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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Um Conto de Natal felino

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Era véspera de Natal.

E, como todas as crianças, Julieta vibrava com esta época que, para ela, era especial.

Ainda acreditava no Pai Natal, na magia, no mistério.

Naquela manhã, no entanto, Julieta estava pensativa.

Talvez por estar a crescer. Ou a encarar as coisas com outros olhos.

E resolveu perguntar à sua mãe o que significava, para ela, o Natal.

A mãe respondeu-lhe que, no final daquele dia, lhe satisfaria a curiosidade, e lhe explicaria a resposta à sua pergunta.

Julieta, não muito satisfeita, questionou porque teria de esperar tanto tempo para a mãe lhe dar uma resposta tão simples.

Mas a mãe disse-lhe que, depois, veria por si mesma, o porquê da espera.

E assim passou, Julieta, o dia, ansiosa, curiosa, expectante sobre o que a sua mãe teria querido dizer com aquilo.

Por entre os preparativos para o jantar, ajeitar as prendas ao redor da árvore, e enviar e responder às típicas mensagens natalícias, de parentes, amigos e conhecidos. Por entre músicas e filmes alusivos à quadra, brincadeira e azáfama, chegou a tão aguardade noite.

E, com ela, o momento pelo qual Julieta tinha esperado.

A mãe chamou-a, para espreitar pela janela, e observar a cena que acontecia lá fora, no jardim: uma mãe gata, e o seu filhote, ambos sem dono, abandonados à sua sorte, na rua, tinham vindo fazer a sua ceia de Natal.

Julieta, encantada, exclamou: "Olha, mãe, é a vampirinha que costuma vir aqui todos os dias! E trouxe companhia!"

A mãe, então, explicou-lhe que assim era, porque Julieta, ao deixar todos os dias, uma tacinha com comida, e outra com água, no jardim, para quem precisasse, tinha feito com que aquela gata soubesse que ali poderia alimentar-se. E que, talvez, fosse seguro.

Por isso, naquela noite, a mãe gata, quem sabe querendo proporcionar, também ela, um Natal diferente ao seu filhote, achou que poderia levá-lo ali, e comerem os dois, juntinhos.

Ainda que sempre de olho em tudo ao seu redor, zelando pela segurança de ambos.

E, assim, a mãe de Julieta explicou, então, à mesma que, para si, aquilo era o verdadeiro significado do Natal.

Natal é isto:

É aquilo que podemos fazer, todos os dias, para melhorar a vida de alguém, seja animal ou humano. Pequenos gestos. Empatia. Bondade.

Dar um pouco de alegria e esperança, a quem precisa.

Dar um pouco de nós, aos que nos rodeiam.

Não soube se Julieta percebeu a mensagem ou não porque, entretanto, foram jantar, abrir as prendas e, mais tarde, dormir, sem que Julieta fizesse mais perguntas.

Mas quis acreditar que, percebendo ou não, a sua filha já punha em prática esse espírito.

E isso era o mais importante!

 

 

Em resposta ao desafio natalício da Isabel

O Natal são as pessoas com quem estás!

(Desafio Contos de Natal)

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Tita ficava sempre de mau humor nesta altura do ano.

Parecia que as pessoas eram contagiadas por algum vírus, que as fazia andar eufóricas e animadas mas, ao mesmo tempo, stressadas, numa correria desenfreada para enfeitar tudo, planear almoços e jantares, e comprar mil e uma prendas, para toda a gente e mais alguma porque, afinal, parecia mal não oferecer qualquer coisinha.

Mas que elas andassem assim, ainda compreendia. O que a irritava, era que a "obrigassem" também a sentir o mesmo.

Cruzes, credo, canhoto!

Ela queria era distância dessa maleita natalícia.

E foi, precisamente, para fugir dessa loucura temporária que Tita se refugiou, em plena véspera de Natal, na floresta. 

Ao passar por uma árvore, armada em Rainha Má da Branca de Neve, lembrou-se de lhe perguntar:

- Árvore minha, árvore minha, haverá alguém que goste menos do Natal do que eu?

Para sua surpresa, a árvore respondeu-lhe:

- Mas tu gostas do Natal!

- Ai isso é que não gosto! Alguma vez?

- Pois vou mostrar-te o contrário. Abraça-me.

- Eu? Abraçar uma árvore? Mas está tudo doido?! 

No entanto, lá fez o que a árvore lhe disse e, nesse instante, foi transportada para perto de uma cabana.

- Boa! O que faço agora?

Bateu à porta. Apareceu uma senhora idosa. Ao início, muito surpreendida com a visita mas, logo em seguida, animada.

- Ah, deve ser a menina que me vem ajudar com o jantar! Entre, entre.

E antes que Tita pudesse esclarecer o que quer que fosse, já estava a ser levada para a cozinha, e orientada para o que deveria fazer. Afinal, o tempo estava a passar e havia muita gente a contar com aquela refeição.

Não que fosse, propriamente, um menu diversificado ou abastado. Haveria uma sopa com muitos legumes e um pouco de carne, para aconchegar o estômago e aquecer o corpo gelado, acompanhada do pão caseiro que estava pronto a ir ao forno, e um bolo de frutas para sobremesa. 

- Se a senhora vive aqui sozinha, para quem é toda esta comida? 

- Ah menina... será para quem aparecer... 

- Mas está à espera de visitas?

- Nunca se sabe menina, nunca se sabe... 

E, dali a pouco, realmente, apareceu uma família que se tinha perdido na floresta. Um casal com dois filhos que, muito aborrecido, lamentava o incidente e o Natal estragado. Não por eles, claro, mas pelas crianças.

A senhora idosa virou-se para eles e garantiu que poderiam passar ali a noite, e que os miúdos se divertiriam, até porque havia um palhaço de serviço.

- Também está à espera de um palhaço?  - perguntou Tita.

- Já cá está! - respondeu a senhora idosa, apontando para Tita.

- Ah não, eu não...

Mas a senhora não a deixou terminar. Levou-a até ao sótão, pegou numas roupas que estavam guardadas na arca e entregou a Tita, para que se vestisse a preceito.

Enquanto isso, um forte nevão caiu e, não podendo voltar para casa, dois lenhadores acabaram por ficar ali na cabana também.

Ao pé da lareira, como não podia deixar de ser, os seus cães deitaram-se, a aproveitar o calor que dela emanava.

Tita não tinha muita habilidade com cães, mas ficou embevecida com aqueles dois meninos tão bem comportados, que só queriam mimos, e pareciam não a largar desde que a viram descer. 

À socapa, ainda lhes deu dois pedacinhos de carne, que eles agradeceram com uma dancinha à sua volta, e umas lambidelas. 

Tinha a senhora idosa acabado de chamar todos para a mesa, quando chegaram umas vizinhas desta, uma trazendo um licor, e a outra um pote de doce, que elas mesmas tinham feito, para oferecer à anfitriã que, agradecida, as convidou para a ceia.

E assim, por entre o aconchego, as conversas, a comida, e as palhaçadas de Tita, ajudada pelos seus escudeiros caninos, se passou a noite.

Muito diferente dos Natais que Tita costumava passar todos os anos. Até nem foi assim tão mau.

Esteve entretida. Sentiu-se útil. Ajudou a fazer alguém feliz.

Ali reinou a simplicidade. A humildade. A partilha. A entreajuda. A bondade. 

Pessoas estranhas, que o destino decidiu juntar naquela pequena cabana. Sabe-se lá porquê... Talvez para que olhassem de uma forma diferente para o Natal.

Tita fechou os olhos por um instante, absorvida por estes pensamentos, e pela gratidão que sentia, e lhe tinha sido retribuída.

Quando os abriu, estava de novo ao pé da misteriosa árvore que, sorrindo, lhe dizia:

- Então, ainda achas que não gostas do Natal?!

- Não é que não goste... É só que... Nunca tive um Natal como eu o imagino. É sempre a mesma coisa, e cada vez me desilude mais.

Ao que a árvore respondeu:

- Compreendo. Mas vou dar-te um conselho.

- Mais do que tradições ou perfeição, o Natal são as pessoas com quem estás!

- E é aquilo que tu quiseres fazer dele, e com ele!

 

Em resposta ao desafio da Isabel

Conto de Natal: A rena Toutou!

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Estava eu nas minhas "sete quintas", que é como quem diz, descansadinha da vida, quando aquela humana decide parar, e observar-nos.

A mim, e aos meus irmãos.

Ora pega num, ora pega noutro.

Mas quem é que ela pensa que é?!

Olha, agora! Está a olhar para mim...

Esperem. Está a pegar em mim. Está a pôr-me no cesto das compras.

Larga-me, humana malvada!

E vocês, aí parados, nada fazem? Não me ajudam? Não impedem este rapto em plena luz do dia?

Belos irmãos me saíram.

 

Agora estou mesmo fula.

Se essa humana pensa que pode fazer isso, e ainda espera que eu lhe dê alegrias, está muito enganada.

Vou amuar.

Não lhe vou dar conversa. Nem sequer vou olhar para ela.

 

Agora estou no quarto de outra humana.

Deu-me o nome de Toutou. La reina Toutou. Diz que agora sou irmã daquela outra que ali está.

Eu, uma rena, irmã de uma vaca!

Onde é que isto já se viu!

E que originalidade: àquela outra, chamaram-na de Moumou!

Para o que uma rena está guardada.

 

A culpa é do meu padrinho Nicolau.

Meteu na cabeça que nós, as renas mais novas, temos uma missão diferente a cumprir nesta época.

E ainda tem a lata de nos dizer que, se formos escolhidas, é porque somos especiais.

 

Olhem bem para mim!

Eu, especial? 

Com estes olhos tortos? Com estas orelhas enormes, e estes pés defeituosos?

Pois... Enganem-me, que eu gosto.

 

Mas, dizia eu, o meu padrinho diz que a nossa presença na casa dos humanos lhes leva de volta um pouco da magia perdida do Natal. 

Magia...

Magia vivemos nós na Lapónia.

Quando começa a azáfama das listas de presentes. Que, diga-se de passagem, são cada vez maiores, e mais exigentes.

Quando a fábrica abre portas, e as máquinas começam a trabalhar.

Quando a neve começa a cair.

Quando começamos a treinar para estarmos em forma, e dar a volta ao mundo, a puxar o trenó.

 

Ah, pois... Já me esquecia. Isso está reservado às renas-mor!

Estão mais para a idade da reforma, mas enfim.

Deviam era dar o lugar às novas gerações.

Mas o padrinho confia tanto nelas, que hão-de ter 80 anos, e ainda é vê-las andar por aí.

 

O Natal já não é o que era, é o que vos digo!

O mundo está louco. De pantanas.

E agora, inventaram isto de servirmos de enfeite durante a época. Para depois nos encafuarem num caixote qualquer.

Juntamente com os restantes.

Se isso é ser especial...

 

Mas olhem, aqui que ninguém nos ouve: até nem se está mal nesta casa.

Estou aqui sentadinha, sem me cansar.

O quarto é quentinho.

E até já travei amizade com duas felinas, que me disseram que os humanos são gente boa, que gostam de animais, e que as tratam como rainhas.

Nem tudo está perdido.

Mas, para todos os efeitos, ainda estou furibunda, e vou continuar a fazer cara feia.

 

E não se riam!

Porque isto é muito sério.

 

Mas, perguntam vocês: como é que é suposto as renas devolverem essa magia?

Pois não sei. Não faço ideia.

Não trago pozinhos mágicos no barrete.

E sou desastrada a fazer truques.

O único que consegui até agora foi cruzar as pernas!

 

Mas o padrinho diz que a verdadeira magia é a família estar junta, unida, e cuidarem uns dos outros.

Ainda que não haja árvore de Natal.

Ainda que não haja luzes.

Ainda que não haja presentes.

Ainda que não haja muito o que repartir.

 

Havendo amor, haverá magia.

E se uma simples rena, como eu, fizer parte dessa família, e desse amor, então a missão estará cumprida!

Desejem-me sorte!

 

(E, só entre nós, já não estou a fazer cara feia!)

 

Em resposta ao desafio

da Isabel

foi isto que me saiu, para fugir um pouco à lamechice e aquelas mensagens clichê,

mas com um toque e espírito natalício