Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Desafio de Escrita do Triptofano #11

Fugir à normalidade

thumbnail_Desafio de Escrita do Triptofano.jpg 

 

A caminho de uma gala solidária

 

Anacleta: Pablito, não queres fazer um desviozinho?

Pablo: Não posso, menina. Tenho instruções para a levar, sem demoras, à gala de beneficência.

Anacleta: Chato! Não te cansas de fazer sempre o mesmo? De ser assim tão certinho?  

Pablo: É o meu trabalho, menina. Se não o fizer bem feito, sou despedido. E se for despedido, não tenho como sustentar a minha família.

Anacleta: Podias sempre arranjar outro trabalho, mais divertido! Isto é uma seca. Sempre a mesma rotina, sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas malditas regras. Cada dia igual ao anterior. Não há nada pelo qual anseies. Que te faça querer viver. Olha para estes soldados! Todos iguais. Todos alinhadinhos. Que falta de personalidade!

Pablo: Não diga isso, menina. É apenas sentido de dever, e respeito para consigo e para com a sua família.

Anacleta: Tretas! Vá lá, Pablito. Vamos fugir um pouco à normalidade. Só hoje.

Pablo: A menina é teimosa! Não lhe expliquei já...

 

E parou de falar, ao ver que Anacleta já tinha tirado as roupas de cerimónia, e estava agora com uma t-shirt, calças e ténis.

 

Pablo: Mas o que é isso, menina?!

Anacleta (dando umas tesouradas na farda de Pablo): Isto?! Isto é a nossa desculpa perfeita! Agora que não estamos apresentáveis, podemos faltar à gala, e ir onde quisermos.

Pablo: A menina sabe os problemas que me está a arranjar? A mim, e a si! Ou acha que os seus paizinhos vão ficar contentes consigo?

Anacleta: Quero lá saber. Também já tiveram a minha idade! E, se calhar, também já quebraram as regras. Descontrai, Pablito. Vais ver que vais gostar!

 

Depois de umas horas a satisfazer os caprichos de Anacleta, Pablo dá-lhe a entender que está na hora de regressarem, e enfrentarem as consequências daquele acto de rebeldia.

E lá voltam, Pablo receoso, e Anacleta cansada e pensativa, a caminho de casa.

 

Às tantas, diz Anacleta: Sabes, Pablito, não percebo porque é que as pessoas são todas tão diferentes onde estivemos.

Pablo: Então, menina? Ainda há pouco se queixava de tudo ser sempre igual. 

Anacleta: Eu sei, Pablito. Mas é que se tudo for diferente, não nos encaixamos em nada. Sentimos que não pertencemos a nada.

Pablo: Mas não era isso que a menina queria? Ser alguém diferente?

Anacleta: Sabes que mais? Acho que afinal, até gosto da minha normalidade. É bom estar de volta.

Pablo (pensando para com os seus botões): Pelo menos ganhou juízo.  Sempre serviu para alguma coisa.

 

Anacleta (ao fim de uns instantes, como que lendo o pensamento de Pablo): Mas sabes que, mais dia, menos dia, vamos fazer outra escapadinha! Sabes porquê?

Pablo: Não faço ideia, menina.

Anacleta: Porque é a única forma de nos relembrar daquilo que temos, daquilo que somos, e do quão gratos devemos estar. De nos relembrar de que nem tudo é sempre bom, mas também nem tudo é sempre mau. De querer voltar para onde, antes, queríamos sair. Estás a perceber?

Pablo: Sim, menina. A única forma de lidarmos e aceitarmos a normalidade, é fugindo dela, de vez em quando.

Anacleta: Olha! Até que és um sábio companheiro de aventuras, Pablito! Quem diria...

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Maria Araújo

Ana D.

 

 

Devemos proteger os jovens da realidade, ou deixá-los ver e lidar com ela?

transferir.jpg

 

Dizia-me, no outro dia, alguém que, por vezes, quando as famílias iam visitar os idosos nos lares, ou instituições, acabavam por permitir que os mais novos (netos/ bisnetos) não entrassem, porque eram novos, e não tinham que ver "aquilo". 

Há também uma grande tendência, no que respeita ao falecimento de familiares, para deixar os jovens em casa, ou com alguém que possa ficar com eles algumas horas, enquanto decorre o velório e funeral, porque poderia ser demais para eles, e não estarão preparados para tal.

Outras vezes, fugimos de certos temas, e pintamos uma realidade alternativa, para mascarar aquela que existe, como a dos sem abrigo, da violência, das guerras, das fomes, da miséria.

São jovens. Têm mais em que pensar. Não precisam de lidar com a dura realidade. 

Pois...

 

Não digo que, de forma totalmente oposta, desatemos a esfregar-lhes na cara a realidade.

Que os obriguemos, de repente, a ir para as ruas, ou para onde se passam as diversas problemáticas sociais, ou cenários menos coloridos, para que saibam como a vida é.

Que os forcemos a algo para o qual não estão preparados. Por vezes, nem nós estamos preparados.

Mas também não nos caberá, somente a nós, decidir isso.

Seeia bom ouvir os jovens. Saber qual é a sua vontade. O seu desejo. Se se sentem confortáveis.

Ou não, mas ainda assim querem ver e lidar com a realidade.

 

Se calhar, mesmo sem querer, somos nós que, muitas vezes, temos mais dificuldades em encará-la, e projectamos as mesmas nos jovens.

No entanto, eles não têm que ser iguais a nós.

E, se é verdade que não há necessidade de expô-los a tudo, de um momento para o outro, também há limites para a excessiva protecção que lhes queremos dar, alienando-os da realidade que, mais cedo ou mais tarde, lhes surgirá à frente, de uma forma ou de outra.

 

 

 

 

Sabem aquelas pessoas...

Resultado de imagem para confusa

 

... que dizem que devemos manter a calma, quando elas próprias se mostram uma pilha de nervos?

... que dizem que parecemos estar aborrecidos ou chateados, quando basta olhar para a cara delas para ver que são elas que estão de "trombas", aborrecidas e chateadas?

... que querem à força descarregar o seu stress e não sabem como, e começam a moer quem têm ao lado, até a outra pessoa explodir, para depois dizerem que não havia necessidade?

... que arranjam forma de empurrar para nós, aquilo que elas próprias sentem e culpar-nos por aquilo a que deram origem?

... que resmungam baixinho mas, ainda assim, para nós ouvirmos mas, quando lhes perguntamos directamente o que querem dizer, se calam?

 

Pois...

Não é fácil lidar com pessoas assim.

Que vêm nos outros, o seu próprio reflexo, mas não o querem admitir.

 

É ter, muitas vezes, que ouvir e ignorar.

É ter, muitas vezes, que pensar duas vezes no que se vai dizer, ou se vale a pena falar.

É medir cada passo, cada gesto, cada palavra, para não pisar nenhuma mina que possa rebentar, sem querermos.

E esperar chegar ao outro lado do campo, sem activar nenhum explosivo!

 

Já alguma vez se depararam com pessoas assim na vossa vida?