ser mais resumidas. Tem, também, muita política. Para além de que, chegando ao fim do livro, se não for lido todo de seguida, uma pessoa acaba por quase se perder no meio de tanta gente, tantos membros das famílias, e tantas gerações (daria jeito uma árvore genealógica).

 

Tudo começa quando Marian, que trabalha para uma organização que estuda, no terreno, os problemas que as populações deslocadas sofrem devido a conflitos bélicos, e catástrofes naturais, é enviada a Israel, a fim de levar a cabo algumas entrevistas, e elaborar um relatório sobre a situação, nomeadamente, a política de assentamentos.

Nesse sentido, tinha solicitado uma entrevista com Aaron Zucker, um dos mais firmes defensores da política de assentamentos. No entanto, acaba por se ver frente a frente não com Aaron, mas com o seu pai, Ezequiel.

A partir daí, toda a história que se desenrola é um relato, a duas vozes - Marian e Ezequiel - de como tudo começou, até à actualidade em que se encontram e, no fundo, em que nos encontramos hoje.

Resumidamente, os judeus (suponho que um dos povos mais indesejados e discriminados por todo o mundo) viam, na Palestina, a sua pátria e, fugindo de outros países onde eram perseguidos, num regresso às origens ou em busca de uma vida melhor, era para ali que partiam.

Só que, naquela altura, quase toda a Palestina estava sob o regime turco, e era ocupada por árabes, que viam nos judeus uma ameaça, já que chegavam cada vez mais e, pouco a pouco, iam comprando/ ocupando as terras que, no fundo, não lhes pertenciam, por não terem dinheiro suficiente para as comprar, mas nas quais trabalhavam e cultivavam.

E foi assim que começou o conflito, que dura até hoje, com ataques e contra-ataques de ambas as partes, cada uma a defender o seu direito àquelas terras, sem nunca conseguir levar a cabo a partilha das mesmas.

 

Neste livro, vamos acompanhando duas famílias - a família Zucker e a família Ziad - numa história que começa no final do século XIX.

Samuel Zucker e Ahmed Ziad, numa comunidade criada pelo primeiro (que comprou as terras onde vivia o segundo), a que chamaram Horta da Esperança, passam a trabalhar juntos e a respeitar-se, mesmo com culturas e pensamentos diferentes, onde todos - mulheres crianças, adultos, e velhos - trabalham e contribuem com as tarefas. 

Na Horta de Esperança, durante décadas, conviveram árabes e judeus tentanto, a todo o custo, preservar a amizade entre eles, que se viam quase como família, apesar dos conflitos entre os seus povos.

Todos se ajudavam, todos se apoiavam, estavam lá uns para os outros.

Até que, um dia, tiveram que se tornar adversários, por força das circunstâncias. 

 

Actualmente, Ezequiel, filho de Samuel, está de um dos lados, como israelita invasor, e Wadi Ziad, neto de Ahmed, do outro, como refugiado palestiniano, deslocado das suas terras, ocupadas pelos judeus.

Aqueles que, um dia, foram os melhores amigos, estão hoje em lados opostos de uma guerra que só trouxe sofrimento às suas famílias.

Cada um deles carrega um fardo pesado, e demasiadas cicatrizes desses conflitos.

Mas é assim a vida. 

 

O livro acaba por se tornar cansativo, mas o final compensa.

Só nas últimas páginas começamos a desconfiar, e a frase final, que corresponde ao título do livro, deixa em aberto o que acontece porque "Se disparasse, perder-se-ia; se não o fizesse, nunca se perdoaria."

 

Quem tem razão?

Ambos os lados. E nenhum.

Porque, como em tudo na vida, há sempre duas perspectivas.

Mas, diria Mohamed Ziad "Há momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando ou morrendo."

E cada um luta, e está disposto a morrer, por aquilo que acredita.

 

 

Sinopse:

"Um romance extraordinário sobre o conflito israelo-árabe retratando personagens inesquecíveis, cujas vidas se entrelaçam com os momentos-chave da história a partir do final do século XIX a meados do século XX, e recriando a vida em cidades emblemáticas como São Petersburgo, Paris e Jerusalém. Aqui Julia Navarro conduz o leitor através de relações duras de homens e mulheres que lutam por uma parcela de terra onde possam viver em paz."

Unorthodox, da Netflix

Unorthodox | Trailer principal | Netflix | CA Notícias

 

Ester Shapiro, mais conhecida por Esty, é uma jovem judia que foge do seu marido, e da comunidade hassídica de Williamsburg, em Nova Iorque, onde cresceu e foi educada, em busca de liberdade e independência, algo que não lhe é permitido ter, enquanto mulher, e esposa.

 

A série mostra um pouco da cultura, dos costumes, das crenças e tradições, e da vida dos judeus hassíricos, nomeadamente, a escolha do marido, todo o ritual que envolve o noivado, a preparação da noiva, e a própria cerimónia do casamento, bem como o funcionamento da vida conjugal.

 

Muito focados no seu próprio mundo, os judeus são proibidos de qualquer contacto com o mundo exterior e, uma coisa tão usada por nós, como a Internet, e tão simples, como fazer uma pesquisa num motor de busca, é um bicho de sete cabeças, para eles.

 

As mulheres servem para cuidar do lar, e procriar. E, por isso, não precisam de educação escolar. Apenas a educação para o casamento, para a satisfação do futuro marido e para a sua condição de esposa.

Não existe apenas o casal. O casamento é com a família toda.

Não existe privacidade, ou cumplicidade.

Existem regras, deveres, expectativas, e muita pressão sobre as mulheres.

 

Esty não aguentou. Tal como a mãe, muitos anos antes.

Não era feliz, não era compreendida.

Ela queria mais, e sentiu que tinha que fugir dali. Tal como a mãe o fizera.

 

Apenas com a roupa do corpo, o pouco dinheiro que conseguiu reunir, e a ajuda da sua professora de música, Esty chega a Berlim, onde vive a mãe, que ela pensa que a abandonou em criança.

Só que, agora, Esty tem que encarar uma nova realidade, um novo mundo, nova formas de ver as coisas e as pessoas, e viver.

Apesar de ter a sorte de encontrar um bom grupo de amigos, Esty é uma estranha, grávida, num mundo que pode ser duro com aqueles que não estão preparados para ele.

 

E a sua família judaica não irá facilitar. O marido viaja, com o primo, para Berlim, com a intenção de levar a mulher para casa. E não descansará, enquanto não o conseguir.

Estará Esty disposta a cortar com o passado, e a lutar pelo que foi procurar?

 

Uma minissérie de 4 episódios, que recomendo!

 

 

 

O Rapaz do Pijama às Riscas

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No sábado, a minha filha escolheu este filme para vermos.

Não é, por certo, o género dela, mas ela queria vê-lo, e eu aproveitei para lhe explicar um pouco como funcionavam as coisas naquele tempo, como pensavam os alemães, o que faziam aos judeus, para que serviam os campos de concentração.

Pelo menos, não está, neste momento, na mesma total ignorância que Bruno, a personagem principal deste filme, que achava que o campo de concentração era uma quinta, que os lavradores vestiam pijamas, e que poderia fazer amigos entre as crianças que por ali estavam. 

Por falta do que fazer, e porque não tem ali quaisquer amigos ou entretimento, Bruno escapa-se por uma janela de um barracão nas traseiras da casa, para explorar tudo à sua volta, indo parar à vedação do campo de concentração, onde conhece um menino judeu - Shmuel.

É incrível a ingenuidade de Bruno, talvez herdada da mãe, que só mais tarde percebe quem é, realmente, o marido e o que faz ali.  Mas, se o objectivo era fazer o expectador sentir empatia por Bruno, isso nem sempre é conseguido. Aliás, houve uma parte em que me apeteceu pregar-lhe dois pares de lambadas.

Porque, afinal, na maioria das vezes, filho de rico nunca chega a perceber verdadeiramente quem não nasceu com a mesma sorte, e tende a mostrar o seu carácter egoísta e medroso, quando mais se exigia coragem.

Até na parte final, Bruno vê a entrada no campo de concentração, disfarçado com o seu "pijama às riscas", como uma aventura na qual vai tentar ajudar Shmuel a encontrar o pai deste. E, mal começa a ver as coisas complicarem-se, quer voltar atrás, para a sua vidinha, para a sua segurança.

Mas Shmuel relembra-o do motivo porque ali está, e da ajuda que lhe ofereceu, levando Bruno a ganhar coragem, e seguir em frente. Só não sabia as consequências que daí adviriam.

Disseram que era apenas um banho que iriam tomar. Na verdade, estavam numa câmara de gás, a caminho da morte.  

 

E se, de repente, fossemos os responsáveis pela morte do nosso filho? Se fizessemos a ele o mesmo que fazemos àqueles que não consideramos "gente"? 

Mudaria alguma coisa na nossa consciência? Ou seguiríamos adiante, lamentando a perda como um dano colateral, numa missão nobre pela salvação da raça superior?

 

Chegará o pai de Bruno a tempo de impedir aquele genocídio, que ele mesmo, à semelhança de outros tantos, ordenou?