"Desapaixonar"
Será que nos "desapaixonamos" com a mesma facilidade e rapidez com que nos apaixonamos?
Para mim, a paixão funciona como uma ignição, um acelerador, um impulsionador, que nos faz sentir vivos, agir, experimentar, ter prazer naquilo que fazemos, ou naquilo que estamos a viver, e senti-lo de uma forma intensa, que mexe com todos os nossos sentidos, de uma forma boa.
Dizem, os entendidos na matéria, que seria impossível as pessoas viverem em permanente estado de paixão, porque não fomos programados para viver em clima de constante expectativa e excitação.
É por isso que a paixão, ao fim de uns tempos, passa e, ou é o fim de tudo, ou dá lugar a outra etapa do processo.
Isto aplica-se ao que (quem) quer que seja que nos tenha feito, em algum momento, apaixonar.
Ou seja, depois de ser ligado, posto a funcionar, e experienciado de forma mais extravagante, o ritmo inicial abranda, e passamos a uma espécie de marcha regular. Da mesma forma que baixamos o fogão para cozinhar em lume brando, lentamente.
Não é que seja mau.
Quando fazemos e vivemos tudo demasiado depressa, com demasiado entusiasmo, quase num estado de delírio, experimentamos diversas sensações, mas acabamos por menosprezar outras.
Ao acalmarmos, conseguimos vislumbrar outros aspectos também importantes, temos outro tipo de vivência que pode ser, também ela, feliz, plena e prazerosa.
Ainda assim, sinto que, por vezes, era bom voltar a pisar o acelerador, voltar a sentir as emoções de outros tempos, ou novas, de uma forma mais apaixonada.
Afinal, o que nos move é a paixão. Seja em que campo for, e pelo que for.
A vida é feita de paixões.
Umas, maiores. Outras, nem tanto.
Umas mais importantes que outras.
Umas, mais prolongadas. Outras, mais efémeras.
Então, o que esperar de uma vida que não tenha, de vez em quando, uma paixão?
O que nos resta, quando nos desapaixonamos, e não houver nada que nos volte a apaixonar?