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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Lobo Solitário", de Jodi Picoult

Lobo Solitário

 

Um pai...

Dois filhos...

Um deles quer manter o pai vivo. O outro, nem por isso.

Duas motivações diferentes. Duas perspectivas diferentes. Duas decisões contrárias.

Nesta história, nenhuma está certa ou errada.  Ambas estão certas. E ambas estão erradas.

E as decisões que tomam, tomam-nas pelas razões certas, e pelas erradas.

Porque, quando se tomam decisões que dizem respeito a terceiros, é mais fácil pensar naquilo que nós próprios queremos, e em como as mesmas nos afectarão, do que pensar naquilo que esses terceiros desejariam, e em como eles se sentiriam.

Se deixássemos de pensar em nós, e pensássemos apenas na pessoa que é a principal visada e interessada, talvez as decisões fossem mais acertadas, e menos difíceis de tomar.

Mas o ser humano é egoísta por natureza. E é com base nesse "egoísmo", que teima em justificar as suas acções e decisões, pelo fim a que as mesmas levariam e que, para ele, é o único fim possível.

No entanto, pior ainda que agir, ou decidir, é optar por não fazê-lo, esperando que outro o faça por si.

Deixar uma qualquer decisão nas mãos de outra pessoa retira, a quem não a quer tomar, a responsabilidade e o peso que a mesma acarretaria, ao mesmo tempo que lhe concede o argumento necessário para culpar quem a tomou por si, ou em nome dos dois.

É uma atitude cobarde. Mas, tantas vezes posta, em prática...

 

Uma mãe...

Dois filhos...

Um que fugiu de casa há seis anos, sem ela saber bem porquê, e que não vê desde então. Outro que preferiu ir morar com o pai, com quem se sentia bem.

E que, agora, regressam, ao mesmo tempo, pela mesma razão, para junto da mãe. Por força das circunstâncias. Embora cada um queira voltar à sua vida o mais depressa possível.

Dois filhos que a disputam entre si. Que procuram nela uma aliada. 

Dois filhos que precisam dela mais do que nunca mas, ajudando um, estará a afastar o outro.

Como provar que ama igualmente os dois?

 

Dois irmãos...

O reencontro após seis anos de ausência, traz com ele toda a mágoa, toda a recriminação, todo o ressentimento.

Se houve um dia em que foram companheiros, e amigos, hoje que estão em lados opostos.

Um, luta pela vida, ainda que essa possa não vir a existir da forma como gostaria. Uma vida sem dignidade. sem liberdade. Uma vida de dependência. Uma vida à espera da morte.

O outro, luta pelo direito a uma morte digna. Pela satisfação de um antigo desejo formulado pelo pai. Pelo salvamento de outras pessoas que ainda possam ter esperança numa vida melhor.

Pode alguém conviver diariamente com uma pessoa e, ainda assim, perceber que, ao contrário do que pensava, não a conhece minimamente?

Pode alguém ausente, ainda assim, conhecer mais uma pessoa que não vê há anos, do que aqueles que lhe são mais próximos?

 

Uma mulher...

Uma nova família, um novo recomeço. Um novo marido. Dois novos filhos.

E, quando tudo parecia perfeito, o passado volta a bater à porta. Como dividir-se em duas? Em quatro? Em cinco? Ou, até mesmo, em seis, sem deixar de ser ela própria? 

Como agradar a uns, sem desagradar a outros?

 

E os lobos...

Esses seres tão peculiares, que nos são dados a conhecer mais profundamente nesta história.

A forma como se organizam dentro da alcateia. Como protegem a sua família.

Como se guiam pelo instinto de sobrevivência, pelo sentido de responsabilidade, pelo dever.

A forma como ensinam as suas lições, como marcam as suas posições.

Como comunicam. Como sentem. Como reagem entre si, e como interagem com os humanos.

 

 

Adorei o livro, e estas foram algumas das frases que destaco desta leitura:

“Não importa o que fazes por alguém, não importa se lhe dás o biberão em bebé, ou se te enroscas com ele à noite para o manter quente, ou se lhe dás comida para que não tenha fome… Dá um passo errado na altura errada e tornas-te irreconhecível.”

 

“Podemos tirar o homem da natureza selvagem, mas não podemos tirar a natureza selvagem do homem.”

 

“Após dois anos a viver com os lobos, tinha-me esquecido da quantidade de mentiras que é precisa para construir um relacionamento. Há uma honestidade no mundo dos lobos que é libertadora. Mas aqui, entre os humanos, havia tantas meias-verdades e mentiras inofensivas que era demasiado difícil lembrar o que era real e o que não era.”

 

 

 

 

 

 

A Hora do Lobo

 

O grande segredo que esconde a Natureza é o equilíbrio – a base da vida, e de tudo o que nos rodeia. Quando ele se perde, quando ele se quebra, quando ele destabiliza, tudo à nossa volta muda, nada será igual, e teremos que lidar com as consequências.  

 

 

 

 

Ali, os lobos, predadores, alimentavam-se das gazelas, suas presas. Esperavam o momento mais adequado, com calma, e atacavam, não lhes dando hipótese de fuga.

Dizia Chen Zhen, um jovem professor enviado para as estepes mongóis, tal como a maioria dos humanos - “os lobos são maus”.

Respondeu-lhe o Bilig, o líder da estepe “Não são os lobos que são maus, são as gazelas que o são. Porque comem toda a vegetação, não deixando alimento para as restantes espécies, e gastando os solos”.

Logo em seguida, ao ver uma gazela ainda viva, no meio de um cemitério de gazelas para ali atraídas pelos lobos (também chamado de frigorífico dos lobos), Bilig ordena que a deixem partir livremente.

E Chen Zhen, perante a afirmação anterior, volta a questionar: “se as gazelas são más, porque deixou esta partir?”.

“Porque os lobos caçaram demasiadas. Se ficarmos com tudo e não controlarmos as gazelas que sobram, depressa os lobos ficarão com fome, e virar-se-ão para as nossas ovelhas”, respondeu Bilig!

Lá está, embora nos pareça cruel a caça dos lobos às gazelas, faz tudo parte do equilíbrio que tem que ser mantido na Natureza.

 

 

 

Também deveríamos saber que, por mais que queiramos, não se deve contrariar a natureza. Por mais que tentemos, ela acabará sempre por fazer-se valer.

Isto vale, igualmente, para os animais que, muitas vezes, por curiosidade ou porque queremos fazer a diferença, teimamos em domesticar. Só estaremos a ir contra a ordem natural das coisas. E a destruir a alma, o orgulho e a dignidade desse animal.

O lobo é um predador por natureza, precisa de correr, de caçar, de lutar, de sobreviver, de ganhar uma luta. Se tudo lhe for dado de bandeja, se tudo for feito para o proteger, ele nunca será um verdadeiro lobo. Mas também nunca será um cão…

Chen Zhen, levado pelo fascínio pelos lobos, e contra todos, decide criar um lobo bebé como se fosse um cachorrinho. Mas este lobo, embora não tenha os instintos totalmente desenvolvidos, como se tivesse crescido livre, guarda-os consigo, e vai mostrá-los quando a oportunidade surge.

 

 

 

Outra das lições a tirar deste filme é que a natureza é como um boomerang. Cada vez que o lançarmos, podemos ter a certeza de que ele um dia irá voltar para as nossas mãos. O que trouxer, dependerá daquilo que pretendemos fazer quando o lançámos. Mas é bom que saibamos que, para cada acção que intentarmos contra a Natureza e o seu equilíbrio, seremos nós quem irá pagar por ela.

 

Por último, posso dizer-vos que este filme me fez sentir muitas emoções ao mesmo tempo, muito por culpa dos incríveis lobos.

Há gente que mata por matar, por prazer, por obrigação, por necessidade, por veneração…e o filme tem cenas mesmo muito chocantes e violentas. À excepção de Chen Zhen, Bilig e mais uma ou outra personagem, pode-se dizer que os animais são seres muito mais dignos que os humanos que aqui mostram. E continuamos a ter muito para aprender com eles!  

 

 

Sobre o filme:

Ano de 1967. A China é governada por Mao Tsé-tung (1893-1976), que implementou a Revolução Cultural e mudou radicalmente a vida do seu povo. Chen Zhen é um jovem estudante de Pequim que é enviado para uma zona rural da Mongólia para educar uma tribo de pastores nómadas. Ali vai descobrir uma ligação antiga entre os pastores, o seu gado e os lobos selvagens que vagueiam pelas estepes. Para os mongóis, o lobo é uma criatura quase mítica que é parte integrante da sua comunidade e os liga à natureza. Fascinado pela profunda ligação entre as alcateias e os seres humanos que ali habitam, o rapaz decide salvar uma cria e domesticá-la. Porém, quando o Governo cria uma nova lei que obriga a população a usar de todos os meios para eliminar os lobos da região, o equilíbrio entre a tribo e a terra onde vivem é ameaçado…
 
Com assinatura do realizador francês Jean-Jacques Annaud ("O Nome da Rosa", "Sete Anos no Tibete", "O Urso", "Dois Irmãos"), um drama de aventura que se baseia no "best-seller" semiautobiográfico com o mesmo nome escrito, em 2004, por Jiang Rong (pseudónimo de Lü Jiamin). Para o filme, Annaud, que já antes trabalhara com animais, adquiriu uma dúzia de crias de lobo amestradas durante vários anos por um treinador canadiano.