Voltar atrás: coragem, ilusão, cobardia ou imaturidade?
É legítimo que alguém, depois de tomar uma determinada decisão, queira voltar atrás na mesma?
Sim.
Acredito que, enquanto humanos em constante evolução e aprendizagem, estamos sempre a tempo de mudar de ideias, de opinião, de voltar atrás numa decisão que, na altura, nos parecia a mais correcta mas, agora, parece apenas errada ou precipitada.
Visto assim parece, até, um acto de coragem. Alguém que não se deixa guiar pelo orgulho ferido, e tem a coragem de voltar atrás na sua decisão. Alguém que tem a coragem de assumir sentimentos, e de arriscar, ainda que o resultado não seja o esperado.
No entanto, e dependendo muito do contexto, e do momento, querer voltar atrás parece-me uma mera ilusão, a que as pessoas se querem agarrar.
Acreditar que se pode mudar o que nunca se mudou, até então.
Acreditar que se podem mudar feitios e personalidades, que fazem parte da pessoa.
Acreditar que podem ser felizes, anulando-se, e àquilo que, ainda há uns dias atrás, desejavam para a sua vida.
Ou, até, uma certa cobardia, quando acontece ainda antes de colocar em prática a dita decisão.
Talvez por medo de enfrentar as consequências da mesma.
Quando chega o "momento da verdade", assustam-se e recuam.
Com medo das responsabilidades, do trabalho, e do risco que essa decisão acarreta.
E isto, de alguma forma, não deixa de soar também a uma certa imaturidade, sobretudo emocional, para consigo mesmo, e para com os outros.
Porque tenho para mim, sempre com a legitimidade de voltar atrás, que há decisões sérias demais para se tomar de ânimo leve e, como tal, quando verbalizadas, e tomadas, devem ser decisões seguras e, realmente, sentidas.
E, até aceito que esse "voltar atrás" seja equacionado quando a decisão já está a ser posta em prática. Quando já se experienciou os dois lados da questão.
Porque já houve tempo para reflexão.
Agora, decidir algo em conjunto, aparentemente, ciente do que isso implicava e, sem que nada o fizesse prever, exprimir que, afinal, não é isso que quer, sem que nada tenha mudado?
Quando o outro já avançou, já se "formatou" e mentalizou para a nova realidade?
Quando o outro já considerava essa mudança certa?
De certa forma, parece que se anda a brincar.
Com as pessoas.
Com os sentimentos.
Com as relações.
Principalmente, quando a decisão, ainda que tomada em conjunto, foi puxada por aquele que agora volta atrás.
Sobretudo, quando já não é a primeira vez que o faz: voltar atrás nessa decisão que levou a ser tomada.
E se isto se torna sistema?
E se se começa a banalizar tanto uma decisão, que chega a um ponto que deixa de ser credível?