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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Somos, de uma forma geral, um povo brando e passivo

Só há um poder: o emanado do povo

 

Aquilo que temos de sobra, em valentia, coragem, revolta e crítica sobre o que está mal no país e no mundo, esgota-se em meia dúzia de linhas, em comentários nas redes sociais, em meia dúzia de palavras, numa qualquer conversa de café ou de circunstância, num desabafo que nos é permitido, mas que só serve mesmo para nos aliviar o stress momentâneo.

 

No fundo, acabamos por acatar, contrariados, tudo o que os outros decidem por nós, e nos impõem.

Acabamos por agir como cordeirinhos. Alguns, desviam-se do caminho só para provocar, mas logo voltam. Os poucos que realmente querem deixar o rebanho são isso mesmo, muito poucos.

E acabam por ser arrastados de volta, ou por ser ostracizados pelos demais.

São os poucos que lutam por todos, mas de quem todos se desmarcam, na hora de os apoiar.

 

Quantas dessas pessoas transpõem essa linha, para transformar aquilo que estão a sentir, e aquilo que querem ver mudar, em manifestações que produzam algum efeito real?

Se virmos bem, aquilo que hoje temos, que alguns conseguiram para todos nós, temo-lo, porque se fizeram revoluções, porque meia dúzia de pessoas ousou sair para as ruas, manifestar-se, expressar aquilo que queria, e lutar pela mudança.

Não foi, ficando sentados no sofá, enquanto bebem uma cervejinha na esplanada, ou a criticar tudo e todos nas redes sociais.

Aí, são todos valentes.

Já no terreno, muitos enfiam o rabinho entre as pernas, e saem de mansinho, para que ninguém dê por eles. Afinal, não querem problemas para o seu lado.

 

Pois, é verdade.

As revoluções acarretam consequências, para quem se envolve nelas e as leva a cabo, mas é também por elas que somos o que somos, temos o que temos, e conhecemos o mundo que hoje conhecemos.

Não terá valido a pena?

 

 

 

 

A propósito do E Se Fosse Consigo desta semana

 

E conforme comentei aqui, digo-vos que frases como as que a actriz em causa proferiu durante a encenação, e que outras pessoas naquela paragem também apoiaram ou acrescentaram não se destinam, exclusivamente, a casais do mesmo sexo!

Que o dígamos eu e o meu marido, que já tivemos o (des)prazer de passar por situações parecidas.

A diferença é que, enquanto casal heterosexual aceite por unanimidade e sem qualquer receio, acabámos por nos rir da situação, o mesmo não acontece relativamente aos casais homossexuais, que têm que enfrentar um mundo que teima em apontar armas contra eles, sem grande apoio da sociedade em geral e, muitas vezes, da família e amigos, em particular.

 

 

 

A primeira situação ocorreu, precisamente, numa paragem de autocarro!

Estávamos eu e o meu marido à espera do autocarro e, à falta de melhor coisa para fazer, íamos conversando, agarrados um ao outro, e dando uns beijos. Uma senhora que lá estava ficou escandalizada e começou a comentar com as outras oseu desagrado. Mas nunca, em nenhum momento, nos interpelou. E nós, ouvimos e nem ligámos.

A segunda situação foi no metro, estava eu, o meu marido e a minha filha. Eu e aminha filha num banco, e o meu marido e outra senhora em frente a nós. De vez em quando, beijavamo-nos e a senhora começou a "falar alto consigo própria" que não havia respeito, que tínhamos ali uma criança, e coisas do género.

Quando ela saiu, rimo-nos! Porque não estávamos a fazer nada de mal. Afinal, éramos um casal.

 

 

 

Concordo que existem casais que abusam na demonstração e manifestação dos seus desejos e sentimentos, e que isso seja incómodo para quem está ao pé deles e é "obrigado" a assistir. Existem casais que têm necessidade de se exibir para os outros, de mostrarem ou provarem alguma coisa a alguém. Sejam eles homo ou heterossexais.

Não me revejo nesse tipo de casais até porque, embora o meu marido seja mais expansivo em público, eu gosto de ser mais discreta,e considero que não temos que mostrar ou provar a ninguém aquilo que sentimos, e que só a nós dois diz respeito.

No entanto, as pessoas tendem a cair em extremos, e criticar meros abraços ou beijos como se estivessemos a expôr às mesmas toda a nossa intimidade. Pessoas essas que, por vezes, até fazem ou já fizeram bem pior, e vêm agora mostrar-se muito puritanas.

 

 

 

Cada um é como é e ninguém tem nada a ver com isso. Se se sentem incomodadas, afastem-se. Se não aceitam, pelos menos não critiquem. Se não conseguem ficar caladas ou indiferentes, dirijam-se às pessoas com respeito. Se não conseguem compreender, conversem, e não julguem. 

E, se não têm nada de útil para dizer, mantenham-se caladas que é o melhor que fazem, e deixem os outros viver a sua vida!

A lei do silêncio

 

De há uns tempos para cá, são vários os casos, que se têm sucedido, de violações na Índia. Em comum, têm o facto de terem conseguido gerar uma onda de indignação e revolta. Já para os familiares das vítimas, há uma certeza - as condenações por tais crimes tarde ou nunca virão.

Muito comuns no país em questão, esse crimes são muitas vezes abafados para proteger a honra da família ou por medo de represálias. A questãoé que a cultura indiana culpa a vítima nas questões relacionadas com crimes sexuais. O governo e os agentes policiais alegam que a maioria dos violadores não pode ser processada na Índia, porque, são conhecidos das mulheres atacadas, que muitas vezes, na sua opinião, estão "a pedi-las" devido ao facto de circularem na rua a qualquer hora. Ou seja, as próprias mulheres, são acusados pela violência sexual praticada pelos homens contra elas, enquanto os violadores não são responsabilizados.

Por tudo isto, as mulheres que vão à polícia são aconselhadas a não apresentarem queixa.

Por outro lado, o sistema indiano de combate ao abuso sexual é inadequado. Não há garantia de protecção para as crianças e as pessoas acabam por perder a pouca fé que lhes resta. Muito dificilmente, um menor abusado sexualmente (ou parente da vítima) denuncia o caso ou pede ajuda. Mas, quando isso acontece, as autoridades indianas, em vez de tratarem esses casos com sensibilidade, costumam frequentemente humilhar e voltar a traumatizar às vítimas, que são desprezadas ou ignoradas pela polícia, por médicos ou por outras autoridades.

Não é pois, de admirar, que para muitos indianos a sua paciência e passividade tenha acabado. Nem são de estranhar os protestos e as manifestações cada vez mais violentas para exigir que o governo garanta a segurança das mulheres e crianças, e pare de tratar os violadores com impunidade.

Já está mais que na hora de quebrar o silêncio!

Sismo

 

Não consigo deixar de fazer esta comparação, porque a situação é em tudo semelhante.

Um sismo, de grande magnitude, atinge uma determinada localidade, sem aviso, provocando diversos estragos. Depois, não são raras as vezes que se sucedem réplicas, ainda que com menor intensidade, mas que nos voltam a deixar em alerta quando começávamos a respirar de alívio.

É assim que eu vejo a doença da minha filha. Já sei que demora até 6 semanas, já sei que é normal ainda haver manifestações.

Mas quando começo a ver as manchas desaparecer, penso sempre "talvez seja desta vez que passa"! Não precisa de durar exactamente as 6 semanas!

E, depois, quando tudo parece bem encaminhado, surge uma réplica! Volta a melhorar, torno a ter o mesmo pensamento, e lá está mais uma vez ela a marcar presença!