Devaneios

Todos lhe diziam que deveria aproveitar a vida.
Viver cada dia como se fosse o último.
No entanto, os dias repetiam-se. Um após o outro.
Por semanas. Por meses.
As mesmas pessoas. Os mesmos lugares.
As mesmas responsabilidades e obrigações.
Começara, aos poucos, a perder o entusiasmo.
A garra. A inspiração.
Ansiava por algo novo.
Que lhe desse um novo alento.
Que lhe despertasse, novamente, o prazer pelas pequenas coisas.
Sabia que lhe faria bem uma mudança.
Sair dali. Nem que fosse por uns dias.
Sabia, também, que nunca o faria.
Eram, apenas, devaneios.
Pensamentos que lhe vinham à mente para fugir ao marasmo da sua vida.
Como quem se apresenta, de malas aviadas, na estação, mas limita-se ver o comboio partir, sem nunca entrar nele.
Quem sabe se na esperança de que, apenas por estar ali, algo mudasse.
E a magia acontecesse.
Talvez lhe bastasse a ilusão.
Talvez lhe faltasse a coragem.
Talvez ainda não fosse o momento.
Ou, talvez, já o tivesse deixado passar.
