Todos temos um pouco de loucos dentro de nós. Alguns, têm mais do que seria de esperar.
Existem pessoas, aparentemente lúcidas, que são completamente loucos. E loucos que ainda conservam a sua lucidez, muitas vezes maior que os supostas pessoas lúcidas.
Nem tudo é o que parece neste filme, e esse é o grande trunfo - o factor surpresa.
Sobre o tema em si, já não me era estranho, por conta de alguns livros que já li, que retratavam a vida nos manicómios, no passado, e a forma como os supostos loucos, ali internados, eram tratados.
Naquela época, qualquer pessoa que fosse um pouco diferente, ou que tivesse determinadas atitudes mais condenáveis aos olhos da sociedade, era considerada louca, e enviada para hospícios.
Hoje em dia, nunca ali estariam. Naquele tempo, juntavam-se pessoas realmente doentes e loucas, com outras cujo problema nada tinha a ver com loucura.
Alguns médicos até poderiam fazê-lo por mera crença de que aquele "tratamento", de facto, seria o mais adequado, mas também havia nesses manicómios muitos médicos abusadores e repulsivos, que retiravam prazer da tortura que inflingiam aos doentes, que se valiam da posição para agir a seu bel prazer, sem que ninguém ousasse denunciá-los, muitos profissionais que tratavam aquelas pessoas como coisas, que não mereciam nada mais que aquilo que lhes davam que, parece-me a mim, era mais o que tiravam: a dignidade.
Violações, privação de comida ou má qualidade da mesma, choques eléctricos, banhos de água gelada, brutalidade nas tarefas mais simples, o tratamento como animais ou mesmo monstros, muitas vezes acorrentados ou enfiados nas solitárias.
Como é óbvio, quanto mais os tratam assim, mais revoltados ficam, e têm tendência a se defender ou agredir quem lhes faz mal mostrando, a quem está de fora, que são, realmente, "animais perigosos" ou, pelo contrário, a resignar-se e permitir os abusos, dando a entender que os tratamentos resultam.
"Tratem-me como um monstro, e monstro serei. Tratem-me com humanidade, e verão o humano que vive dentro de mim."
Quando o filme começa, conhecemos Eliza Graves, uma paciente do manicómio Stonehearst, que se percebe que tem sido vítima de abusos mas, ainda assim, está longe de ser louca, pedindo ajuda a todos aqueles estudantes que um dia virão a ser psiquiatras, que a salvem. O psiquiatra, que está a dar a palestra e a exemplificar com base nestes doentes, faz o seu papel, e todos tomam notas, partindo do princípio que a mulher é louca, e os métodos são válidos e eficazes.
Entretanto, uns tempos mais tarde, o Dr. Edward Newgate, recém formado, chega ao Hospício Stonehearst para uma espécie de curso de especialização pós graduação, sendo recebido pelo superintendente Dr. Silas Lamb.
Edward fica um pouco estupefacto com a forma como o hospício é gerido, e os doentes tratados, incluídos nas tarefas diárias, nas refeições, juntamente com os médicos e funcionários, e tratados como humanos que são.
Até que se apercebe que quem está ao comando do hospício são os loucos, e que os verdadeiros profissionais estão aprisionados.
Edward tudo fará para reverter a situação, até perceber que não há motivos para ajudar quem nunca soube ajudar. No entanto, também não está disposto a colaborar e pactuar com as acções que vai vendo por parte de Lamb, cuja situação lhes está a fugir ao controlo.
Apaixonado por Eliza, que desde o início quer levar consigo dali para fora, vai acabar por ajudá-la, e a todos os que precisam, naquele hospício.
O final, esse terão mesmo que ver, para ficarem, ou não, tão surpreendidos como eu!