Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Músicas que nos tocam: Christmas Lights, dos Coldplay

 

A primeira vez que ouvi esta música estava eu a sair do trabalho, e era a que tocava no momento na rua.

Não a conhecia.

Mas mexeu comigo.

Quando dei por mim, estava com lágrimas nos olhos.

 

Talvez o momento não tenha sido o melhor: tinha acabado de saber que o pai de um amigo do meu marido tinha falecido.

E isso fez-me solidarizar-me com ele, porque acabámos por passar por situações semelhantes e, inevitavelmente, as lágrimas eram por ele, que tinha acabado de perder o pai, e por mim, que perdi a minha mãe.

 

No entanto, hoje voltei a ouvi-la.

E voltou a tocar-me.

Definitivamente, é uma música que me comove.

 

Que me transmite nostalgia, saudade, desilusão mas, ao mesmo tempo, esperança.

Que me deixa triste mas, ao mesmo tempo, me faz sorrir.

É difícil de explicar.

 

Mas não o são todas as músicas que nos atingem o coração?! 

Da guerra...

5H_E2CZT_400x400.jpg 

 

A guerra…

Procurei, calmamente, escapar dela.

Eu.

A minha família.

Os meus amigos.

E todos aqueles que aqui estavam, tranquilamente, a viver a sua vida.

 

Não a antevi. Não a percebi.

Para falar a verdade, nem sequer a concebi. Não a imaginei.

E, no entanto, parece que ela estava implícita.

Nas entrelinhas que não vi.

Nas letras pequeninas que ignorei.

 

Falava-se disso, é certo.

Mas acontecer mesmo, não acreditava.

Não queria acreditar.

Até ao dia em que aconteceu.

E percebi que era real.

 

A guerra…

Procurei, racionalmente, contorná-la.

Tentei esconder-me. Mas não o consegui fazer.

Arrisquei enfrentá-la. Afinal, sou forte.

Mas ela fintou-me.

E avisou-me do que me esperava, se continuasse.

 

A guerra…

Procurei, seguramente, afastar-me dela.

Deixando tudo para trás.

Anos de vida. De lutas. De conquistas.

Tudo o que tinha construído. Alcançado.

Não havia tempo.

 

A guerra…

Procurei, apressadamente, salvar-me. E aos meus.

Com o receio, a angústia, e a tristeza a inundar-me.

Com a sensação de perda. De fracasso. De luto.

De lágrimas nos olhos. O coração, nas mãos, apertado.

E uma dor no peito, impossível de descrever.

 

A guerra…

Porque é que, simplesmente, não nos deixam?

Porque é que, simplesmente, não nos respeitam?

Porquê, nós?

Sempre os mesmos.

Os que ficam. Os que partem. Os que já nada podem fazer.

 

A guerra…

Procurei, desesperadamente, fugir dela.

Mas, por mais que fuja, ela persegue-me.

Nenhum lugar é seguro.

Mesmo que assim o creia.

Sinto que não passa de uma ilusão.

 

Mesmo quando me dizem que está tudo bem.

Que estou em segurança, e já não corro perigo.

Sinto que, a qualquer momento, uma bomba pode rebentar.

Um míssil pode cair.

A morte me pode levar.

 

A guerra…

Procuro ter fé. Ter esperança.

Acreditar que o pior já passou.

Que já não corremos perigo.

Mas não passou.

Porque os traumas ficam para sempre.

 

Os traumas.

As marcas.

O medo.

A destruição à nossa volta.

O que se perdeu, e já não se recupera.

 

Perde-se a liberdade.

Perde-se a inocência das crianças.

Perde-se a alegria.

Perde-se a segurança.

Perde-se um povo.

 

A guerra…

Procuro, deste lado, acreditar que vai acabar.

Com um sentimento de gratidão.

Por ter tido a oportunidade de sobreviver.

Ou, quem sabe, desolação.

Por ter perdido os meus, pelo caminho.

 

Do outro lado, os que ficaram de livre vontade.

Para defender a nossa terra.

Ou foram obrigados a ficar.

Para lutar nesta guerra.

Com as armas que têm, e que não têm.

 

A guerra...

Espero, um dia, regressar.

À minha terra. Ao meu país. 

Ter tempo para recomeçar a vida, que ficou suspensa.

Até lá, resta rezar para que mais nenhum inocente sofra.

Nesta guerra que nunca quisémos. E nunca pedimos...

Quando recebemos a notícia de que a nossa mãe partiu

É curioso que, tendo já escrito tantas homenagens, não me saiam agora palavras para falar da minha mãe.

Talvez porque tudo o que eu disser será pouco. E porque aquilo que está cá dentro não caberia num só texto. Ou porque talvez seja mais difícil quando são os nossos.

 

Apesar de, nos últimos tempos, ter previsto este cenário por diversas vezes, é algo para o qual nunca estamos preparados, quando ele se confirma.

Quando acordei, esta manhã, estava confiante. Nada me preparou para o que aí vinha.

 

Um telefonema da médica, pouco depois das 9 da manhã. Pensei que fosse para me pôr ao corrente da evolução da minha mãe.

Nem quando me disse que a minha mãe tinha um quadro complicado, suspeitei. 

Nem mesmo, quando me perguntou se eu tinha mais alguém em casa. Pensei que fosse por ser necessário ir lá.

Só quando lhe perguntei o que iria ser feito, quais os passos seguintes, é que ela me informou que, infelizmente, a minha mãe tinha falecido.

Portanto, ela falou e fez-me falar, já em modo de preparação, para atenuar o choque da triste notícia.

E foi, de facto, um choque. Como, imagino, será para todos os que perdem familiares.

 

Posto isto, a principal preocupação foi como dar a notícia ao meu pai.

Porque teria que ser eu a dá-la, e não o poderia fazer no estado em que estava, para além de não saber como iria ele reagir.

 

Depois, avisar familiares, amigos e, a cada telefonema, ou mensagem, reviver as emoções, relembrar o choque, encarar e tomar consciência da realidade.

E tentar não pensar nisso, para não descambar.

Fazer piadas, ocupar com tarefas domésticas.

Momentos intercalados com lágrimas e lembranças.

Até as bichanas perceberam. A Amora veio dar-me turrinhas, como que a consolar-me.

Estava em casa apenas com a minha filha.

Não foi fácil.

 

Depois, momentos de decisões.

Autopsiar, ou não autopsiar? Para quê? De que adiantava agora  saber a causa da morte?

Calhou-me ligar para a médica, e dizer que não queríamos autópsia.

 

E, em seguida, ligar para a agência funerária, para dar início a todo o processo.

Escolher urnas.

Escolher flores.

Escolher cartões para o velório.

Escolher mensagem.

E aperceber, mais uma vez, da realidade.

É necessário. É uma homenagem. Mas quem é que tem cabeça para essas coisas num momento destes?

 

Desligar o interruptor.

Há uma filha, as gatas para tratar, o almoço para fazer.

O meu marido chegou entretanto. Tinha ido trabalhar mas, perante a situação, arranjaram alguém para o substituir.

O meu irmão viria também.

 

Afinal, ainda havia mais trâmites a tratar.

A escolha da roupa para vestir a minha mãe.

É horrível.

Sabemos que será essa a última imagem dela, e queremos dar-lhe a dignidade possível, ainda que nesta hora em que nos despedimos dela.

Mas é voltar tudo ao de cima, olhar para as coisas dela, e um milhão de pensamentos e lágrimas a misturar-se, e a deitar abaixo.

 

No entanto, é preciso levar a roupa.

Fazer compras.

Limpar a casa.

Desligar o interruptor, e tentar distrair-me é o melhor remédio.

E, se possível, tentar que não toquem no assunto.

 

A esta altura, final do dia D, em que a minha mãe completa 79 anos e meio, e nos deixa para sempre, já nem sei bem o que sinto. 

Mas sei que o pior ainda está por vir.

Amanhã.

 

Por mim, seria uma despedida rápida, só para nós, e acabava.

Mas sabemos que as pessoas querem dar apoio. Que também se querem despedir. Mesmo que cada palavra, dita com a melhor intenção e sentida, nos faça mais mal que bem. Que seja como um escarafunchar numa ferida que está em carne viva, e que assim não sara.

E, por muito que saiba que vai ser duro olhar para a minha mãe, ou para o que restou dela, sei que quero olhá-la uma última vez.

 

Não sou dada a religião, mas a minha mãe era católica e, por isso, pedi serviço religioso.

Que, também ele, vai ser duro. Faz parte. E se não aguentar, é sinónimo que sou humana.

 

E, por fim, o encerrar de tudo.

O momento em que percebemos, definitivamente, que é real, que não a veremos mais. Que, a partir dali, estará debaixo de terra.

Que, ao menos, o seu espírito encontre uma moradia melhor.

 

A nós, restam-nos dias duros, de mais burocracias que, também elas, são necessárias, e a esperança de que o tempo atenue a dor e o sofrimento dos que cá ficam, com a certeza de que a minha mãe, que partiu, já não sofre mais.

É a lei da vida. Calha a todos. Uns mais cedo. Outros mais tarde. Mas ninguém escapa.

Ainda assim, não deixa de ser sempre pior quando nos toca a nós, e aos nossos.

É tentar agarrar ao que de bom vivemos com ela, com plena noção de que não ficou nada por fazer, dizer ou demonstrar, no tempo que que estivemos com ela.

 

 

 

 

Porque é que as nossas lágrimas incomodam tanto os outros?

Resultado de imagem para lágrimas

 

Ontem, dizia uma senhora para a jovem que estava a chorar à sua frente: "Aqui nesta casa, não se chora! Mesmo que as coisas não estejam bem, mostramos sempre um sorriso na cara.".

Não sei se, por ter tido sempre que se habituar a esconder aquilo que sentia, e usar esse sorriso como máscara, e agora querer transmitir isso, ou porque, simplesmente, queria consolar a jovem.

 

Já outra, afirmava, em jeito de brincadeira "Ela já sabe que se começar a chorar, leva logo na cabeça!"

Neste caso, porque acha que, da infelicidade, já se encarrega a vida, restando a nós ver o lado bom das coisas, e mudar a forma de pensar e encarar as situações.

 

Até mesmo eu, apesar de também ser uma chorona, por algumas vezes, para atenuar momentos tristes que presencio, com pessoas à minha volta, tento fazer parvoíces, palhaçadas, brincar, fazê-los rir ou, com pessoas apenas conhecidas, tentar mostrar um outro lado da mesma situação.

Se, no primeiro caso, é mesmo por gostar das pessoas e não as querer ver tristes, no segundo, é porque fica sempre aquele desconforto, aquele constrangimento, de não saber o que fazer, o que dizer, de não sermos a pessoa mais indicada para estar ali, e consolar.

Também pode acontecer achar que a situação não é assim tão grave, que justifique aquelas lágrimas.

Ou não ter o mínimo jeito, ou sensibilidade, para consolar os que estão ao nosso lado.

 

Seja qual for o motivo, a verdade é que as lágrimas parecem incomodar ainda muita gente. As nossas lágrimas, aos outros. E as dos outros, a nós?

Porquê?

Não sei.

É assim tão mau chorar? Mostrar os nossos sentimentos, a nossa tristeza, através delas?

Até dizem que chorar faz bem e lava a alma, que ajuda a superar e ultrapassar os problemas. 

Então, porque é que os outros querem, tantas vezes, que as contenhamos, que as evitemos, que não as derramemos, pelo menos à sua frente?

Pensarão eles que isso nos torna mais fracos, mais frágeis, mais vulneráveis?

Será também isso o que pensamos, quando nos envergonhamos de estar ali a chorar à frente dos outros?

Ou por acharmos que não as, e nos, irão compreender? 

 

E por aí?

Como reagem às lagrimas dos outros?

E os que vos rodeiam, às vossas? 

A Caminho de Casa (A Dog's Way Home)

1939787.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxx.jpg

 

Quem gosta de animais sabe que se cria sempre, entre o animal e o dono, uma relação especial e, quase sempre, essa relação de amizade/ amor incondicional é explorada nos filmes sobre animais.

Em "A Caminho de Casa", essa fórmula também está presente mas, atrevo-me a dizer, a relação entre a cadela Bella e o seu dono, Lucas, foi pouco explorada, trabalhada ou aprofundada, tornando os animais presentes ao longo do filme: a mãe gata, a puma (gatona), e até alguns amigos caninos que ela vai fazendo na sua jornada, as verdadeiras estrelas do filme.

 

 

Imagem relacionada

 

"A Caminho de Casa", conhecido em inglês por "A Dog's Way Home", foi inspirado no livro do autor W. Bruce Cameron, que também escreveu "Juntos para Sempre", o que já prometia um filme cheio de emoções, e boas expectativas, tendo em conta o antecessor.

O trailer, bem como a sugestão da Anabela, ajudou à decisão de "próximo filme a ver sem falta"!

 

 

 

Imagem relacionada

 

Uma cadela vive com os seus filhotes, juntamente com uma gata e as suas crias, numa casa em ruínas, prestes a ser deitada abaixo e o terreno limpo.

Lucas é um estudante de medicina veterinária, que trabalha como voluntário num hospital local. É ele que leva comida para alimentar estes animais, que ele sabe que lá estão mas que, tanto o dono como o Controle de Animais, afirmam já não existir.

É lá que, após ver a sua mãe ser capturada, e ter sido protegida pela mãe gata, Bella arrisca a sua sorte e dá-se a conhecer a Lucas, sendo adoptada por ele.

E assim vive os dias mais felizes da sua vida, enquanto vai crescendo. 

Mas sabemos que os cães costumam ser mais dependentes dos donos e, quando eles não estão, torna-se mais difícil entreter-se sozinhos, acabando por fazer algumas asneiras que lhes podem sair caras.

É o que acontece, um dia, a Bella.

 

 

 

Imagem relacionada

 

Depois de alguns dias mais complicados, em que Bella se viu obrigada a estar separada de Lucas, sem perceber bem porquê, ela decide fugir e voltar para a casa do seu dono. Só que ela está muito longe, e muita coisa irá acontecer pelo caminho.

Uma delas é a relação que desenvolve com uma puma bebé, de quem ela se torna "mãe", após a mãe puma ser morta por caçadores. Uma bebé que vai crescendo e que, às tantas, fica maior que Bella!

Até ao dia em que se vêem obrigadas a separar-se...

 

 

Resultado de imagem para a dog's way home

 

Aliás, quase todo o percurso de Bela é feito de separações daqueles que lhe são mais queridos.

Primeiro da sua mãe, depois da mãe gata, Lucas, a puma, o seu amigo canino Dutch...

Se são de lágrima fácil, aconselho a munirem-se de pacotes de lenços porque o filme vai, quase do início ao fim, mexer com as emoções e puxar pelas lágrimas.

 

 

A Caminho de Casa mostra como, tão ou mais forte que a amizade e a relação entre animais e humanos, podem as mesmas ser entre animais de diferentes espécies.

Mostra também como podem os animais ser tão leais aos seus donos, ainda que estes apenas mostrem desprezo.

Para além disso, dá-nos a conhecer a forma como os animais podem ajudar as pessoas, nomeadamente, na depressão, ou em outras patologias.

 

 

Não gostei, no entanto, da forma como foi abordada a relação que um sem abrigo criou com Bella. É certo que muitos se aproveitam dos animais para chegarem ao coração e carteira das pessoas e obter maior solidariedade. Mas também é verdade que muitos tratam bem os animais de rua, abandonados, por vezes atér mesmo partilhando o pouco que têm com eles, e protegendo-os.

Foi assim que começou esta relação, mas depressa se percebeu que havia muito mais ali. Bella era a única companhia deste sem abrigo, mas também a sua forma de sustento. A obcessão por Bella, e por não morrer sozinho era tal que, mesmo à beira da morte, em vez de a soltar da corda que a prendia, a acorrentou a si próprio, privando-a de tudo e deixando-a, igualmente, entregue à morte...

 

 

Daqui até ao final, lamechas como sou, fui tudo visto por entre soluços, lágrimas e assoadelas, à espera que o filme chegasse logo ao fim!

Se valeu a pena? Totalmente!

Só tenho pena de ainda não estar à venda o livro em Portugal.

 

 

Aqui fica o trailer: