Seguir em frente

É das coisas que mais nos dizem: que devemos seguir em frente.
A verdade é que a vida segue. E nós seguimos.
O que assusta, é a facilidade e a naturalidade com que, por vezes, o fazemos.
Sim, é o que é suposto. E sim, é o que quereriam que fizéssemos.
Seguir em frente e continuar a viver, já que ainda temos esse privilégio, é um sinal de que estamos bem.
Que não ficámos parados no tempo, nas situações e nas circunstâncias.
É sinal que ultrapassámos a dor e a tristeza, e aceitámos os acontecimentos.
Como li algures: "a fase do luto termina quando a dor e a tristeza dão lugar às boas memórias".
Vai fazer quatro anos que a minha mãe morreu.
Fez cinco meses que o meu pai se foi.
E, no dia a dia, quase nem me lembro disso.
Parece que já foi há muito mais tempo.
Como é que nos acostumamos tão facilmente à ausência das pessoas que faziam, diariamente, parte da nossa vida?
Mas, depois, ouvi esta frase e fez todo o sentido:
"A dor nunca te atinge de frente. É circular. Atinge-nos quando menos esperamos."
E é isso!
Do nada, sem que estejamos à espera, as mais pequenas coisas despoletam memórias. Despertam sentimentos.
Recordam-nos que não é uma questão de nos termos habituado à ausência, como se há muito não fizessem parte da nossa vida.
Não é uma questão de as estarmos a esquecer.
É apenas algo natural. É a nossa mente a dizer-nos que não podemos estar em estado permanente de dor e tristeza e, por isso, nos faz seguir em frente, distraindo-nos todos os dias.
É a dor a andar ali em círculos, à nossa volta, sem nos darmos conta.
E, depois, sem nos apercebermos, ela atinge-nos.
Só para nos mostrar que não se foi de vez.
Mas que não pode estar ali permanentemente.
Porque também temos coisas boas para viver.
E não devemos sentir qualquer culpa por isso.


