Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Será, a vida, uma linda mentira?

Nenhuma descrição de foto disponível. 

 

Isto lembra-me uma outra questão, que ontem vi numa série, em que um dos protagonistas constatava, em conversa com outro, que era engraçado como dele, que era uma pessoa emotiva, ninguém gostava e como, ao outro, que era uma pessoa fria, todos adoravam.

Se calhar, talvez não seja tudo tão assim, "preto no branco".

 

É certo que, aquilo que temos de mais garantido na vida, uma pura verdade que, por mais que ignoremos, nos está destinada, é a morte.

A morte é vista, para grande parte de nós, como um fim.

O término da nossa passagem por este mundo.

A despedida.

A dor.

A saudade.

É uma coisa má, a que ninguém pode escapar, ou fugir.

Por isso é considerada uma verdade dolorosa, e quase ninguém gosta dela.

Até pode ser muito mais, ou melhor, do que aquilo que "pintamos". Pode não ser nada daquilo em que acreditamos.

Mas é a ideia que temos dela. E, dificilmente, a mesma mudará.

 

Agora, será a vida uma linda mentira?

Sim. E não.

Sim, no sentido em que, se a morte é a verdade, a vida será o oposto.

Uma farsa que nos é permitida experimentar, enquanto cá estamos.

Um engano. 

Um logro.

 

No entanto, considerando a vida como uma mentira, nem sempre será uma "linda mentira".

Para muitas pessoas, a vida é tão ou mais dolorosa, que a morte.

Para muitas pessoas, a vida é uma "mentira" difícil de viver, cheia de obstáculos, provações, sofrimento. 

De linda, para elas, pouco ou nada terá.

 

Ainda assim a vida, para mim, não é uma mentira.

É, quanto muito, uma parte da verdade que é o nosso percurso.

A parte que, apesar de tudo, nos dá esperança.

Nos faz acreditar.

Que nos permite decidir.

Mudar.

Escolher.

Viver.

 

Nem todos os que vivem amam a vida.

Nem sempre é fácil amar a vida.

Nem sempre as pessoas sabem como fazê-lo.

 

Muitos, apenas a consideram um dado adquirido.

Um direito.

Algo tão certo que nem se dá o devido valor.

Apenas vão passando por ela. Ou é ela que vai passando.

Ainda assim, preferem-na, à morte.

 

Porque é difícil gostar de, ou aceitar, algo que se desconhece.

 

 

"Terra", de Eloy Moreno

450.jpg 

 

O que dizer deste livro?

Ainda estou sem palavras após acabar de lê-lo.

E não é porque não haja muito para dizer sobre ele.

É porque a história tanto nos envolve e nos atrai, como começa a soar fantasista e nos repele. Tanto nos faz uma chamada de atenção e nos volta a agarrar, como parece apenas mais do mesmo, e nos desprende.

Mas posso dizer que o final, esse ninguém está à espera. E vale mesmo a pena! É o final que nos conquista!

E, afinal, a "chave" estava mesmo no início.

 

Vi este livro pela primeira vez, num hipermercado.

Interessou-me, pus na minha lista, mas não comprei logo.

Desde então, tenho estado na dúvida se o havia de comprar, ou dar prioridade a outros.

Porque é diferente. 

Tem uma história diferente.

E poderia ser uma alternativa aos romances e thrillers do costume.

 

Tive oportunidade de lê-lo, ainda que em espanhol.

É de fácil leitura, e compreende-se bem, apesar disso.

 

O protagonista, outrora um pai que propôs um jogo aos seus filhos, actualmente um homem poderoso, que brincou com a vida de muitas pessoas, faz uma revelação bombástica, antes de se suicidar: a televisão é uma mentira!

Confesso que, a cada palavra do seu discurso, ia identificando os reality shows das nossas televisões, as manipulações, a forma como as coisas verdadeiramente funcionam e como nós, público, temos tão pouca, ou mesmo nenhuma, influência, apesar de nos venderem essa ideia.

A televisão, segundo ele, é uma mentira.

Uma mentira da qual dependemos e, por isso, ela não tem limites, e não há forma de pará-la. Porque nós vamos aceitando uma mentira atrás da outra, e uma maior que a outra.

E, ainda que nos digam, à descarada, que tudo é uma mentira, nós aceitamo-la na mesma.

Porque a adição, seja ela ao que for, incluindo a televisão, é uma fraqueza de que quem pode se aproveita, para dela fazer negócio, e lucrar.

No que respeita, especificamente, aos reality shows, e quando se questiona quem tem interesse em assistir a horas e horas da vida de outras pessoas, isoladas num determinado sítio, a resposta é simples: quem não tem vida própria!

 

"Terra" é um livro sobre verdades, e mentiras.

As mentiras que "compramos" no dia a dia, e as verdades que fingimos não ver.

 

É, também, um livro sobre impossíveis.

Sobre decisões que, uma vez tomadas, não podem ser revertidas.

Sobre arrependimentos.

Sobre o que se fez, e o que se deixou de fazer.

E como, por vezes, pagamos um preço alto por isso.

 

É uma história sobre jogos, desejos e promessas que são para cumprir.

É uma história sobre os humanos, a humanidade, e o nosso mundo.

E, no fundo, não é mais do que a história de um pai que, um dia, numa cabana, propôs um jogo aos seus filhos, em que, em troca de conseguirem levá-lo a cabo, com sucesso, ele prometia tudo fazer para concretizar o desejo de cada um.

 

Nem tudo correu da melhor forma.

Muito se passou desde esse dia, até ao momento em que este pai se mata, e o jogo retoma o ponto em que ficou para, desta vez, ser concluído de vez, e com sucesso.

 

Alan já viu o seu desejo concretizado.

Conseguirá Nellyne, agora, concretizar o seu?

A resposta, essa, está na "Terra"!

 

"Toda a Verdade", de Cara Hunter

500x.jpg

 

Há muitos anos, um homem foi julgado e condenado com base em provas "plantadas" para o incriminar.

Ele era, sem dúvida, culpado.

Mas, na falta de provas contra ele, e sob pena de ficar em liberdade e continuar a actuar, alguém tinha que o travar. E essa foi a forma.

Ele jurou vingança contra quem o tramou.

 

Agora que está em liberdade condicional, chegou a hora.

E ele vai pagar na mesma moeda.

Destruir a vida e carreira daquele que, um dia conspirou contra ele, incriminando-o com provas plantadas, que ninguém pode refutar.

A diferença é que, esta pessoa, está inocente.

 

Adam sabe quem o está a incriminar, e porquê.

Mas não parece haver muita gente a acreditar na sua teoria.

Conseguirá Alex, a sua mulher, grávida de risco, e principal responsável por esta situação, salvar o marido, e proteger o bebé que espera? 

 

Numa história paralela, uma professora é acusada de assédio sexual por um dos seus alunos.

Ela nega. Mas esconde alguma coisa.

Ele confirma. Mas esconde alguma coisa.

Onde termina a verdade, e começa a mentira?

Até onde são capazes de ir, para manter a sua versão da história?

 

"Toda a Verdade" é um livro que, de certa forma, encerra um capítulo, há muito, em aberto.

Um ponto final, e um recomeço para Adam e Alex.

Ao mesmo tempo, umas reticências para Marina.

Nós ficamos a saber a verdade mas, neste caso, os intervenientes safam-se sem grandes consequências, e sem que a realidade seja descoberta.

Mais uma vez, a autora entrega-nos uma boa história, que não queremos parar de ler até ao final.

 

 

A hipocrisia, o politicamente correcto, a frontalidade e a falta de respeito

4bf7c3b85e55f4848a71d27c03835119.png

 

Há quem diga que, hoje em dia, a hipocrisia se disfarça, e se protege, sob a prática do "politicamente correcto", para não ferir susceptibilidades e magoar aqueles a quem é dirigida.

Da mesma forma, há que diga que, hoje em dia, a frontalidade é, muitas vezes, confundida com o direito a uma certa agressividade ou, até, falta de respeito, para com aqueles a quem se quer transmitir a mensagem.

 

Na verdade, a linha que separa estes conceitos é muito ténue.

Uma pessoa hipócrita acaba por, de certa forma, faltar ao respeito ao não ser honesta. Mas nem sempre. Por vezes, a intenção é só mesmo não se chatear, e não magoar o próximo.

No mesmo sentido, ser frontal é uma forma de se ser verdadeiro para com o outro, acreditando que a mentira magoará mais, a longo prazo, que a verdade, naquele momento em que é dita. Mas, por vezes, a forma como essa verdade é dita também poderá constituir uma falta de respeito, se a pessoa a proferir com agressividade, com maldade, com intenção de ferir.

 

Ainda assim, é uma linha demasiado grande para que eles se misturem, se se souber separar as águas.

Ser hipócrita é fingir algo que não se sente. É agir propositadamente com falsidade. Por vezes, vem acompanhada de ironia, de gozo, de inveja. 

É, muitas vezes, um falso moralismo.

 

Ser politicamente correcto, é adoptar uma conduta que se assume como correta, mas que não corresponde ao que, de facto, as pessoas pensam ou fazem no seu dia a dia. Por vezes, e em determinados contextos e situações, é necessário adoptar essa postura, sem que isso magoe quem quer que seja.

É ajustar. Adaptar. Ao género do ditado "em Roma, sê romano".

É filtrar. Ocultar. Minimizar. Ao género da máxima "Se não tens nada de bom para dizer, está calado".

É, muitas vezes, querer agradar a gregos e a troianos. Não é por mal. É querer estar bem com todos. E que todos estejam bem consigo.

É querer, quando em grupo, e perante personalidades e características diferentes, manter uma certa harmonia, paz, tranquilidade.

 

Ser frontal é, no fundo, ser honesto.

Consigo. E com os outros.

É mostrar aquilo que se sente. Que se pensa.

É ser sincero. Sem necessidade de ofender.

Sem se sentir melindrado, por o fazer. Por não se saber qual será a reacção, do outro lado. Por não se saber se esse ponto de vista, ou opinião, será aceite, ou mal visto, perante os outros.

E se seremos recriminados por tal atitude.

 

Porque, se assim for, a tendência a ser politicamente correcto, será cada vez maior.

E, depois, cria-se a convicção de que vivemos num mundo cheio de hipocrisia.

Que, se calhar, até nem é mentira...

 

 

 

 

Em Troca de Um Coração, de Jodi Picoult

9789722626491_1594290164.jpg

 

Shay está no corredor da morte.

Claire, na lista de espera para transplante de coração.

Shay irá ser executado brevemente por injecção letal.

Claire, irá morrer brevemente, sem um coração novo que lhe prolongue a vida.

Shay quer doar o seu coração a Claire.

Claire prefere morrer, a aceitar "aquele" coração.

 

E o que tem a dizer June, a mãe de Claire? E de Elisabeth, a sua outra filha, que Shay assassinou a sangue frio, tal como ao seu marido?

Estará ela disposta a ignorar tudo isso, para salvar a filha que lhe resta? 

Pensará ela que é algo que ele lhe deve? Ou, pelo contrário, recusará o coração por não lhe querer satisfazer essa última vontade?

Conseguirá ela lidar com a filha, sabendo que dentro dela bate o coração de um assassino? Um assassino que lhe disse, na cara, quando ela lhe perguntou "porquê?", que "Foi melhor assim"?

Que a recordará a cada instante tudo aquilo que perdeu? Que lhe foi tirado?

 

Seja como for, a vontade de Shay não pode ser concretizada.

A injecção letal inviabiliza o coração. A não ser que...

E é, aí, que entra a advogada Maggie, disposta a tudo para arranjar uma solução para este caso, ao mesmo tempo que tenta lutar pela abolição da pena de morte.

Na verdade, não é isso que o seu, agora, cliente quer. Ele quer morrer, e doar o seu coração a Claire. Mas, se ela conseguir, de alguma forma, "tocar na ferida", talvez consiga mudar alguma coisa.

Já que não se consegue mudar, nem aceitar a si própria...

 

Depois, temos o padre Michael, que se torna conselheiro espiritual de Shay.

Michael foi, há onze anos, um dos jurados que votou a favor da pena de morte para Shay. Um dos últimos. E, em certa medida, por pressão. Para não ser o único do contra.

Será esta uma forma de se redimir perante Shay? De obter o seu perdão? De se perdoar a si próprio?

Michael é padre. Católico. Mas ainda tem muito para aprender. E para questionar.

Shay não tem religião. Mas parece saber mais sobre Deus e os seus mandamentos e vontades, que aqueles que melhor o deveriam conhecer. Só não tem respostas para as perguntas que lhe fazem, nem explicações para aquilo que ele próprio faz.

 

Será ele Jesus?

Será ele um profeta?

Ou será, apenas, um assassino?

Estará ele, agora, no fim da sua vida, a querer fazer o bem para expiar os seus pecados?

Ou ele sempre tentou fazer o bem?

 

Por vezes, a mentira pode ser a verdade. E a verdade pode ser a mentira. Ou ambas podem ser, simultaneamente, verdade e mentira. Depende do lado em que a olhamos...

Um pouco à semelhança dos palíndromos.

Se olharmos de uma perspectiva, vemos algo que, para nós, é verdade mas que, quem está do outro lado, não consegue ver dessa forma, e vice-versa.

Qual é a verdade, neste caso, e nesta história?

Seja aqui, ou em qualquer outra situação, a verdade é sempre, e só, uma. E conseguimo-la ver quando nos predispomos a isso,

Mas, de que servirá a verdade, se a decisão estiver tomada, e não houver forma de a evitar?

 

Este é um daqueles livros que, a determinado momento, pode tornar-se aborrecido para quem não é dado, como eu, a assuntos religiosos, que ocupam uma boa parte da narrativa. Ou a milagres. Ou a acontecimentos inexplicáveis que soam a fantasia a mais, numa história tão real.

Mas vale a pena chegar ao final porque é aí que se centram as maiores descobertas, e as maiores emoções. E é aí que começamos a questionar todo este mundo em, que vivemos...