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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Do Outro Lado, de Maria Oliveira

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Quem está do outro lado? O que está do outro lado? O que nos espera, do outro lado?

Quem trabalha, sobretudo em contacto directo com outras pessoas, sabe que, na teoria, uma das regras fundamentais é separar a vida pessoal, da vida profissional. Na prática, nem sempre é possível.

 

É verdade que, independemente dos problemas que nos afectem a nível pessoal, não podemos deixar que os mesmos interfiram no nosso trabalho, e prejudiquem a forma como nos relacionamos com aqueles que nos procuram a nível profissional.

Mas, acima de tudo, somos humanos. Há situações que não conseguimos, de todo, camuflar, esconder, empurrar para debaixo do tapete até nos ser permitido tirá-las de lá. Por outro lado, é difícil não nos envolvermos nas situações profissionais que encontramos pela frente, agindo unica e exclusivamente como profissionais, desligando-nos delas no fim do turno.

 

Se é verdade que existe, do outro lado do profissional, um ser humano com as suas qualidades e defeitos, forças e fraquezas, momentos altos e baixos, também é verdade que, do outro lado do cliente/ paciente, existe alguém que precisa de ajuda, e cuja vida pode estar nas nossas mãos.

 

 

Não podemos, simplesmente, descarregar neles as nossas frustrações, nem tão pouco agir de forma mecanizada e estritamente profissional, quando, aquilo que dissermos, fizer a diferença entre a fé e a descrença, entre a desilusão e a esperança, entre a morte e a vida. E isso, quer queiramos, quer não, mexe connosco. É impossível ficarmos indiferentes.

 

Helena é uma médica psiquiatra que tenta ajudar os seus pacientes o melhor que pode mas sente, muitas vezes, que falhou, que poderia ter feito mais, agido de outra forma. Existem muitas vitórias, sim, e são de valorizar. Mas as derrotas...essas marcam-na mais, sobretudo naquele momento, em que se encontra emocionalmente fragilizada.

 

Porque, do outro lado da Helena, profissional, está uma mulher cujo marido e pai das suas duas filhas, desapareceu sem deixar rasto há cerca de dois anos, deixando-a sem saber o que pensar, sem saber o que aconteceu, e com muitos problemas para resolver.

 

Do outro lado, está uma Helena que se apoia no ex namorado de há muitos anos, que nunca deixou de amar, e que agora quer reconquistá-la, surpreendendo-a até com uma proposta de trabalho e negócios, que deixa as suas filhas como herdeiras de metade dos seus bens, o que a leva a crer que ele estará doente, ou até a morrer.

 

Do outro lado desta Helena, de marido desaparecido, e mãe galinha das suas duas filhas, está uma mulher que escondeu um segredo por 20 anos, e que lhe poderá custar tudo o que ainda lhe resta: o amor das filhas, e o amor de Luis.

 

É com tudo isto que Helena terá que lidar, do outro lado da sua vida. Com as descobertas em relação ao marido, com o revelar do seu segredo e as consequências que daí advêm, com a verdade, por mais terrível que ela seja.

E com quem está do outro lado da sua secretária, paciente ou familiar, que a procura em busca de uma solução, absolvição, consentimento, uma luz ao fundo do túnel, uma orientação, ou uma desculpa.

 

O que acontece quando uma médica psiquiatra acha que está a enlouquecer, no seu limite, e a precisar de ajuda médica ou baixa? Como pode ela salvar a vida de alguém, quando o seu próprio mundo está a ruir, e ela não sabe o que fazer com os seus próprios problemas? 

Com que moral poderá ela acusar o seu marido de ser uma fraude, e de ter enganado todos, ao longo dos anos que estiveram juntos, quando ela própria fez o mesmo, toda a sua vida?

 

Eu confesso, compreendo o lado da Helena, tal como compreendo o lado do Luís. Mas, como ela própria diz, o que está feito, está feito, é passado e ela não pode mudar. E ele, ou aceita, ou não, e deixa-a seguir o seu caminho. Porque estar com alguém que nos atira a cada instante, à cara, os erros que cometemos, não é vida, nem tão pouco amor. É rancor, é ressentimento, é não conseguir esquecer e seguir em frente, nem permitir que os outros o façam.

Fugir é sempre mais fácil do que enfrentar o que nos afecta mas, por vezes, é necessário. Muitas vezes, tomamos determinadas decisões achando que é o melhor para todos, mesmo que na realidade não seja. E por muito que não tenhamos como adivinhar o que, quem está do outro lado, pensa ou como irá reagir, a verdade é que o fazemos, e agimos muitas vezes com base em pensamentos que são apenas nossos, não dessas pessoas.

Resta-nos admitir os erros, pedir perdão, e esperar que um dia compreendam o nosso lado...

 

Um livro a não perder, de uma autora que já me conquistou com a sua escrita!

 

 

Sinopse

"Do outro lado da bata branca, do outro lado da secretária, do outro lado do clinico, está um ser humano como eu, como tu. Um ser humano para nos servir, que tem uma vida, uma história própria e que muitas vezes é mais sofrida e dolorosa do que a nossa. 

Batemos-lhe à porta, pedimos-lhe socorro.

Alguma vez pensamos, que ele também poderá estar a sofrer, e a ele quem o socorre?

“…

- Helena Vasconcelos de Andrade?

- Sim, e o senhor é quem? – Pergunto.

- Inspetor Pedro Pina, polícia judiciária. – Responde-me.

- Policia Judiciária?

…”

Com esta visita inesperada, Helena, vê a sua vida desmoronar.Médica psiquiátrica, mãe, mulher e amante apaixonada, perde o controlo da sua vida e a ética profissional.No dia em que um doente ameaça abandonar uma consulta a meio, atinge o seu limite e pede ao colega que a dispense, pedindo atestado. Descobrir que partilhou a cama, durante 20 anos com um desconhecido, não seria tão grave, secom a sua ausência, o passado, que queria deixar eternamente adormecido,não se fosse revelando a cada dia.

Afinal quem enganou quem? –

- Não penses assim. A vida às vezes é tão cruel que não conseguimos discernir qual a lição que está iminente.

- Perder um filho, não tem nenhum ensinamento, porque não há a possibilidade de emenda.

Uma história de amor, mistura perfeita entre ficção e realidade, diálogos reais transcritos letra por letra, e personagens também reais e algumas, infelizmente, já não estão connosco …"

 

Autor: Maria Oliveira

Data de publicação: Novembro de 2017

Número de páginas: 378

ISBN: 978-989-52-1060-2

Colecção: Viagens na Ficção

Género: Ficção

Idioma: Pt

 

 

 

À Conversa com Maria Oliveira

Maria Oliveira nasceu em 1969 na Trofa. Aos 18 anos prometeu a si própria que um dia escreveria um livro. Licenciou-se em Assessoria de Direção – Isai/Isag Porto e especializou-se em Recursos Humanos. Hoje diretora de várias empresas quis o destino dar-lhe uma semana de repouso absoluto e escreveu os primeiros 4 meses deste romance “UM ANO”.

Mãe, mulher e filha precisou de várias horas de voo para concluir o segundo livro – os restantes 8 meses.

Dois livros viciantes, uma história de amor com personagens reais, bem constituídas e adoráveis.

Agora, traz-nos o seu mais recente trabalho “Are You With Me”, ideal para levar na bolsa para uma ida à praia, ou numa viagem durante as férias!

Mas nos falar um pouco mais sobre si, e sobre as suas obras, tenho hoje comigo a autora Maria Oliveira, a quem desde já agradeço por ter aceitado o convite!

 

 

 

  

 

Maria, começo por lhe perguntar como surgiu o gosto pela escrita?

O gosto pela escrita é consequência do gosto pela leitura, muito jovem 12, 13 anos tive o privilégio de ter uma amiga com uma biblioteca fantástica, centenas de livros, e a possibilidade de devorar tudo. Aquela biblioteca era a minha janela para o mundo, um mundo fantástico, comecei pelas coleções de Enid Blyton (trazia aos 2 de cada vez e no dia seguinte já tinha lido tudo, a mãe dela incentivava-me e eu tinha sede de conhecimento, queria histórias novas, vivências diferentes) e rapidamente passei da literatura infantojuvenil para os clássicos, o Eça, o Júlio, Torga e outros também li Christiane F. e Charles Duchaussois, a minha fome era insaciável.

Há 30 anos atrás a sociedade portuguesa e a sociedade de consumo eram bem diferentes da dos nossos dias, e há 30 anos atrás eu já tinha lido mais de uma centena de livros.

Quando estudei Fernando Pessoa e os heterónimos, e com o despertar das primeiras paixonetas, escrevi umas tantas quadras e comecei com poesia, de muito mau gosto, recordo-me. Mas nasceu o bichinho, e nessa altura que dizia às amigas, “guardem as minhas mensagens (bilhetinhos trocados na sala de aula) que um dia serei escritora.” Brincava, sem dúvida.

 

Aos 18 anos prometeu a si própria que um dia escreveria um livro. Esse momento chegaria vários anos mais tarde. Foi uma opção sua, ou falta de tempo para se dedicar à escrita?

Foi… eu nunca pensei que um dia conseguiria editar um livro, por isso demorei muito tempo a tomar a decisão de escrevê-lo. Temos de admitir que enviar uma obra para apreciação, quando o setor livreiro era quase monopolizado e sem o fator C, era exatamente a mesma coisa que não enviar.

Se pensarmos que o Harry Potter foi rejeitado 16 vezes, penso que esclareço todas as dúvidas. Há uns 15 anos escrevi umas 10 ou 20 páginas de um romance que partilhei com alguém que me disse “tens jeito”, mas não levei a sério e sem mais nem porquê não lhe dei continuidade.

Porque tal como quando fiz a PGA, nunca pensei em entrar para a faculdade por razões económicas, também não apostei na escrita, por pensar ser uma miragem. Depois, a vida dá muitas voltas…

Como leitora compulsiva chegavam às minhas mãos, “coisas” intragáveis e eu ficava deveras surpreendida como é que isto é um livro (principalmente literatura traduzida), como é que alguém editou uma “coisa” destas?

Com o sucesso de vendas de E.L. James, acredito ter sido das primeiras leitoras portuguesas a ter acesso ao livro, porque li sobre ele antes de ser traduzido para português, consegui uma versão ebook muito foleira, já estava a terminar o primeiro livro, quando foi colocado à venda em Portugal. Depois surgiram uma série de escritoras a tentar algo “chocante” e então, uma amiga empresta-me um romance que me horrorizou, quer pela narrativa e pelo vocabulário quer pela história em si. Nem o terminei, quando devolvi disse:

Até eu fazia melhor, a história é nojenta, o vocabulário repugnante. Como é que é possível?

Nas férias de verão desse ano - 2014 -, dediquei-me à escrita e nasceu o meu primeiro romance – não editado - Perdoa-me. O envio para apreciação, um bloqueio na caixa de correio eletrónico e… ficou na gaveta.

 

 

 

 

O que a levou a escrever o primeiro livro “Um ANO”?

Um ano, primeiro volume, queria conhecer o mundo das Cartas de Tarot e comprei um baralho, idealizava escrever um romance baseado numa leitura de cartas, comecei a estudar o tema. Ao mesmo tempo a minha vida familiar e profissional dá uma volta gigante e muitas coisas mudam, com tanta correria, o corpo começa a sentir e os joelhos não aguentam. Um derrame, dois, três, sair de um avião direta ao hospital, recurso a canadianas quando estava mal, e abuso nos curtos espaços de tempo em que havia melhoras, com o tempo o gelo do Sr. Antonio (restaurante onde almoço com mais frequência) deixou de ser suficiente, 30 dias de fisioterapia, fui a 3 sessões, mais uma viagem de avião e um derrame tal que me oferecem cadeira de rodas no aeroporto sem eu pedir, mais uma aterragem no Francisco Sá Carneiro com saída direta para o H.P.T. O médico de serviço lê o histórico – eu já conhecia todos os ortopedistas que faziam urgência no hospital particular – e diz-me “ou para, ou para não há alternativa”. Dessa vez era o joelho esquerdo e a caixa automática ajudava a fazer os meus 30 kms para cada lado e continuar a trabalhar, e ainda insisti mais uma vez. A medicação deixou de ser suficiente, as ressonâncias repetiam-se, não havia causa clinica, mas também não havia melhoras significativas, no dia seguinte ainda insisti, fui até Barcelos, mas passei o dia deitada no sofá da sala de reuniões no final do dia o regresso foi doloroso, fiz os últimos 2 kms com as lágrimas a correrem pela face, tratamento de choque proibida de caminhar até ficar boa.

Quando cheguei do hospital completamente drogada, “betametasona” a circular no sangue, ouvia em eco, e sentia-me zonza. Estava em pânico, como é que eu podia ficar em casa. Eu tinha uma vida lá fora.

O efeito passou e comecei a escrever, para descontrair e passar o tempo que nem sabia quanto… Caderno na mão, sabia do que queria falar, queria falar de xenofobia, queria falar da Cristina, uma menina que sofrera na pele o racismo alemão, queria falar dos filhos dos emigrantes, queria homenagear quem tem coragem de sair do pais e começar de novo, sei que não consegui, mas nasceu a Michelle. Queria falar da prepotência dos magistrados, nasceu a Sara, queria falar de homens respeitadores – não existem - nasceram os 3 amigos Joca, Duarte e Amadeu, queria falar dos informáticos - seres que não sabem comunicar. Queria falar do lado bom do amor, do que não aparece nos livros do F. Salgueiro.

Um ano, é uma sequência de frases narrando acontecimentos, encontros, acasos e casos que nascem no decorrer do deslizar da caneta. Sabia o que queria escrever, não como, nem onde, nem com quem, surpresas sequenciais até para mim, encaixei perfeitamente os acontecimentos como se todo o trama tivesse sido delineado previamente. Não foi o que aconteceu.

 

 

 

 

O seu segundo livro “UM ANO II”, lançado em Maio deste ano, é a continuação da história do primeiro. Porque decidiu apostar novamente nestas personagens?

Porque todas as histórias deveriam ter um fim, e UM ANO, acabava sem acabar. Quando o primeiro livro foi lançado já estavam os outros dois escritos, UM ANO II e o ARE YOU WITH ME?, o lançamento só aconteceu meio ano depois porque as fases e os processos são menos céleres do que as decisões de os editar… Mesmo que o primeiro livro tivesse sido um fracasso o segundo já estava agendado, mas não foi, e os leitores quando terminam o primeiro romance pedem o segundo, e agora dizem, queremos saber se a Michelle está grávida e se de gémeos. Depois recebi comentários surreais:

“Estou apaixonada pelo Joca.”

“Ando aqui nestas ruas, e, imagino qual será a casa do Joca?”

“Não conheço a Michelle e já a admiro.”

“Tem de me dizer onde encontro tão bela jovem?”

Um dia ao entrar na cidade de Barcelos, na rotunda da estação tem uma estátua dos Alcaides de Faria – já passamos ali dúzias de vezes - o meu marido pergunta-me: “Quem são estes?”

“Os pais do Joca.” - respondo e instala-se a gargalhada.

Também tive quem me dissesse “Cobarde, aquela menina, como foi tão cobarde?” - Falava da Michelle, e depois contou-me que uma amiga na faculdade numa situação idêntica optara pelo aborto e a mazela ficara até hoje… e associou a Michelle à amiga e ficou indignada.

Todos os leitores pediam a continuação, talvez, não sei, devesse ter feito um só volume, com o romance completo, mas assustaria quem não lê, quer pelo preço de venda do livro quer pelo número de páginas. Assim, mais pequeno, simples, e, o continua… deixo tudo em aberto e recebo o feedback, porque quem termina e gosta pede a continuação.

As personagens mereciam o segundo livro e eventualmente um terceiro “Michelle dois anos depois”… uma possibilidade.

 

 

 

 

No mesmo mês, lança também a sua terceira obra “Are You With Me”, inspirado na música com o mesmo nome. Considera que foi uma boa aposta lançar dois livros tão diferentes no mesmo mês?

Aposta? Termo muito comercial… lancei três livros, como quem coloca três filhos no mundo. Lançar um livro escrito com amor e carinho é semelhante a um parto, toda a mãe quer dar à luz desde o momento que sabe que está gravida, e eu como autora não conseguia ter os livros prontos e não os lançar. Os atrasos nas edições é que aproximaram os lançamentos. Apesar de me terem sugerido que deixasse o terceiro para Setembro ou até para o próximo ano, não conseguiria. Estava pronto, era doloroso vê-lo dentro de uma caixa.

Um livro só tem valor, só é livro, quando lido, quando folheado, quando devorado.

 

Que feedback tem recebido relativamente às suas obras?

Excelente, a quantidade de mensagens privadas a felicitar-me é enorme, pessoas que leem na noite dos lançamentos sem parar e até terminarem, outras que me dizem perdi a noite por tua causa. Outras que dizem não terminem porque estou a gostar tanto que até deixo para o dia seguinte, se não acaba logo. Outras que perguntam e não há mais? Já li os três. Depois também vem o assédio, há sempre quem misture tudo, há sempre quem quer conhecer a autora, há sempre o chico esperto que delira

com as paginas mais sensuais e tenta passar o bom senso. Depois os comentários menos simpáticos de quem nada faz, “Eu é que devia escrever um livro.” E os que me dizem: “É a história da tua vida!” – Força, penso eu, escrevam e não, não é, nunca a escreveria…

 

Considera que o livro “Are You With Me” é um bom livro para acompanhar os leitores, que gostam do género, neste verão e nestas férias?

Excluindo, quem só lê poesia ou históricos, o meu Are you with me ? é para todos, e fico feliz por a Marta ter compreendido a minha mensagem, sinal de que fui capaz de a passar para o papel. Não era essa mensagem que idealizei, se é que idealizei alguma. Este livro, nasce com uma vida de loucos, sei que há bem pior, mas de repente vejo-me com deslocações, umas atrás das outras, já nem tirava a mala do quarto, quando aterrava já sabia quando iria estar ali novamente, tinha semanas em ir todos os dias ao aeroporto, cheguei a aterrar com diferença de minutos do meu marido e vinha-mos de destinos diferentes, já gozávamos com o mudar-me para mais perto do aeroporto. Comecei a ouvir o Are you with me? E interpretar a letra, cantava ao som da faixa, mas percebia que aquilo não dizia nada, quando ouvia a caminho do escritório pensava vou ver o vídeo clip e perceber se é só isto, ou exatamente isto, mas entrava no escritório e esqueci-me completamente. Voltava a ouvir e questionava-me: Será o meu inglês assim tão mau? Quando vi o vídeo clip, acho que chorei. Era mesmo aquilo, o astronauta até pode ir à lua! Mas ele só quer umas férias no México, uma coisa simples, possível, real! Para quê? Porquê? Tantas viagens! Nada importa, nada é mais importante do que estarmos com quem amamos. Vi ali a minha vida… e a necessidade refletir, de parar.

 

A Maria é licenciada em Assessoria de Direção, e especializada em Recursos Humanos, sendo atualmente diretora de várias empresas É difícil conciliar o papel de mulher, mãe e escritora?

Sim, e não. Não escrevo no trabalho, não leio no trabalho – enquanto horário fixo no escritório. Fora dele, deslocações, voos, estadias, vale tudo, até já optei pelo comboio numa deslocação a Lisboa para alongar a viagem e ser mais produtiva. Um ano II, uma boa parte foi escrita em Paris, hotel, stand de uma feira, viagem. Terminei-o no aeroporto de Geneve.

O trabalho, hoje, nada tem a ver com de há cinco anos atrás, há cinco anos não tinha sequer tempo para pensar em escrever, quanto mais fazê-lo. Hoje, consigo deixar o trabalho “dentro do escritório” e preciso mesmo de encontrar um escape, algo que me ocupe a mente e me dê algum alento e perco-me na escrita. A minha filha mais nova, há uns tempos disse-me que se eu não lhe desse atenção ia ao facebook e tornava publico que eu passava o tempo de portatil na mão… Mas era exagero da sua parte. Como gerente e diretora, não é fácil, os sócios das empresas que represento e sou gerente não são portugueses sequer, e a celeridade com que se tomam decisões, ou a falta delas, provocam um stress tal, que às vezes destabilizam-me de tal forma, que não há inspiração ou criatividade que resista.

Como mãe, não muda nada, as minhas filhas são a prioridade em tudo. Gerir os meus eventos com a agenda das minhas filhas, às vezes, faz dos nossos fins de semanas uma correria desenfreada, vamos aguentando.

Como escritora não é fácil, nem tão pouco o que para mim, era expectável, criei uma autora, dei-lhe uma identidade, mas queria o anonimato. Queria ficar sossegada no meu canto e ver os meus romances expostos nas livrarias e fazer de conta… mas saiu tudo ao contrário, tive de dar a cara, sem um rosto não se vende, não se apresenta uma obra. Não queria misturar a minha vida, profissional ou pessoal, com a da autora, não imagino os “meus” colaboradores a lerem os meus livros e a fantasiar, nem tão pouco queria expor-me enquanto mãe e mulher.

Papeis distintos que implicam uma gestão cuidadosa.

 

Enquanto escritora, prefere escrever sobre histórias que podem ser reais no nosso dia-a-dia, ou fantasiar um pouco mais?

Reais, claro. Talvez para muitos sejam puramente fantasias hipotéticas, desenganem-se, o meu Perdoa-me, - não editado - talvez o mais surreal de todos até ao momento e partilhado com quatro pessoas apenas, repito só com quatro leitoras, uma delas disse-me: “Como é que escreveu um livro sobre a minha vida, sem me conhecer?”

A Michelle de Um Ano, poderá ser uma personagem difícil de encontrar, mas o enredo a paixão por um homem mais velho, os ciúmes e possessividade da ex. mulher, a cumplicidade entre os amigos, a afirmação “eu já sou grande, adulta, tenho 18 anos”, que muda numa fração de segundos para “eu só tenho 18 anos”, é comum a todos os mortais.

Gosto dar vida às minhas personagens, a minha Michelle, o meu Joca, a minha Raquel, o meu comandante, o meu militar… é assim que falo deles… como se existissem mesmo. Por isso tenho de lhes dar uma vivência possível, uma história provável.

 

Vamos poder contar com novidades literárias por parte da Maria ainda este ano?

Este ano não, porque não há tempo para apresentar, tratar e editar. Mas sim, tenho dois livros, um concluído e enviado para o concurso da LEYA, e outro a meio. O do concurso será sim para editar, com ou sem Leya, acredito que está bem conseguido, uma história mais improvável, ou não.

No Are you with me?, descrevi um atentado em Paris, no do concurso da Leya, o marido da protagonista com um falso perfil, seria surreal no nosso país, até há dois meses atrás, e de repente vejo nas noticias uma noticia e penso “Ando, eu, a prever o quê?”… não posso sequer deixar pistas, porque poderia identificar a minha obra, não que acredite no prémio final – comparando com o vencedor do ano anterior, o meu estilo difere a anos luz – mas tenho esperança que alguém lhe dê algum valor.

O que está a meio, fala sobre a solidão de viver numa cidade grande, e pretendo imortalizar o nome de alguém que já partiu deste mundo, a minha cunhada Luísa. Hoje conheci uma bebé de 18 meses com este nome, e há dois dias uma menina de 3 anos. Mas não é um nome que se atribua atualmente. Tenho algumas ideias na mente mas o resultado final será uma surpresa, até para mim.

 

Muito obrigada!

 

 

 

*Esta conversa teve o apoio da Chiado Editora.

 

 

Are You With Me?

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Olhei para o título deste livro, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi a música dos Lost Frequencies!

E, de facto, a sinopse faz referência a este remix. Mas só quando comecei a ler percebi o quanto ele significava para as personagens, especialmente, para a Raquel e o Eduardo.

 

 

A história começa com quatro casais que regressam de umas férias em Madrid: Joana e Miguel, Pedro e Inês, Francisco e Anita, e Raquel e Eduardo.

Raquel é directora de marketing numa cerâmica e Eduardo um legionário licenciado em Tecnologia de Informação, que passou a exercer mais tarde funções nos serviços Secretos em Paris. Juntos há 3 anos e com encontros programados mensalmente, aos fins de semana, umas vezes no Porto, outras em Paris, sentiam-se bem com a vida que tinham, e estavam até a pensar ter um filho, que iriam conceber nas próximas férias, marcadas para o México, no ano seguinte.

Era este o desejo deles quando, com quase um ano de antecedência, marcaram férias neste país:

 

"I wanna dance by water 'neath the Mexican sky

Drink some Margaritas by a string of blue lights

Listen to the Mariachi play at midnight

Are you with me, are you with me?"

 

O que Raquel não esperava era que o Comandante Guilherme viesse pôr em causa a sua relação com Eduardo, e virar a sua vida do avesso. Ao contrário de Eduardo que, com uma capacidade fenomenal para ler pensamentos, prever o futuro e adivinhar o que ia na cabeça de Raquel, e um sexto sentido apuradíssimo, a advertiu vezes sem conta para o perigo que corria.

Desde que a sua namorada tinha metido conversa com Guilherme no aeroporto, na viagem de regresso a Portugal, que Eduardo lhe dizia constantemente "Confio em Ti", como se soubesse que Raquel estava prestes a traí-lo.

E foi mesmo o que acabou por acontecer. Raquel deitou ao lixo 3 anos de uma relação, para viver uma nova vida com Guilherme.

 

 

Tudo parecia estar a correr lindamente mas, na verdade, só nos damos conta daquilo que perdemos, e do valor daqueles que perdemos e do que tínhamos, quando os perdemos.

Nessa altura, pode ser tarde demais para voltar atrás, para querer de volta aquilo em que não acreditámos, para recuperar aqueles que amamos.

Terminada a relação com Guilherme, Raquel volta a encontrar-se com Eduardo na tão desejada viagem ao México, onde terão que partilhar o mesmo quarto, e conviver com os outros casais apaixonados, e seus amigos e companheiros de aventuras.

Não será fácil para nenhum dos dois. Raquel quer que Eduardo a perdoe, e que voltem a estar juntos. Mas será ele capaz de esquecer o que Raquel fez? Poderá ele confiar novamente numa mulher que passou numa questão de dias, de uma simples conversa para a cama de outro homem? 

Será que os desejos de Eduardo, presentes na versão original da música, de Easton Corbin, se irão concretizar:

 

"I wanna fly so high that I'll never come down

I wanna love so hard, it could rip my heart out

I wanna get so lost that I'll never be found

Are you with me? Are you with me?"

 

Desta vez, estás mesmo com o Eduardo, Raquel?

 

É isso que vão ter que descobrir quando lerem este livro que me parece ideal para acompanhar os leitores neste verão, e nestas férias!

 

 

Desta obra destaco a capa, simples mas apelativa, e a escolha do título - dois ingredientes que, por si só, já fazem com que os leitores se interessem por ele.

E, depois, não posso deixar de destacar a forma como a autora abordou a traição da Raquel, as suas dúvidas em relação ao que sentia pelos dois homens, os perigos das relações à distância.

É certo que quando se ama, não se trai, e não é por o(a) nosso(a) companheiro(a) se ausentar umas semanas que os sentimentos deixam de existir. Não existe justificação para a traição, mas a verdade é que ninguém está livre de situações que os ponham à prova, e nunca se pode dizer que "desta água não beberei".

Mais do que julgar atitudes erradas, é importante perceber o que levou a que elas acontecessem. E, se ainda houver alguma hipótese de recomeçar, melhor!